Capítulo 15

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Eu sentia a Vitória tensa o tempo inteiro dentro do carro. Eu não estava nada confortável também e me sentia exausta de ter passado a noite no hospital e esgotada mentalmente. A Vitória tem um comportamento típico de quando está nervosa: ela morde a articulação do polegar enquanto ele está dobrado, com a mão cerrada em punho. E era exatamente dessa maneira que ela estava. Levava cerca de 20 minutos da minha casa para a casa da Vitória, entretanto hoje estava com trânsito, então levaria mais tempo, o que não colaborava em nada com minha ansiedade e tampouco com o nervosismo dela. Decidi então tomar uma atitude que fizesse com que as coisas melhorasse.

- Vem cá – falo, passando o braço ao redor dela e puxando-a para mim, para que recostasse o corpo sobre o meu.

Ela aceita o convite corporal e se aconchega, enterrando o rosto no meu pescoço, deixando apenas o nariz e a boca sem contato.

Olho pelo retrovisor do carro, o motorista não pareceu se incomodar com a ação. Seguimos caminho e, enquanto isso, eu afagava, com a mão espalmada, as costas da Vitória. Eu conseguia sentir seu coração acelerado, conseguia sentir seu corpo quase trêmulo, sua respiração falhada e acelerada. Com a mão que estava sobre meu colo, eu pego a mão dela e entrelaço nossos dedos. Eu queria tirar essa agonia do peito dela, mas eu mal sabia administrar a minha confusão.

Comecei a cantarolar, de boca fechada, apenas com o fundo da garganta, Who knew. Sinto-a sorrir, porque ela sempre solta um pouco de ar pelo nariz quando o faz, quase como se tentasse expulsar o sorriso pelas narinas. Chegava a ser fofo. Ela aperta um pouco mais a minha mão e se ajeita sobre meu corpo.

- Eu te amo! – fala ela.

Abraço-a com um pouco mais de força, trazendo-a cada vez mais para perto do meu corpo.

- Se você me apertar mais, eu entro na sua pele. – fala

- Vai te catar! – respondo.

Continuamos a viagem até a casa dela. O trânsito realmente estava impossível, deixando-nos praticamente parados em uma avenida.

- Moço, seu som tem conexão bluetooth? – pergunto, na esperança que tivesse.

- Sim. Quer colocar algo? – ele pergunta

Ele era um cara forte, alto, fazendo com que sua cabeça quase encostasse no teto do carro, voz grave e rouca. Seus olhos estavam escuros, devido à baixa luz e à dilatação das pupilas.

Antes que eu respondesse, ele ligou o som e disse que tudo bem conectar. Levaríamos cerca de 40 minutos para conseguirmos sair daquele engarrafamento e chegarmos na casa da Vitória, então tínhamos tempo.

- Obrigada! – agradeço, em educação pela gentileza.

Abro meu Spotify e passeio meus olhos sobre a tela, procurando alguma playlist que fosse acalmar a Vitória e diminuir o estresse pelo engarrafamento. Resolvo colocar a que escuto para dormir. Tem várias músicas que eu e a Vitória gostamos em comum e não é agitada. Disse para o moço do uber ambientar o volume da maneira como ele preferisse e assim ele o fez. Aumentou o volume mas sem deixar alto de maneira que causasse dores de cabeça depois.

- Assim está melhor? – pergunto para a Vitória.

Ela responde me dando um beijo no rosto e voltando a afundar os olhos no meu pescoço. Encaro isso como um sim, sorrio e me ajeito no banco do carro.

[...]

Chegamos na casa da Vitória e, ao descermos do carro, pergunto se ela tem certeza de que quer se assumir hoje, agora.

Querida Vitória [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora