Capítulo 20

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Deixo o garfo cair de minha mão e ouço o tilintar quando bate no prato e cai ao chão, provocando ruídos metálicos até que pare de movimentar-se. Sinto minha boca entreaberta devido ao ar frio que inunda quando respiro. Meu coração perde compasso e se torna desesperado, bombeando como se eu estivesse frente à um leão faminto. A sensação de pânico era real e crescente em meu peito. O ar se torna dificulto em ser inalado e não se tratava apenas da dor que eu ainda sentia do dia anterior, tratava-se de medo.

- Qualquer informação que vocês tenham sobre o paradeiro dele, liguem para esse número. – fala o policial, entregando um pequeno cartão para a Vitória.

- Obrigada! – responde a Vitória, com a voz falha.

O policial faz uma leve reverencia com a cabeça e dá as costas, indo embora. A vitória fecha a porta devagar, ela estava tensa. Trazia o cartão em sua mão quando caminhou em minha direção. Eu estava sentada, ainda incrédula e de boca entreaberta, olhando para a Vitória, deixando o pânico exposto em minhas reações.

- Vai ficar tudo bem, vida. Vamos acreditar no esforço dos policiais, okay? – ela tenta me tranquilizar.

Ela senta-se ao meu lado, deixando a respiração sair de uma vez por seu nariz enquanto deixa o corpo repousar sobre o banco. Prostra-se sobre a bancada, com os cotovelos servindo de apoio e encara o cartão, pensativa, com o olhar distante.

Ouço a porta abrir e volto meu olhar para ela.

Era o pai da Vitória. Ele estava de uniforme, ofegante. Havia suor escorrendo por sua testa e marcas molhadas debaixo dos braços e no peito.

- Vocês estão bem? – pergunta ele, em tom frenético.

- Sim. Acabamos de receber um policial que nos deu a notícia. – fala a Vitória, finalmente tirando seu olhar do cartãozinho.

- Estamos fechando as entradas e saídas da cidade com viaturas e alertamos as cidades vizinhas. Vamos encontra-lo, okay? – fala ele, ainda ofegante em frente à porta aberta. – Deixem as portas fechadas com chave e liguem imediatamente se ele aparecer nas redondezas. – continua, instruindo-nos.

- Okay, pai!

- Okay, tio!

Ele vem em nossa direção e deposita um beijo no topo de nossas cabeças antes de sair novamente, fechando a porta e trancando-nos ali, sozinhas.

Eu e a Vitória nos entreolhamos por um período. As pupilas dela estavam dilatadas, tomando conta de seus olhos castanho-esverdeado. Sinto sua mão fria quando ela a colocou em minha perna e consigo ver a movimentação de sua blusa com as batidas fortes de seu coração. Ela estava assustada.

- Quer ir pro quarto? – ela me sugere.

- Claro. – falo, já levantando do banco.

Recolhemos os pratos, jogando fora o resto de comida e colocamos na pia, para serem lavados mais tarde. Seguimos andando a passos lentos para o quarto.

Tinha um copo de água na cabeceira da cama junto com os comprimidos recomendados. Tomo um analgésico e um anti-inflamatório e deito. A Vitória deita ao meu lado, virada de lado, apoiando a cabeça com uma das mãos, usando o cotovelo de apoio e com a outra, me faz carinho no rosto. A mão dela era delicada, suave, me causava leves arrepios por onde passeava.

- Você vai ficar bem, meu amor! – ela sussurra, esboçando um leve sorriso rápido.

- Não tenho tanta certeza disso, vida. – respondo, melancólica

- Pois eu tenho. E eu vou estar aqui do seu lado em exatamente todos os momentos de sua vida até você enjoar da minha cara quadrada.

- Eu não vou enjoar da sua cara quadrada. – falo, me permitindo sorri – vem cá.

Querida Vitória [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora