Agora as flores nascem
Por tanto tempo mortas, foram esquecidas
Flores do tipo que os corvos comem
Sabor doloroso de pétalas cortantes
Todas as outras aves preferem coisas vivas
Por não saberem o quão intragável é viver os últimos momentos
Já os corvos sabem bem como é estar na gaiola
Repetindo várias vezes ao dia os mesmos movimentos
É difícil inovar em algo que te limita
É difícil comer carne quando há cartas esquecidas
Por isso corvos comem flores
Mistura de más memórias, pior dos sabores
Mas irrefutavelmente melhor que viver os últimos momentos
Quando se está na gaiola
Primeiro veja se há portinhola
Pois vale a pena insistir na mínima chance de liberdade
Viver os últimos momentos é cruel
Os corvos entendem da morte, viram-na todos os dias durante a peste
Quando o corpo padece e as flores não estancam
Os últimos segundos se tornam imortais
Vivendo para sempre um momento agoniante
Um ciclo vicioso
A gaiola que força a repetir os movimentos
Repetindo sua morte
Mitigando o tempo
Amplificando o sofrimento