Capítulo 24

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- Eu te amo!

- Eu também te amo!

Acordo desesperada, com o coração a mil e puxando o ar com toda força que tenho nos pulmões e diafragma. Permaneço ofegante até que eu compreenda onde estou. A sala é branca, com os cantos das paredes arredondados. Tem uma máscara de oxigênio sobre meu rosto e agulhas em minhas veias, ligando-me ao soro que se encontrava pendurado em uma haste de metal. O gotejar dele estava rítmico. Permito-me passear os olhos com calma sobre o ambiente. Avisto uma cadeira com lençóis à minha esquerda, o que significa que alguém estava comigo. Olho para o outro lado e vejo a Vitória desacordada ainda. Vê-la hospitalizada me dói o coração, mas ao mesmo tempo sinto uma ponta de alívio, pois significa que estava viva. Consigo enxergar o monitor de checagem de batimentos dela, estavam constantes e seu coração marcava 70 batimentos por minuto. Isso me acalma. Seu coração estava saudável e dentro dos limites considerados normais.

Sinto-me sonolenta e fraca. Consigo raciocinar que, possivelmente, quem está no quarto conosco é a mãe da Vitória. Quanto tempo será que fiquei desmaiada? Devo ter sofrido alguma concussão. Sinto algo em minha vulva, mas não especificamente em minha vagina. Penso ser uma sonda para captar minha urina. Minha boca está seca, minha garganta dói quando tento falar algo. Respirar não é difícil, já que a máscara joga oxigênio o tempo todo para meus pulmões.

Aos poucos sinto dores pelo corpo e ardências sobre locais específicos da pele. Devo ter me ferido durante o acidente com algum vestígio de vidro dos para-brisas. Eu não estava bêbada, mas o carro que bateu em nós devia estar. Ou era algum tipo de suicida.

Movimento um pouco minha mão, a fim de dar mobilidade à meus tendões e músculos do antebraço e sinto um tipo de controle pequeno. Permito-me olhar para ele enquanto seguro-o entre meus dedos. Havia um grande botão cinza, que eu aperto. Passaram-se apenas alguns minutos, foi o suficiente para que viesse uma enfermeira me checar.

Ainda me sinto zonza e fraca. Como será que estavam me alimentando? Não sinto nada em minha garganta, não havia traqueostomia. Ótimo, assim não perco a voz e nem ganho uma cicatriz bem exposta em minha garganta. A Enfermeira aproxima-se e, com um movimento suave, passa uma de suas mãos por baixo de meu pescoço, fazendo-me levantar o suficiente para que ela ajeitasse meus travesseiros. Ela pega uma lanterna com o ponto focal menor e me pede para não olhar diretamente para a luz. Conheço o procedimento. Ela aponta para um de meus olhos, está checando dilatação e contração de minhas pupilas. Após checar um, ela segue para o outro e repete o procedimento. Aponta a luz e retira em seguida. Aponta e retira.

- Eu vou tirar sua máscara, se sentir dificuldades em respirar, coloco novamente. – ela me alerta.

Após meu sinal positivo, ela retira a máscara de meu rosto. Sinto meus pulmões se esforçando um pouco mais para trabalhar, tentando captar a mesma quantidade de oxigênio de antes. Após uma leve asfixia conveniente, dou um pequeno aceno de cabeça, indicando que consigo respirar bem. Ajeito-me sobre o acolchoado da maca e me ponho sentada, com cuidado o suficiente para não desmaiar e nem arrancar as agulhas de meus braços.

- Há quanto tempo fiquei desacordada? – pergunto, arfando um pouco por sentir meu corpo pesado.

- Uma semana. – a enfermeira me responde.

- UMA SEMANA? – elevo a voz, surpresa com o quanto fiquei fora de mim.

Ela me lança um olhar que assemelha-se a ternura.

- Vou retirar o cateter da urina. Tudo bem por você? – ela pergunta, já calçando luvas em suas mãos.

Paro para prestar atenção nela, em como ela era esguia. Tinha os cabelos presos em rabo de cavalo e pequenas mechas escapavam em seu rosto. Vestia um uniforme azul claro e um jaleco por cima, com os botões abertos.

Querida Vitória [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora