Just let me adore you

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Flashback
Atlanta, Abril de 2015
Gravações da primeira temporada de Stranger Things.

Millie Bobby Brown deveria estar em cena, mas seus pés ansiosos não paravam quietos, movimentando-se de um lado para o outro no trailer, enquanto Paige, sua irmã, a observava, já impaciente com a inquietação da garota. A pequena murmurava palavras incompreensíveis, tentando motivar a si mesma. O texto onde havia o roteiro balançava entre seus dedos, aberto no que a estava deixando nervosa.

A Brown mais velha abre a boca para lhe atirar uma sessão de gritos furiosos, mas uma batida na porta interrompe a loira.

- Quem é? - Pergunta ela, rude.

- Eu. - Wolfhard abre a porta levemente, um pouco relutante e hesitante. Sorri, no entanto, quando seus olhos encontram os de Millie. - Finalmente te achei. Vamos?

A atriz suspira, acenando com a cabeça, rendendo-se. Era necessário que a cena fosse gravada, de toda forma. A pequenina deixa o trailer para trás e passa a caminhar ao lado do ator.

- Por que sumiu? - Ele questiona. Millie abraça a si mesma, protegendo-se do vento frio. - Você parece preocupada com alguma coisa.

- Eu nunca beijei. - Brown confessa, rápido para acabar logo com aquilo. É o suficiente, porém, para Wolfhard compreender.

O garoto a olha, encontrando-a de olhos baixos, encarando o chão sobre o qual seus pés pisavam. Se Millie pudesse, se encolheria até desaparecer.

- Está com medo? - Finn para de andar, segurando nas mãos da atriz. Surpresa, Brown leva seus olhos doudados aos dele. - Não precisa. Eu também nunca beijei. Não de verdade. - Ele ri, a pele avermelhando-se. - Uma menina me roubou um beijo no jardim de infância uma vez, mas não contou.

Millie sorri, enrubescendo, tão encabulada quanto o garoto.

- Eu também estou com medo. - Wolfhard lhe aperta levemente as mãos. - Mas estaremos juntos nisso e vamos conseguir. Confie em mim. Você confia, não é?

Sentindo-se mais segura, Brown assente com a cabeça, abrindo um sorriso por inteiro, verdadeiro. Havia um frio que ela sentira poucas vezes incomodando-a na barriga, mas dessa vez a atriz sabia que, de alguma forma, não era medo. Confiantes, os pré adolescentes caminharam de mãos dadas para gravar a cena onde seus lábios tocariam-se pela primeira vez. Anos mais tarde, Finn lembraria-se do constrangimento de ter Robert Brown no set os encarando e Millie lembraria-se de ter começado a se apaixonar por seu amigo. Não por causa de seu beijo única e exclusivamente, mas por ter estado lá por ela em primeiro lugar e por não tê-la julgado, mesmo que a sua insegurança, para muitos e até mesmo para a própria família, fosse pequenina.


Flashback
Atlanta, Novembro de 2017.
Reunião do Cast de Stranger Things.

A risada dos amigos preenchia a mesa do restaurante no qual marcaram de encontrar-se antes do inicio das gravações da terceira temporada do seriado. Os adolescentes fizeram questão de escolher uma mesa separada de seus pais, para terem privacidade e sentirem-se a vontade em conversar sobre assuntos dos quais lhes interessavam e compartilhar piadas internas sem o julgamento de seus genitores. Não que, de longe, não estivessem sendo observados por esses vez ou outra.

Millie, entretanto, estava alheia a maior parte dos assuntos. Seus olhos e ouvidos tentavam a todo custo se concentrar no que acontecia ao redor, mas tudo parecia irrelevante demais aquela noite, tudo a deixava ansiosa e nem mesmo a música que invadia o ambiente era capaz de acalmá-la ou distraí-la. Os outros sons que não fossem os ruídos de sua mente confusa, levando-a para longe dali, eram abafados pelo turbilhão de pensamentos e inseguranças que a cobriam. Finn notara o desconforto da menina havia algum tempo, percebera seus sorrisos forçados e como eram rapidamente substituídos por expressões de preocupação e medo. Facilmente, Brown distraia-se. Ele nem havia lhe escutado gargalhar aquela noite e aquilo não era de sua natureza doce e extrovertida.

