Amor

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Maio 

 🎬🐺 Finn

- Você tem que se equilibrar melhor! É só não me soltar! - Exclamo, ao mesmo tempo em que uma Millie completamente atrapalhada gargalhava, agarrando-se em meu pescoço e tentando a todo custo manter a postura sob os meus pés. Estávamos dançando absolutamente sem música alguma por meu apartamento, risonhos, bêbados de algo muito mais forte do que o vinho consumido enquanto preparávamos o jantar.

 - Viu, Caleb? Poderíamos ser nós, mas você não colabora! - Sadie diz, empurrando o garoto levemente com o ombro. Este ocupava-se em lavar a louça, enquanto a ruiva mantinha-se concentrada em finalizar o molho da macarronada que haviam decidido fazer juntos. McLaughlin ri e desloca-se alguns passos para perto da namorada, beijando-a na bochecha. No sofá, Noah e Gaten riam descontroladamente de algo do qual não estávamos prestando atenção agora.

As noites de folga costumavam ser divertidas, descontraídas e memoráveis. O meu celular já havia tocado algumas vezes, mas eu o estava ignorando, assim como Brown passara o dia ignorando o dela. Sabíamos que as fotos do photoshoot estavam sendo altamente divulgadas e queríamos a todo custo fugir do que as redes sociais e seus usuários com comentários maldosos estariam espalhando por aí.

- Finn, acho melhor atender. - Gaten recolhe o telefone da bancada, voltando a tela do mesmo em minha direção. Levo os meus olhos até o nome pelo qual o contato atende e suspiro pesadamente. - É o seu pai. Ele já ligou várias vezes.

- É melhor falar com ele, Finn. - Millie deposita um beijo carinhoso em meu queixo e sorri.

Devolvo-lhe o sorriso, beijando-a cautelosamente na testa, antes de deixa-la se afastar para auxiliar Caleb e Sadie. Caminho até Matarazzo, recolhendo o celular e agradecendo-o.

- Oi pai. - Digo assim que atendo a ligação, voltando os olhos para a figura descontraída de Millie gargalhando de algo que Caleb falara, enquanto colocava a mesa. O sorriso surge automaticamente em meu rosto.

 - Por que demorou tanto para atender? - Do outro lado da linha, o tom de sua voz não parecia ser muito amigável. - Está ocupado? Franzo o cenho no mesmo instante, sabendo que havia algo de errado. Meu olhar cruza-se com o de Brown e seu sorriso desaparece. Ela me conhece o suficiente, sabe me ler e percebe quando algo em minha postura, em minha feição, em meu corpo, indica a urgência de uma situação que não é boa.

- Não estou não. - Esclareço, rumando imediatamente para o quarto, em passos não muito rápidos. Sinto os olhos preocupados de Millie pesarem sobre mim enquanto me distancio, mas ela não me segue. - O que foi?

Sento-me sobre a cama, esperando por uma resposta.

- Eu acabei de ver o photoshoot que a Rolling Stones e a Entertainment Weekly divulgaram. - Ele diz. - Ou devo chamar de circo?

Fecho os olhos no mesmo instante e suspiro pesadamente. Era possível que Eric fosse de fato implicar com aquilo?

- Pai, Millie e eu... - Começo a falar, suavemente para não haver discussões, mas o homem interrompe-me antes que eu tivesse a chance de finalizar a sentença:

- Estão contribuindo com esse circo. Eu sei. Eu vi com os meus próprios olhos.

- O marketing pode ser um circo, mas o que eu tenho com a Millie não é. - Rebato, um pouco mais duro do que planejava.

- Quando sua mãe me contou sobre esse ensaio, não quis acreditar. - Eric continua, ignorando o que eu acabara de lhe dizer. - Mas quando vi sua imagem exposta ao ridículo daquela maneira, não pude manter o silêncio. Você precisa dizer a eles que não vai mais contribuir com isso.

- Pai, esse é o meu trabalho. - Solto um riso irônico. - Além disso, logo termina. Millie e eu estamos juntos, de verdade, não é mais só pelo marketing.

