Eu e a Vitória nos entreolhamos, confusas, então a Vitória começou:
- Não sei bem quando tudo começou, em relação aos sentimentos, mas começaram com flertes bobos que evoluíram para beijos e estamos aqui.
Beberico um pouco do vinho, sinto o sabor inundar minha boca, lavando minha língua e chegando ao fundo da garganta, onde sinto o teor do álcool presente. Engulo, repouso a taça sobre a mesa e ajeito a postura, ficando com os braços prostrados.
- Eu não quero a versão reduzida. – Fala a mãe da Vitória, séria demais para que pudéssemos relaxar. Ela também bebe do vinho de sua taça, porém um gole maior que o meu. – Vênus, me conte você como tudo começou. Quero detalhes, desde o início até o presente momento. Exatamente tudo. Me poupe de detalhes de sexo, caso tenha acontecido. – continua, incisiva.
Eu olho de relance para a Vitória, que faz sinal positivo com a cabeça, indicando que posso obedecer à mãe dela.
Eu conto como tudo aconteceu e inclusive que eu estava apaixonada desde antes desses flertes começarem a acontecer. Conto da casa do Thiago com cuidado na voz, devido ao ocorrido entre ele e a Vitória, falo sobre a escola e nossa viagem, até o que ocorrera com meus pais no carro. Expliquei que foi devido a isso que eu havia desmaiado e ficado internada no hospital.
Enquanto eu falava, eu gesticulava bastante, indicando empolgação pelo assunto e a mãe da Vitória me ouvia com atenção, bebendo do vinho, sinalizando com a cabeça que estava prestando atenção aos detalhes e, falo, reforçando, que estamos namorando.
Ao fim do meu monólogo, ela repousa a taça de vinho já vazia sobre a mesa, levanta-se e dá um abraço na Vitória.
Eu fiquei ainda mais confusa com a situação toda.
- Mãe, o que você ta fazendo? – pergunta a Vitória para ela.
Elas se soltam do abraço, a mãe respira fundo e fala:
- Não era o que eu pensava para você. Isso é um fato. Eu também não esperava chegar em casa hoje e receber minha filha com a namorada, que agora eu sei que é namorada. O que me deixa triste, filha, é a quantidade de preconceito que vocês duas vão enfrentar. Você sabe que tenho a Vênus como uma filha – nesse momento eu abri um sorriso com a afirmação da mãe da Vitória – e que me preocupo com ela tanto quanto com você. É triste ver que o preconceito já começou dentro da casa da Vênus. Mas fico feliz que você tenha se encontrado, ou que esteja tentando se encontrar. Me alivia ser a Vênus a sua namorada.
Eu não podia conter, meus olhos estavam mareados, tão qual os da Vitória também estavam. Eu dou um sorrisinho e abaixo a cabeça, aliviada por não ter tido outro conflito. Eu não queria que a Vitória sentisse o que eu estou sentindo. Eu queria que ela se sentisse acolhida pela família e isso acabara de acontecer, pelo menos com a mãe dela.
Vejo, pela minha visão periférica, a Vitória se jogando nos braços da mãe, dando um abraço apertado e isso me dói o coração. Não pelo abraço, mas porque eu o queria dentro da minha casa. O queria com a minha mãe.
Não deixo esses sentimentos transparecerem, claro. A Vitória estava feliz, aliviada e com um sorriso entre lágrimas estampado no rosto. Eu levanto a cabeça, olho para ela e sorrio.
"Você conseguiu, meu amor!"
Era o que eu tentava dizer com o sorriso. Creio que ela tenha entendido, tínhamos isso de uma quase telepatia por olhares. Era algo nosso e que funcionava muito bem. Poemas inteiros poderiam ser recitados com nossos olhares.
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Querida Vitória [CONCLUÍDO]
RomanceApós anos de amizade e alguns dias de flerte, Vênus e Vitória embarcam numa verdadeira onda de sentimentos, antes desconhecidos por ambas. Mas o que não sabiam é que as consequências de se apaixonarem mudariam drasticamente as suas vidas. 1° Lugar n...