Capítulo 7

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Após entrarmos e subirmos para meu quarto, Vitória deixou a mochila cair ao chão e sentou-se à cama comigo.

- Mas então, por que não foi para a aula hoje? - Ela pergunta, me fitando bem com os olhos, me analisando.

- Bom... Eu... hã...

- Fala logo! - fala ela com um tom leve, para me passar confiança.

- Ontem, no uber... bom... enfim; eu tive uma crise de ansiedade e eu sei que foi pelo que aconteceu lá na sua casa. Não por termos nos beij... bom, você sabe; mas porque isso implica em uma série de consequências negativas, como a reação da minha família ao descobrir, por exemplo.

- SUA FAMÍLIA DESCOBRIU? - pergunta ela, quase gritando.

- NÃO! Fala baixo. - Respondo, aflita com a possibilidade de alguém ter ouvido.

- Ah... okay. Desculpa. Mas como se deu essa crise? - pergunta ela, claramente preocupada.

Eu expliquei como havia ocorrido, em que eu estava pensando e, enquanto isso, ela me ouvia com atenção, segurando minhas mãos como forma de demonstrar que estava ali e que tudo ficaria bem. Por vezes ela acenava a cabeça positivamente, para mostrar que ainda estava me ouvindo e que estava prestando atenção a tudo, aos detalhes.

Vitória sabia me ouvir. Ela sabia me entender e sabia como proceder em maioria dos casos e isso era incrível: ter umas pessoa que sabe te ler, que sabe te ouvir e sabe reagir de acordo. É algo a se guardar.

- Você acha melhor que nos afastemos? Não sei... de repente, colocar as coisas nos seus devidos lugares. - sugeriu ela.

- Não acho que vá ser produtivo, vida. Eu não consigo ficar longe de você ou sequer parar de pensar em você. - afirmei.

Ela assentiu e me abraçou. Foi um abraço longo, apertado.

Vitória cheirava nessa noite a algum perfume desconhecido por mim. Não era nenhum dos dela que eu já havia sentido. Mas era muito bom. Assemelha-se a tons cítricos doces. Eu também conseguia sentir seu coração batendo. Era rítmico, forte e preciso. Não estava agitado e desgovernado como o meu, nesse momento.

Ao separarmos o abraço, ficamos com os rostos frente a frente perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração em minha face. Olho no olho. O olhar dela estava firme e a sensação era de que ela conseguia ver minha alma tão bem quanto o próprio Deus. Olhei para sua boca que era muito bem desenhada, rosa e média. Voltei a olhar para seus olhos e percebi que ela estava olhando também para meus lábios. Não sei por quanto tempo prosseguimos assim, mas eu poderia passar o resto do infinito assim com ela. Antes que eu percebesse qualquer movimento, por estar hipnotizada pela beleza dela, senti seu toque em meu rosto. Era suave, quase tímido. Suas mãos estavam úmidas, o que indicava que ela estava nervosa, o que era até que engraçado.

Seus lábios se curvaram minimamente em um sorriso e ela me sussurrou:

- Você confia em mim, Vênus?

- Com a minha alma, Vitória!

A partir de minha resposta, ela aproximou-se do meu rosto. Senti seus lábios quentes nos meus. Um beijo leve, quase sem toque algum. Antes que eu pudesse pensar em beija-la como ocorrera antes, ela afastou-se de meus lábios e beijou minha testa. Abaixou a cabeça e sorriu. Nesse momento, coloquei o indicador sob seu queixo e sugeri que ela levantasse a cabeça de volta. Ao levantar, beijei-a. beijei-a com vontade. Beijei-a como se eu não fosse acordar viva no próximo dia. Beijei-a com todo o sentimento que havia em mim.

Lábios nos meus lábios, língua em movimento com a minha língua, mãos em meu corpo tão qual no corpo dela. Nos beijamos como nunca havíamos nos beijado antes. Estremeci quando senti sua mão descer por meu tórax, perdi completamente o ar quando ela começou a beijar meu pescoço, ainda com a mão deslizando por meu corpo; soltando pequenos gemidos em meu ouvido, baixinho o suficiente para que eu só ouvisse quando seus lábios estivessem quase colados às minhas orelhas. Sinto ela mexendo no cós do meu short e abrindo os botões e zíper. Meu coração acelera e sinto que estou completamente molhada. Perco ainda mais o ar com a possibilidade do seu toque, sinto aquele famoso frio na barriga e ela volta a beijar meus lábios com mais determinação dessa vez. Mas, para quebra de expectativas, ela não me toca onde eu gostaria que tocasse. Ela sobe a mão de volta por minha barriga e segura firme em minha cintura.