Exausta de tentar se concentrar em outra coisa, Millie bufa em frustração, levantando-se tão sorrateira e silenciosamente que ninguém notou o seu distanciamento, exceto pelo par de olhos negros que a observara por tempo demais para saber que havia algo de errado. Wolfhard a segue, deixando os amigos discutirem sobre o último jogo dos Chiefs, pois aquele assunto já não era mais tão interessante. Sua melhor amiga e a garota por quem estivera apaixonado não parecia bem. Ele se importava com ela mais do que deveria, mas preferia ferir o próprio coração para consertar o dela do que vê-la partida.

- O que faz perdida aqui? - Finn questiona, após encontrá-la na parte exterior do local. Havia mesas dispostas por ali, mas ninguém as ocupava no momento, graças ao frio. Era ínicio de inverno e a neve já começava a cobrir tudo o que estivesse em seu caminho, inclusive o parapeito sobre o qual Brown apoiava as suas mãos, as cadeiras desocupadas e até mesmo o varal de luzes fluorescentes que estendia-se pelo lugar. Ali era lindo, os olhos de Finn jamais esqueceriam, e talvez o silêncio e a beleza fizessem o ar congelante valer a pena.

Sobressaltada, Millie volta-se para o amigo. Ela abre um sorriso, pequeno. Sua face começa a avermelhar-se, ação do frio. O ator aproxima-se, cedendo o primeiro casaco que usava para colocar sobre os ombros da menina.

- Obrigada. - Brown agradece, sorrindo. Os lábios tremem e ela aperta a peça quente de roupa contra seu corpo. - Minhas mãos estão congelando. - Millie ri.

Apenas pensando em mantê-la bem, aquecida e confortável, o garoto lhe segura as mãos, unindo-as, cobrindo-as com as suas, consideravelmente maiores do que as dela e as leva até os seus lábios, beijando-as no processo de aquece-las.

A adolescente o encara, encantada. Sua pele só não enrubesce porque seria difícil esquentar-se naquele ar tão congelante.

- Obrigada. - Brown sorri, recolhendo com delicadeza as suas mãos e escondendo-as nas mangas enormes do casaco de Finn, que lhe abre outro sorriso. - Muito melhor agora.

- Por que decidiu vir bancar a Elsa aqui fora? - Wolfhard brinca. - Let it go. - Ele canta, fazendo-a rir. Ouvir o som pela primeira vez na noite fora um alívio e o fez sorrir.

- Eu precisava de um momento para pensar e lá dentro já estava insuportável. - Ela confessa, cruzando os braços e voltando a encarar as luzes da cidade estendendo-se ao horizonte. - Ou eu tomava um ar ou eu explodiria.

- Quer conversar sobre?

Millie suspira, antes de falar:

- Eu estou com essa ideia, há alguns meses, após o falecimento de minha bisavó, de lançar a minha própria linha de produtos de beleza.

- Uau! - Finn exclama, perplexo. - Isso é incrível, Mills!

- Sim, é. - A garota abre um sorriso melancólico. - Eu quero chamá-la de Florence, como minha bisavó, quero que seja uma marca que mostre coragem e que ajude as garotas ao redor do mundo a abraçarem a sua individualidade, assim como fez a minha bisavó. Quero que os produtos levem a minha cor preferida, o roxo, já pensei em muitas coisas. Como, por exemplo, em doar parte do lucro para a Olivia Hope Foundation. Uma das minhas amigas faleceu lutando contra leucemia e eu quero fazer o possível para ajudar a combater esses cenários, por mais que o câncer seja difícil, quero batalhar ao lado dessas crianças na busca pela cura... - Ela desabafa, hesitando em um momento. Respira fundo, limpando rapidamente uma lágrima solitária que lhe escorre pela face. Ás vezes a atriz pegava-se pensando no quão doloroso e injusto o mundo era com uma garota de apenas treze anos, perdendo tanto do que ama com tanta facilidade. Talvez fosse para compensar a sorte de ter alcançando todos os seus sonhos, afinal o universo não permitiria que tudo na vida de um ser humano permanecesse perfeito. - Desculpe. - Millie ri, chacoalhando a cabeça em negação - Falei de mais, não foi?

