Obra renascentista

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💖🎬 Millie

- Não importa onde você esteja, ou com quem esteja, eu vou sempre, verdadeiramente, completamente, honestamente... amar você. - Repeti aos soluços com a voz de Lilly Collins enquanto assistia a cena em questão do filme Simplesmente Acontece.

Acho que estou de TPM, pensei, mordendo mais um pedaço da barra de chocolate e limpando as lágrimas que insistiam em cair por sobre meu rosto já inchado. A campainha toca e eu resmungo insatisfeita, deixando o doce em cima da mesa de centro e livrando-me da tonelada de cobertas sobre o meu corpo. Sadie havia deixado uma mensagem, meia hora mais cedo, avisando que viria até aqui, pois esquecera a chave do apartamento. Bem que poderia chegar para pegá-la em um momento em que eu não estivesse tão sensível e ela não fosse rir da minha cara.

Caminho em direção a porta, fungando, após recolher a cópia da chave que lhe pertencia, abandonada sobre a mesa da cozinha. Começo a destrancar a estrutura amadeirada que nos separava do corredor, já falando despreocupadamente com a minha amiga:

- Sadie, você só me dá traba... - Congelo no lugar quando os olhos que encaro são negros e não azuis. - Jesus! - Fecho o portal com tudo, disparando uma seção de palavrões em francês em seguida, completamente constrangida e desnorteada. Eu havia aprendido um pouco da língua quando pequena, na companhia de minha irmã mais velha, Paige. 

Um silêncio se instala logo depois que me acalmo. Minhas costas permanecem coladas a madeira da entrada, a respiração lutando para se normalizar. Meus olhos estão fechados e a mão sobre a testa: estou corando sozinha, tentando apagar o acontecimento vergonhoso que jamais sairá da minha mente. Imagino que ele tenha ido embora, matutando sobre o quão maluca eu sou, ou eu estou tão descontrolada e fora de ordem esses últimos dias que a figura parada a minha porta fora somente uma criação bem arquitetada de meu subconsciente frágil, carente e em pedaços.

- Uma obra renascentista não poderia se comparar as nuvens desenhadas em sua calcinha. - Sua voz rouca despertou-me dos devaneios e eu precisei prender a respiração e colocar a mão sobre a boca, de forma que um grito não me escapasse. Ele começa a rir, provando estar tirando uma com a minha cara. - Você está bem?

- Acho que sim. - Murmuro, a voz saindo falha pelo constrangimento. Miro os olhos na direção da peça intima que estou usando - coberta em partes por uma camiseta com a estampa do seriado Friends - e me amaldiçoo mentalmente com milhares de palavrões, mas dessa vez não eram em francês. Por que diabos eu uso calcinhas que uma criança de cinco anos usaria? Suspirei, decidindo me dar um desconto, afinal é uma peça confortável e eu estou em casa, não tem nada de errado. Não tem nada de errado, Brown.

Com a pouca coragem e dignidade que ainda me restavam, abro a porta lentamente, colocando somente o meu rosto para fora.

- Oi. - Murmuro, tímida, a face provavelmente explodindo em tons vivos de vermelho.

- Oi. - Finn riu. Droga, ele está tão lindo. - Desculpe não ter te avisado que viria.

- Sem problemas. - Sorrio sem graça. - Eu não deveria, sabe, atender a porta de qualquer jeito também. Eu estava esperando a Sadie.

- Não tem problema, eu deveria ter avisado, só achei que fosse legal uma surpresa. - Ele afirma, abrindo um sorriso tão desconcertado quanto o meu, coçando a nuca com o constrangimento.

- Foi legal você ter feito uma surpresa, eu é que fui descuidada! - Tento rir para descontrair, mas tudo o que sai é um pigarro. Estávamos ambos envergonhados. - Só me dá um minutinho, ok?

- Ok, eu espero. - Ele assente e eu fecho a porta outra vez, caminhando em direção ao meu quarto e murmurando a palavra "burra" repetidas vezes até alcançar o cômodo, corando de diferentes maneiras. Respiro fundo e visto a primeira calça de moletom que encontro.

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