- Quem pode garantir você de que aquela garota esteja realmente sendo sua companheira e não te usando como uma peça que divulgue a imagem dela, como fez com os outros namorados? - Aquele definitivamente fora um soco em meu estômago. Não somente por nunca ter cogitado a ideia, mas por ouvir Eric Wolfhard, uma das pessoas que mais adoravam Millie nesse mundo, referir-se a ela daquela maneira.

- Eu a conheço há anos, confio nela. - Afirmo, ainda que muito mais para mim do que para o meu pai. - Você e mamãe conhecem a Mills, sabem quem ela é, o quão doce, transparente e verdadeira é.

- Você tem certeza de que sabe realmente quem a Millie é? - Confronta. - Ela não parecia uma garota doce e inocente naquelas fotos.

- Ela não teve escolha. - Digo entredentes, no mesmo segundo, quase que cortando sua fala anterior. - Millie não queria posar para as fotos daquela maneira, mas não tivemos escolha. Pai, nós precisamos colaborar com isso, você sabe.

- Não, não precisam. - Ele teima, fazendo-me bufar em frustração. - Você não depende dessas pessoas para viver. Você é Finn Wolfhard, ator, músico, roteirista e diretor talentoso. Não precisa de um marketing.

- Se eu sou um diretor talentoso, foi porque não ouvi você da primeira vez. - Rebato, sentindo o sangue ferver em pura indignação. - Eu não queria fazer isso, mas o seriado precisa e eu devo muito a essa série, foi ela que alavancou a minha carreira ou você não se lembra?

 - Eu só estou preocupado com você. - Eric diz, aumentando o tom de sua voz. - Quero fazer o melhor para o meu filho. A paixão cega as pessoas e o coração é enganoso, Finn. Preste atenção as coisas, seja um pouco mais esperto. Não precisamos ir muito longe para desconfiar da índole de Millie, por mais doce que seja. Olhe as coisas as quais a família dela a submeteu e ela concordou, contratos sujos, relacionamentos por marketing com os quais esteve envolvida para alavancar as marcas e projetos com as quais trabalhava.

- A Millie nunca escolheu nada disso. - Insisto ainda. Eu jamais poderia acreditar naquilo.

- E nem nunca contestou nada disso. - Eric diz, certeiro, deixando-me, pela primeira vez, sem palavras. - Eu só não quero lhe ver exposto ao ridículo por nada, acreditando em mentiras.

- Agradeço a sua preocupação, mas não precisamos disso. Estamos bem, felizes, apaixonados e gostaríamos de continuar assim.

- Ótimo. - Conclui ele, ainda que aparentemente insatisfeito. - Só não diga que não lhe avisei. Não concordo com esse relacionamento e está tudo bem, logo terá um fim.

- Você costumava dizer que ela era uma garota de ouro, a certa para mim. - Digo, sentindo o coração pesar em meu peito. Não queria que houvesse problemas entre a garota que eu amava e minha família e definitivamente não desejaria viver lutando para agradar ambos os lados, sem machucar nenhum destes. Eu ansiava por uma vida pacífica, onde meus familiares convivessem em paz com a pessoa a qual escolhesse para estar ao meu lado.

- Isso antes de saber quem Millie Bobby Brown era de verdade. - Eric revela, suspirando. Parece exausto. - Sua mãe ainda tenta ver o lado bom da situação, apesar de tudo. Eu gostaria que você encontrasse um coração tão grandioso quanto o dela um dia, e não um coração ganancioso. Só desejo a você uma boa vida seguindo a sua carreira, com alguém que lhe acompanhe e apoie e não com alguém que lhe sugue para alavancar a própria imagem.