- De maneira alguma. Eu a estou escutando. - Finn murmura. Millie o olha, apenas para encontra-lo sorrindo, as mãos escondidas nos bolsos de sua calça jeans. - Eu a admiro cada dia mais. Parece um grande projeto, lindo, importantíssimo e fará muito sucesso. O que a incomoda?

- Não tenho tanto apoio dos meus pais. Eles querem, inclusive, que eu até me envolva em outros relacionamentos se eu for levar isso adiante. Querem que eu assine contratos sujos para alavancar a marca, mas isso não sou eu! - Millie exclama, frustrada. - E para piorar, estou insegura. E se meus pais estiverem certos? E se isso não for pra frente? É só um sonho vindo de um projeto bobo e sentimental de uma pirralha de treze anos. - Ela ri, amarga.

- Não, não diga isso. - Wolfhard diz, no mesmo instante, incrédulo com o absurdo de suas palavras. Contrariar os pensamentos dos pais da garota era um de seus passatempos favoritos, principalmente quando a ideia era não deixa-los reprimi-la, subestimá-la a ponto de diminuir os seus sonhos ou trocá-la como uma simples moeda. - Mills, sua ideia é genial, espetacular e seu coração é generoso, vai conquistar muitas pessoas. Você quer ajudar crianças a batalharem contra o câncer, isso é inspirador! O ínicio do projeto pode ser massacrante, eu sei, porque todo começo é difícil, mas você vai passar por cima de tudo, tenho certeza! E a Florence vai se destacar no mercado. Você é promissora e eu acredito em você. Seus pais estão errados, prove isso a eles. Você não precisa de garoto algum, pode crescer sozinha sem contratos.

Millie o observava encantada, sorrindo, tombando a cabeça levemente para o lado, enquanto o garoto discursava, enaltecendo-a, tentando a todo custo fazê-la acreditar em seu próprio valor. Ninguém a encorajava dessa forma. Seus pais não o faziam. Seus parentes não o faziam. Sua bisavó estava descansando e já não o fazia mais. O coração da garota tropeça algumas batidas e em seu estômago o inverno faz pousada tão fervorosa quanto o clima ali fora. Era incrível como sempre fora fácil estar ao lado dele, abrir-se sem medo de ser julgada, confiando que ele a apoiaria, independente da situação.

- Bem, abelhinha... - Ela começa, abrindo um sorriso brincalhão. Finn ri, sem graça, encarando os próprios pés por um momento. - Você sabe bem sobre projetos, está saltando em vários o tempo todo. Então, acho que posso ouvir os seus conselhos. Eu confio em você.

- Você é a pessoa mais dedicada e talentosa que eu conheço. - Finn dá de ombros, fazendo-a abrir um sorriso ainda maior. - Vai se sair bem, tenho certeza.

- Obrigada, Finnie.

- Podemos voltar lá para dentro, agora? Estou morrendo de fome. - O garoto diz, causando risos na atriz. - E enquanto voltamos, você me conta suas outras ideias sobre a marca. Ainda quero te ver ganhando prêmios com ela, e juro, eu vou comentar nas suas fotos quando isso acontecer e você vai se lembrar desse dia.

- Ok. - Millie ri, passando a caminhar ao seu lado. - Eu quero que os produtos sejam naturais, nada de sulfatos, parabenos, e todos esses produtos químicos pesados, testes com animais. Quero que haja vitaminas, botânica, antioxidantes. Eu quero que a minha marca grite: "você é linda!" sem definir padrões de beleza, quero que todas sintam-se lindas e quero que todo tipo de pele possa usar Florence....

Enquanto escutava a adolescente expôr seus sonhos e planos, Finn sorria, o peito aquecendo tamanho orgulho e admiração. Desejava que a garota alcançasse todo o sucesso e fosse extremamente feliz, apenas aquilo importava para ele. Mesmo se ela nunca estivesse em seus braços, o garoto continuaria vibrando por suas conquistas, apoiando-a e fazendo-a sentir-se bem, estando lá por ela quando fosse necessário.

