XVI IR

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Eu não sei o que fazer, são 12:00 e eu ainda não saí do quarto, não paro de pensar no que o Marcelo disse ontem, depois que surtei.

Ontem ele gritou, chorou e me mostrou uma tatuagem no braço, era um ponto e uma vírgula.
Eu nunca tinha percebido por ele nunca usar regatas, e por nunca prestar atenção nele.

"Está vendo isso? Aiko.

Eu fiz isso quando fui embora de você, estava completamente louco, fora de mim, não sabia como lidar sendo um homem tão imaturo, fiquei vagueando por uns três meses, apanhei e bebi até ser carregado na rua. Pedi para tatuarem o ponto porque seria o meu fim, sua avó Elsy me levou para casa dela, porque eu não tinha mais uma, então. Filha. Não me disse que eu simplesmente larguei você. Porque na verdade eu larguei a minha vida".

Ele virou as costas e haviam muitas cicatrizes, muitas.

"Meu pai deixou isso, e a dor emocional foi muito maior que a física, cresci com as palavras de que eu seria fracassado, o pior pai quando tivesse filhos, fiquei com tanto medo de um dia, reproduzir em você o que ele foi para mim. Na minha cabeça, ir embora iria proteger você.
Infelizmente, demorei demais para pensar diferente, e quando tentei voltar, sua mãe me aceitou nos primeiros dias. Até ver que a vida dela não fazia mais sentido comigo. Quando o Lucas nasceu, eu tatuei uma vírgula, estava disposto a cuidar de vocês, pedi inúmeras vezes para sua mãe deixar eu ir buscá-los, até ela me dizer que estava doente, e não tinha mais tempo. O tempo sempre foi muito cruel, Aiko.
E agora que tenho aprendido a lidar com ele. Não era um ponto final para mim, era um ciclo fechando, e um novo começo. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Eu derrubei todas as lágrimas possíveis pensando em você.
Eu nunca quis te machucar, filha.
Eu estive perdido. Me perdoe."

Pela primeira vez eu chorei no colo do meu pai. E pela segunda vez, me senti filha.

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