Suas palavras acertaram-me em cheio. Eu conhecia Millie e sabia que seu coração era puro e grandioso. Eu não poderia culpá-la pelos atos errôneos de sua vida, enquanto buscava estar no topo. Não que ela buscasse, sua família fora a responsável por todos os contratos, todos os namoros por publicidade, toda a sua sexualização e amadurecimento precoce. Seus pais foram os responsáveis pelas olheiras que surgiram após noites mal dormidas ou, por vezes, nem dormidas de sono, quando era necessário trabalhar além da conta para sustentar a todos eles. Isso quando Millie tinha apenas quinze anos de idade. As coisas mudaram, no entanto, mas isso não retirou dela a consequência psicologia desses atos, as crises de ansiedade, os julgamentos na internet, as notícias falsas que eram e ainda são espalhadas sobre sua imagem. Brown carregava um peso: o peso de ser uma mulher jovem trabalhando nesse meio. Meu pai não a conhecia o suficiente e a estava julgando da mesma maneira em que um anônimo julga em suas redes sociais.

- Millie é muito mais do que Millie Bobby Brown. - Digo, certeiro. - Mamãe sabe disso. Pare de julga-la como um hater faria. Eu a amo e ela é pura como Mary Wolfhard. E se um dia ela for Millie Wolfhard, você precisara lidar com isso.

- Só peço que pense. - Eric interrompe-me, aparentemente irritado. - Você está apenas cego pela paixão, não há amor algum.

- Eu estive apaixonado pela Millie por anos. Eu acho que já faz um tempo que se tornou amor. - Concluo, decidido. - Boa noite, pai.

- Pense Finn, só isso. Boa noite.

Finalizo a chamada, irado. Jogo o celular sobre a cama ao meu lado e fecho os olhos, passando a mão por toda a extensão de meu rosto e meus cachos, respirando fundo em exaustão. Eu a amava tanto que a queria amada por minha família também e aquela era uma situação complicada. Eles só mudariam o que pensam sobre Millie, conhecendo-a mais ainda.

- Então eu acho que seu pai me odeia agora, não é? - A doce voz, dessa vez insegura, de Brown preenche o cômodo. Levo os meus olhos, em alerta, para a porta, onde a garota de olhos dourados estava: a lateral de seu corpo apoiava-se timidamente ao batente da estrutura. Havia um sorriso triste em seus lábios. Ela não ousara adentrar o quarto, provavelmente apavorada pela ideia de já não ter mais acesso.

- O quanto você ouviu? - Questiono, preocupado.

Nós não nos movemos.

- O suficiente. - É o que Millie diz, em um sussurro. Seus lábios tremem e mesmo que tenha durado apenas um segundo, eu sei que a qualquer momento ela poderia explodir em lágrimas incontroláveis. Brown era a sensibilidade em pessoa. Jamais me usaria. Jamais. Eu sabia daquilo. Eu sabia daquilo, certo?

- Mills... - Começo, suavemente.

- Por que eu sinto que há algo de errado com nós dois? - A garota cruza os braços. - Toda vez algo ruim acontece. Os fãs de It e da Calpúrnia me odeiam, além disso tenho outros haters. A maior parte das suas stans me odeiam. Não tenho tanta certeza se seus amigos gostam de mim e agora a sua família? Eu não consigo suportar isso.

- Mills, por favor.

- Finn, o seu pai tem razão. - A primeira lágrima escorre por seu rosto. Levanto-me no mesmo segundo, quase como já fizesse parte de meu corpo estar lá por ela não importando qual e o que fosse a situação. - Eu não posso deixar a droga da minha vida interferir na sua. Eu não posso expor sua imagem ao ridículo por minha causa. Se estivermos juntos, você será exposto demais e sei que vocês prezam muito por privacidade.

- Abelhinha... - Seguro seu rosto em minhas mãos ao me aproximar, acariciando-o com meu polegar, aproveitando para limpar o rastro que a lágrima havia lhe deixado. Nesse momento, Millie deixa outras lágrimas caírem, os olhos voltados para baixo, sem coragem de me encarar.

- Talvez tenha sido um erro, Finn. - Sussurra.

- Ei. - Levo o indicador da outra mão ao seu queixo, levantando a sua face de maneira que seus olhos dourados conectassem-se as minhas iris negras. Vê-las molhadas, assustadas e tão machucadas feriam-me profundamente. Era triste perceber que o pôr do sol em seu olhar poderia ser coberto por uma tempestade com tanta facilidade. - Nunca mais diga isso. Nós nos amamos e isso, em momento algum, é um erro. Nós não somos um erro.