Flashback
Atlanta, Fevereiro de 2020.
Aniversário de dezesseis anos da Millie.

Em frustração, Millie tomara a sua primeira dose de vodka de toda a vida. O líquido descera rasgando por sua garganta e ela se lembra do quanto eram assustadores os olhos de Joseph Robinson, seu até então namorado, a observando com um sorriso malicioso, enquanto a encorajava a beber mais. Brown havia dito que não desejava embebedar-se, que não era permitido, pela lei, de acordo com a sua idade, que consumisse álcool, mas o garoto insistira. A atriz olhava quase que em desespero ao redor, seus olhos varriam a multidão presente na festança enorme de seu aniversário, em alerta. Parte dela buscava por ajuda, alguém que fosse salvá-la daquilo, e a outra metade apenas atentava-se a possível presença de papparazzis ou desconhecidos que poderiam divulgar as imagens deste momento na internet e manchar a imagem de boa moça da qual passara anos construído. Sua família não aprovaria e poderia ser o fim. Se eles a estivessem vendo agora, provavelmente mudariam de ideia quanto a Joseph e o contrato que fecharam com o jogador. Não que fossem se preocupar com a integridade e segurança da garota, mas sim com a sua imagem. Era estúpido, afinal, gastar tanto dinheiro por um falso príncipe encantado. Ele havia dançado com Brown aquela noite e ela se lembrava de ter chorado nas semanas anteriores, silenciosa para que ninguém a descobrisse, por ter sido obrigada a escolhe-lo como o príncipe da festa dos seus sonhos. Deveria ter sido Finn ou Noah, mas sua família não aceitara. Era injusto. Eles e Joseph a expunham como um prêmio o tempo todo e tinham absolutamente todo o controle sobre sua vida. Aquilo era exaustivo.

- Preciso ir ao banheiro. - Millie murmura, algumas doses depois. Sua cabeça girava e ela teria despencado da banqueta a qual sentara-se, frente ao balcão do bar, mas Joseph a segura pela cintura, auxiliando-a.

- Eu tenho uma ideia melhor. - Robinson sussurra em seu ouvido. O tom de sua voz deixavam explícitas as segundas intenções do garoto. A espinha de Brown arrepia-se por inteiro, mas não de um jeito agradável.

Seu coração acelera-se em pavor quando volta a encará-lo e o salão parece girar mais rápido. O estômago começa a embrulhar. Alguma música pop da qual a garota amava ecoava por toda a festa, mas aquilo já não a deixava mais tão feliz como deveria. Ultimamente, devido as atitudes abusivas de Joseph, tudo tendia a deixá-la ansiosa e entristecida. Ás vezes Brown chorava pelos cantos e nem sabia bem o porquê, uma amargura lhe subia pelo peito e pela garganta, transformando-se em lágrimas e soluços de dor.

O jogador a segura pelo pulso e passa a arrastá-la, ainda que sobre os protestos enfraquecidos de Brown. Graças a bebida, seu corpo estava mole demais para manter-se forte, não conseguiria desvencilhar-se do toque do menino, nem se por muito lutasse. Seu único aliado, naquele momento, era o fato de que havia trocado o vestido enorme que usava mais cedo por um mais curto - o que a impedia de tropeçar, enquanto acompanhava com dificuldade os passos apressados do namorado. - A peça finalizava pouco acima dos joelhos, apesar de ainda lembrar a imagem de uma bela princesa do século passado. Sua saia também era rodada, mesmo que não longa, e a peça conseguia ser tão magnífica quanto a primeira. Fisicamente, Brown estava deslumbrante. Aquela deveria ter sido a sua noite.

Teria sido pior, no entanto, se os olhos negros de seu melhor amigo e parceiro de filmagens não houvessem avistado aquela cena absurda. A preocupação e a revolta cresceram abruptamente no peito de Finn Wolfhard e seus pés moveram-se em direção ao casal, mais rápido do que pode controlar. Em alerta, Caleb McLaughlin, com quem o ator conversava até então, o seguiu.

- Joseph, me solta. - Brown murmura, entredentes, não notando a aproximação dos amigos. - Eu não quero ir.

- Você a ouviu, Robinson. - A voz rouca e um pouco acima do tom comum do cacheado chamou a atenção do par. Ambos voltaram suas íris para ele. - Ela pediu para ser solta e disse que não quer ir. Por favor, tire as mãos dela. - Finn dá um passo em direção ao jogador, mas é impedido de avançar por Caleb, que coloca uma mão sobre seu peito e lhe lança um olhar de reprovação, chacoalhando a cabeça em negação, dando a entender que aquilo não valia a pena.

- O que está acontecendo, Joseph? - McLaughlin questiona, seus olhos negros dirigindo-se a Robinson.

Ao redor, alguns dos presentes no salão já começavam a notar a cena. Joseph percebe e solta, sem cuidado algum, o pulso de Millie, bufando em frustração no processo.

- Você não vai salvar a princesinha em apuros pra sempre, Wolfhard. - O jogador murmura, para que apenas o ator pudesse escutar. A raiva lhe estampava os olhos. Finn procura não lhe dar ouvidos, puxando Brown para perto, certificando-se de que ela estava bem, acariciando a área machucada do pulso. Não deveria, mas sua superproteção falou mais alto. - E quando não estiver por perto, ela vai pra cama comigo, quer você queira ou não queira.

O sardento engole em seco, fuzilando-o com os olhos, enquanto aninhava Brown em seus braços. McLaughlin o observa em alerta, a postos para impedi-lo de cometer uma loucura, mas Finn controla-se e Joseph deparece pela multidão, como um covarde.

- Nada para ver aqui. - Caleb anuncia para os convidados que estavam prestando atenção. - Abaixa esse celular, agora. - O jovem diz, ameaçador, para uma garota que os havia filmado e fotografado. Assustada, a menina some no mesmo instante.

Era uma pena, no entanto, que os adolescentes não pudessem controlar quem estivera registrando as imagens desse evento. Nas semanas que se seguiram após este, a internet buscou massacrar Millie Bobby Brown, culpando-a de ter se embriagado. Nenhum deles esperava um cenário diferente. Afinal, nessas situações infelizes, as pessoas procuravam uma forma de colocar a responsabilidade sobre os ombros da vítima, principalmente se a vítima fosse mulher. Meses após o acontecido, os Robinson romperiam o contrato com os Brown.

- Você está bem? - Finn pergunta a ela.

- Não. - Millie murmura, chorosa, fazendo o coração do garoto se apertar. - Acho que vou vomitar.

Wolfhard e McLaughlin trocam apenas um olhar de despedida e o jovem de cabelos cacheados arrasta a garota as pressas para o banheiro mais próximo, onde ela se ajoelha a frente da primeira privada que vê, colocando para fora tudo o que havia consumido mais cedo. Finn ocupa-se em segurar os seus cabelos. Após o enjoo passar, Millie pressiona a descarga, responsável por levar o vômito embora. Ela permanece um tempo ajoelhada sobre o chão frio, o corpo tremendo em soluços dolorosos quando o choro vem à tona. Wolfhard a puxa para seus braços, pousando o queixo sobre a cabeça da menina e lhe sussurrando palavras de conforto. Demora alguns minutos, mas aos poucos o corpo da adolescente vai relaxando, os soluços tornam-se cada vez menores, até cessarem por completo. Quando isso acontece, Finn limpa-lhe o restante das lágrimas abandonadas por seu rosto e a ajuda a levantar. Brown cambaleia em direção a pia, enxaguando a boca e o rosto. Sua maquiagem estava arruinada, era o que pensava enquanto observava o próprio reflexo miserável, após enxugar o rosto com uma das toalhas que deixara no banheiro para os convidados. Exausta, as pernas de Millie enfraquecem e Wolfhard a segura antes que o corpo despenque sobre o chão.

Ele a pega no colo, sobre os protestos enfraquecidos da menina, dizendo que conseguiria andar e que não precisava ser carregada como um bebê. Finn ri, deixando o banheiro e caminhando em direção a escadaria, que o levaria até o segundo andar da mansão, onde depositaria o corpo da garota sobre o colchão de um dos quartos. Quando isso aconteceu, Brown segurou levemente os dedos do garoto prestes a deixá-la.

- Por favor, não vá embora Finn. - Millie sussurra, em súplica, os olhos cerrados. Sua voz é sonolenta e preguiçosa. O ator sorri, sentindo o coração acelerar em seu peito e um frio ao qual estava acostumado invadir seu estômago.

Wolfhard senta-se na beirada do colchão, entrelaçando seus dedos nos pequeninos da garota.

- Minha cabeça está doendo. - Millie coloca a mão sobre a própria testa, fazendo careta. - Abaixa a música?

Finn ri, enquanto uma música agitada lhe adentrava os ouvidos, vinda lá de baixo, porém abafada pela porta fechada e pelas paredes que os separavam do salão nesse instante.

- Você quer que eu abaixe a música de sua festa de dezesseis anos?

Millie entrega-se ao riso, mas basta segundos para que ele se transforme em soluços e ela passe a chorar outra vez. Brown abre os olhos, encarando o garoto a sua frente, que se aproxima, deixando-a a deitar a cabeça em seu peito, após repousar ao lado do corpo da menina, para consolá-la.

- Foi tudo uma merda. - A atriz funga, após acalmar-se. - Ainda bem que você está aqui, nem tudo foi perdido.

- Não diga isso. - Finn acaricia-lhe os cabelos. - Você se divertiu muito, eu vi com os meus próprios olhos, a noite toda. Joseph só arruinou uma parte, mas não deixe que isso estrague tudo.

Millie se aconchegou sobre o peito do amigo, suspirando. Deus do céu. Como ela gostaria que fosse assim pra sempre, como desejava jamais deixar aquele quarto e encarar o dia terrível de amanhã, onde precisaria lidar com a consequência das atitudes de seu namorado. Brown contava os dias e as horas para que aquele contrato acabasse, mas não que isso fosse fazê-la poder estar nos braços de Wolfhard. Ela desejava o melhor para ele, queria que fosse feliz e, por mais que doesse admitir, sua vida turbulenta não lhe era a melhor opção. Por isso, preferia deixar as coisas como estavam. E Finn também. O ator nunca a faria mudar de ideia, jamais perderia seus preciosos momentos juntos provando o quanto Robinson não era bom o suficiente para uma garota como ela e ressaltando o quanto precisava colocar um basta naquela situação com sua família, para o seu bem. Não. Wolfhard queria merecer o amor de Brown pura e genuinamente, sem que precisasse manipula-la para obtê-lo. As pessoas das quais a menina amava já faziam aquilo até demais e o garoto não desejava jogar o mesmo jogo sujo.

- Feliz aniversário, a propósito. - Finn sussurra, um tempo depois, mas a garota já havia adormecido. Ele suspira, e o gesto chega a fazer o peito doer. Para se livrar do pranto que ameaçava, o garoto passa a cantarolar baixinho os versos da primeira música que lhe veio a cabeça: Adore you do Harry Styles - You don't have to say you love me. You don't have to say nothing. You don't have to say you're mine. (Você não precisa dizer que me ama. Você não precisa dizer nada. Você não precisa dizer que é minha).

O ator retira cautelosamente o rosto da garota de seu peito, pousando-o sobre os travesseiros da cama. Ela parece finalmente em paz.

- Oh honey, I'd walk through fire for you, just let me adore you. (Oh querida, eu caminharia pelo fogo por você, só me deixe te adorar). - Finn suspira, observando os detalhes de seu rosto adormecido, apaixonando-se por esses pela milésima vez. - Like it's the only thing I'll ever do (Como se fosse a única que coisa que sempre farei).

Millie remexe-se confortavelmente entre os lençóis, suspirando e sorrindo. Como se o escutasse. Ela não desperta, entretanto, para alívio do cacheado, que aproveita o momento para deixar o quarto e caminhar de volta à pista de dança, o coração em seu peito pesando como uma bola de boliche.

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