Era de tarde e a fome gritava
O porco comia, a galinha ciscava
Mas e o velho pombo?
Apenas aguardava
Veio do bar, comprou um cigarro
Comprou uma caixa de fósforos
Veio com fome, mas alcoolizado
Estava cru e endividado
Pendurado no fiado
Era conhecido no bairro
Amigo do dono do bar
Podia dever por semanas
Sempre dava um jeito de pagar
Mas sem álcool e cigarros não tem como ficar
O porco se espalhou feito leite derramado
A galinha mais esperta, se realocou
O pombo espiou e se pôs a farejar
Sobre as mesas vazias da praça o pombo comia seu jantar
Aquelas sobras o preencheram mais que seu dia
Fósforos queimados a esmo
Centímetros locados indiretamente
Sem família, casa vazia, mente em colapso
Apenas a lembrança das dívidas
O que lhe convém melhor? Ser expulso ou envenenado?
Grita em silêncio por qualquer um!
Qualquer um
Acena em desespero tentando chamar
Chamar qualquer um
Não lhes pede dinheiro, não lhes pede alimento
Oferece espaço e se doa em diálogo
Deplorável, sem sucesso, retorna a esperar
Mais um porco e mais uma galinha ainda irão jantar
Apenas um velho e pobre pombo empoleirado
Aguardando qualquer um