- Eu não sei, amor. - Millie diz, naturalmente, como se o apelido fosse comum entre nós e o usássemos há anos. Sorrio, automaticamente, limpando-lhe o rosto molhado com delicadeza. - E se estivermos errados?

- Nós saberemos. - Garanto, sem deixar de lhe esboçar o sorriso de felicidade proveniente do som de seus lábios chamando-me de amor, pela primeira vez. - Eu te prometo, amor. Mas agora não sinto que estamos errados.

Millie sorri, suas bochechas colorindo-se em escarlate ao notar o que acontecera. Minhas mãos escorregam para sua cintura e a puxo para um abraço.

- Eu vou molhar sua camiseta. - Brown avisa, ao apoiar a lateral de seu rosto contra meu peito. Suas mãos enlaçam-se em minhas costas. Solto uma risada, pousando os lábios sobre o topo de sua cabeça.

- Eu não me importo. - Beijo-a no local, apertando seu corpo contra o meu. Millie suspira, aconchegando-se. - Nós vamos ficar bem, princesa.

- Assim espero, amor.

💋🎬 Iris

Atrasada. Penso, impaciente, observando os ponteiros em meu relógio de pulso movimentarem-se dois minutos após o horário combinado com Oona Laurence. Estou sentada sob a sombra de um pinheiro, em um dos bancos de madeira frente ao lago do Parque Stanley, onde ela deveria me encontrar antes de se preparar para viajar amanhã com destino à Atlanta. 

Mais um minuto se passa. Bufo, cruzando os braços e chacoalhando as pernas. Abro um sorriso forçado para uma senhora que passa por mim. Em seguida, avisto a figura de Laurence à poucos metros, correndo agitada em minha direção. Quando se aproxima, noto que está usando roupas de ginástica coladas ao corpo, o cabelo preso em um rabo de cavalo. Suor escorria por sua pele e ela tira os fones de ouvido, sorrindo para mim. Reprimo uma careta de nojo e contenho-me para não tapar o próprio nariz quando a garota senta-se ao meu lado. 

- Desculpe o atraso! - Exclama, ao se acomodar. - Eu saí de casa uns minutinhos mais tarde do que planejei hoje, para correr. 

- Certo. 

- Então, sobre o que queria falar? 

- Você se lembra do Finn? - Questiono. Oona enruga a testa, como se estivesse confusa. - Finn Wolfhard? 

- Ah, claro! - Ela ri e eu faço meu melhor, decidindo não revirar os olhos. - Eu fiquei com ele na sua festa de aniversário ano passado. Beija bem. 

Engulo em seco, controlando-me. 

- Eu sei disso. - Abro um sorriso falso. - Ele está em Atlanta agora, gravando o seriado e como você vai até lá, preciso que me faça um favor. 

- E por que eu lhe faria um favor, envolvendo o Finn? - Oona arqueia uma de suas sobrancelhas, desconfiada. 

- Pelo bem dele. - Finjo estar tão preocupada que quase me comovo. - Ele e a Millie estão em um relacionamento por marketing. 

Laurence arregala os olhos, os lábios entreabrem-se, chocados. 

- Você não acha que essa indústria é muito porca, querida? - Coloco a mão sobre seu ombro, arrependendo-me no mesmo segundo ao senti-lo úmido e pegajoso sobre minha palma. Novamente, reprimo a careta de pavor e limpo seu suor em meu vestido. 

- Sim, eu acho. 

- Chame o Finn para sair quando estiver lá. - Vou direto ao ponto, então, agora que ela parece ter caído no teatro. - Ele não vai negar se for muito gentil. Diga que é só um passeio entre amigos, que todos nós estamos com saudades. 

- Pra que exatamente quer que eu faça isso? 

Abro-lhe um sorriso, o primeiro que é sincero: 


- Você vai ver. 



Eu sei que esse capítulo está pequeno, me perdoem! Vai melhorar. 
Beijinhos. 

Behind The ScenesOnde histórias criam vida. Descubra agora