- Aprendi direitinho? -Sussurra ela, claramente referindo-se ao dia em que fiquei 7 minutos no céu com o Thiago.

- você acha que não!? - Respondo, sorrindo.

Ela também sorri e senta ao meu lado, claramente dando um encerramento ao momento em que estávamos.

- Vai, escolhe algum filme ai. Não queremos que sua mãe entre no quarto e nos pegue assim. Ou vai? - Brinca ela.

- Idiota. - Falei e levantei, fechando o zíper do meu short.

- Vai ser nosso segredo e apenas nosso, okay? - Tranquiliza ela.

- Okay! - respondo, voltando e dando-lhe um selinho.

Como não tínhamos aula no dia seguinte por estarmos numa sexta-feira, não era problema dormirmos tarde. Então assistimos filmes até a madrugada, quando ficamos cansadas demais e dormimos por exaustão com a televisão ligada. Isso não deixou minha mãe muito contente: dormir com a TV ligada. Ela nos acordou estando bem irritada, na verdade.

- Não são vocês que pagam a conta de luz, por isso ficam até altas horas com esses troços ligados. - disse.

Eu e a Vitória rimos quando ela se retirou do cômodo e fomos tomar banho.

Enquanto eu tomava banho, ela estava sentada na privada me contando sobre como o Zeus correu atrás de uma galinha recentemente. Era incomum galinhas soltas na cidade, mas porventura ocorrera bem no quintal da Vitória, onde o zeus passa maior parte do tempo explorando. Na vez dela tomar banho, também fiquei sentada na privada, porém foi ela quem continuou puxando todos os diálogos. Eu estava exausta e fico um cacto quando estou assim: imóvel o máximo possível e com espinhos para ninguém aproximar-se.

Quando a Vitória saiu do box, ela ainda não estava coberta com a toalha, pois estava terminando de secar os cabelos. Eu não me contive em olhar para cada detalhe de seu corpo: seus seios perfeitamente no lugar, bem desenhados, redondos e firmes; seus quadris largos, contrastando com a cintura que é fina; seu abdômen bem definido, com músculos à mostra; pernas torneadas, mostrando seus quadríceps bem desenhados; enfim.

- VÊNUS! - Fala ela, tímida com meus olhares indiscretos.

- Ãn? Quê? - Me fiz de sonsa.

- O que acha? - perguntou ela, ao que parece, pela segunda vez.

- Do que? - Perguntei, claramente sem estar situada.

- Tocarmos violão, cantarmos, fazermos um karaokê. - Responde ela, me parecendo irritada por não ter dado atenção ao que falava por estar completamente hipnotizada por seu corpo.

- Ah! Perfeito. Vamos! - respondi, olhando de volta para seu corpo, porém para irrita-la propositalmente desta vez.

- Vênus! - recrimina, cobrindo-se com a toalha e dando um tapa em minha cabeça.

Começo a rir com a situação e simulo estar enxugando saliva que estaria escorrendo pelo canto de minha boca.

- Você parece um garoto na altura da puberdade, sabia? - fala ela, ainda irritada, porém se divertindo com a situação.

E tudo o que fizemos aquele dia foi tocar violão, cantar, assistir à filmes e falar sobre coisas da escola. Nada além disso. Nem um beijo simples. Nem um encontro de mãos. Nada. Apenas como nos velhos tempos: conversas, risadas, cantorias. Estava perfeito. Nossa amizade não havia de ser estragada por um sentimento novo em ascensão.

No dia seguinte levei-a para a praia onde bebemos algumas cervejas, jogamos vôlei e nadamos o dia inteiro. Ao fim da tarde, ela voltou para casa dela e eu fiquei na minha, onde todo o ambiente me fazia lembrar daquele momento incrível e novo que foi quando nos beijamos.

Querida Vitória [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora