Capítulo 18

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Aviso: este capítulo contém cenas fortes de violência descrita

Já faziam alguns dias que eu estava na Vitória e eu sei que, mais cedo ou mais tarde, eu precisaria enfrentar meus pais, conversar e colocar as cartas sobre a mesa.

Era cedo, o sol ainda estava frio, a Vitória ainda dormia ao meu lado, com uma das pernas jogadas por cima de mim.

Com cautela, afasto a perna dela, me dando mobilidade, e levanto. Visto um roupão fino, quase de seda, vou até a cozinha, preparo café na cafeteira, o suficiente para todo mundo e me sirvo com uma xícara. Abro a porta do quintal, onde o Zeus estava dormindo. Ao som dos meus pés no gramado, ele levanta uma das orelhas, fareja, ainda de olhos fechado e levanta a cabeça, onde só então se permitiu abrir os olhos. Ao ver que se tratava de mim, ele levanta, estica a coluna e vem em minha direção, sonolento, com os passos pesados e o rabo abanando lentamente.

Ele se aproxima o suficiente para encostar com o focinho em minha perna, dá meia volta com o corpo e deita, pesadamente, quase arfando sua preguiça.

Solto um sorrisinho e fico de cócoras com o intuito de fazer carinho nele. Ele é dócil e adora qualquer tipo de contato humano. Ao meu toque, ele deita com a barriga pra cima, abrindo as pernas traseiras, indicando que quer carinho na barriga. Deixo o riso escapar mais uma vez por toda a cena que ele faz por carinho e beberico um pouco do café.

O café estava quente, sinto minhas papilas gustativas desesperadas pelo calor. Estava forte, com pouco açúcar, exatamente como eu gosto.

Me permito olhar para a rua, enquanto ainda faço carinho no Zeus. Estava deserta, com três ou quatro carros na frente das casas. Todos fechados, travados. As casas naquele bairro eram bem estilo americanas, gramado à frente, garagem que era usada para guardar qualquer tipo de tralha, 1 ou 2 andares, sem cercas de proteção na frente, apenas dos lados, para delimitar terreno com vizinhos. Era um bairro bem bonito e nobre da capital.

- Como eles ainda te deixam no quintal? Você não protege, olha só! – falo em direção ao Zeus, fazendo carinho na barriga dele. – Se vier alguém pra roubar a casa, você vai querer carinho do assaltante. Vai nem pensar em morder. – continuo, sorrindo.

Ele me olha, confuso e logo se entrega ao carinho novamente, coçando as costas no gramado, com a boca aberta e a língua pendurada para fora. O rabo já abanava com um pouco mais de força, fazendo o gramado soltar um cheiro adocicado. Chovera durante a noite, as plantas estavam regadas ao solo, tão qual o gramado. Eu ainda conseguia senti-lo molhado entre meus dedos e sob meus pés.

Beberico mais um pouco do café, ainda quente. Deixo descer por minha garganta até chegar em meu estômago. Respiro fundo, sentindo o ar frio da manhã inundar meus pulmões.

Vejo uma senhorinha, duas casas à direita, na rua da frente, sair pela porta de sua casa com uma mangueira verde, comprida.

- O que ela vai aguar? Choveu de noite. – falo, baixo o suficiente para que só eu e o Zeus ouvíssemos. – creio que faça parte da rotina dela

Imagino como deve ser a rotina dessa senhorinha:

Acorda, toma um copo de café, sai para aguar o jardim, volta para dentro de casa onde faz o almoço, assiste e tricota a tarde toda, faz a janta e volta a dormir. Não me parece muito agitada, a vida dela.

Ela era baixinha, gordinha, cabelo cortado baixo e todos os fios eram brancos. Usava um óculos redondo, estava com um xale cor mostarda e uma saia longa preta.

- Quem, além dela, será que ainda usa xale, Zeus? – olho para ele agora, que ainda estava em êxtase com o carinho. – O que você acha que devo fazer, amigão? Devo voltar pra casa e enfrentar tudo de uma vez, ou continuo fugindo? Eu, sinceramente, não sei o que fazer. – continuo.

Querida Vitória [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora