Capítulo 11 - As Máscaras Que Escolhemos Usar

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     A noite estava terrivelmente fria, Londres era na maior parte do tempo assim, Rose já havia se habituado a muito tempo aquilo, no entanto, naquela noite enquanto os braços de Scorpius circulavam sua cintura e seus olhos fixavam-se sob o céu escuro acima deles, ela percebeu que não era apenas a noite que estava fria, tudo nela parecia um bloco de gelo, 
impossível de derreter, nem mesmo a respiração quente de Scorpius em seu pescoço era capaz, nem mesmo o sentimento oculto e bem escondido em suas estranhas era capaz, nada parecia ser o suficiente para aquecer o seu coração. 

      Não se tratava apenas do luto, doía demais ter perdido Fleur de forma tão repentina, mas doía ainda mais notar o quanto sempre fugia de seus próprios demônios.

     Fazia bastante tempo que James tentava incansavelmente fazê-la enxergar o quanto ela mesma se limitava, se restringia e se afastava de sua família e de qualquer pessoa que tentava inutilmente se aproximar. 
A prova estava exatamente ali, ao seu lado, pela primeira vez na vida ela havia experimentado daquele tipo de sensação, aquelas sensações que os autores costumavam descrever ao narrar as cenas românticas de um livro, com direito a borboletas no estômago, mãos suadas e corpo trêmulo, ela sentia tudo isso numa intensidade assustadora toda vez que estava com ele e, mesmo assim, escolheu não ser inteira.
Preferiu a incerteza, ao frágil, a insegurança.

      Talvez porque sabia reconhecer o quão destrutiva aquela relação poderia ser para ela... Para ele... 
No entanto, mesmo assim permitia-se estar ali, se deixou deseja-lo... aceitou de bom grado o consolo, o carinho, o anseio e o sentimento que ele lhe dedicava mesmo que silenciosamente.

      E por mais difícil que fosse admitir, ela sabia que não duraria muito tempo, Scorpius era o tipo de garoto que merecia mais, merecia uma garota inteira que estivesse disposta a enfrentar o mundo ao seu lado de queixo erguido e o orgulho intacto.

      Ela nunca seria aquele tipo de pessoa. Era covarde, tinha tantos medos encobertos por um extensa camada de orgulho misturado ao desespero e o desejo de ser aceita primeiramente por si mesma.

A quem ela queria enganar? Já havia contado tantas mentiras para si mesma que sentia-se farta de todas aquelas mentiras deslavadas.

Não conseguia aceitar sua essência. Não conseguia suportar o fato de não ser como Dominique, ou como James. 
Filhos perfeitos, seres humanos melhores.

Ela era egoísta. Fria. Indiferente.

Tão egoísta que sentiu-se aliviada por ser sua tia no lugar de sua mãe, qualquer pessoa essencialmente boa nunca se permitiria pensar assim não é?

Ela não era boa. Ela não merecia Scorpius. Ela não merecia nada além de si mesma. Não se deu conta quando os soluções começaram e nem notou quanto tempo eles duraram, mais percebeu em cada beijo que Scorpius dava em seu ombro o afeto e cuidado que ele estava lhe dedicando... Ele não havia lhe questionado. 
Ele não havia pedido pra ela parar, ele havia presenciado silenciosamente Rose se desmontar em sentimentos sufocados e intensos e se refazer lentamente enquanto a claridade surgia lentamente entre as nuvens espessas do céu.

E mesmo quando precisaram retornar aos seus dormitórios para se organizarem para as próximas aulas, ele não a questionou, apenas selou os lábios frios e sorriu tentando reconforta-la de alguma forma.

— Você deveria dormir, Minerva não vai se importar se você ficar no dormitório hoje. — Rose assentiu brevemente antes de soltar a mão quente dele e subir as escadas para seu dormitório.

Estava tão perdida em si mesma que aceitou de bom grado seu conselho, assim que chegou ao dormitório vazio apagou todas as luzes e fechou a janela, mergulhando na penumbra do quarto semi-iluminado pela luz insistente do dia frio, enquanto permitia seu corpo sucumbir ao cansaço e as dores que a atingiam em diversos pontos diferentes.

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