Escultura de Michelangelo

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Capítulo II: Escultura de Michelangelo.

Samantha Griffin - Point of View

Eu definitivamente poderia escrever um livro de como acabar com minha vida em dois meses, pois era exatamente isso que eu tinha feito. Há dois meses eu estava morando em Toronto, totalmente independente, só em tese porque minha mãe trabalhava demais naquele lugar e eu acabei por me virar sozinha, com previsões de acabar o ensino médio muito antes do previsto, e com todas as leituras invejavelmente em dia, só não sei inveja para quem...

E de repente aqui estou eu, descarregando caixas de mudança em uma cidadezinha chamada "Prince Rupert" com pouco mais de 12 mil habitantes, escondida nos confins do Canadá, perdida em meio ao pacífico e as florestas densas, coberta pelas nuvens espessas e que indicavam quase sempre a chuva, cobrindo o sol que raramente conseguia atravessar os chumaços de algodão.

Coloquei a última caixa do porta-malas na pequena varanda da casa de dois andares, vendo minha mãe pegá-la e se dirigir a cozinha, travei o carro e a segui, me preparando psicologicamente para descarregar todas as aquelas caixas. Sorri sem mostrar os dentes, olhando para minha mãe enquanto tirávamos algumas coisas das caixas.

A semelhança entre eu e minha mãe era até, dê certo modo, bizarra, tinha os mesmos olhos cinzentos dela, as características faciais também eram as mesmas, nariz fino, queixo bem definido, bochechas vermelhas e as pequenas sardas por conta da pele excessivamente branca, do meu pai eu herdara apenas o cabelo extremamente preto e as covinhas na bochecha.

- já te matriculei na escola... – mamãe, Shirley, falou enquanto empilhava os pratos no armário da cozinha rústica – é a única daqui. – riu sem graça, tentando suavizar aquele fato levemente bizarro. Eu perdia as contas de quantas escolas tinham em Toronto.

- ah... – ri sem graça, nada animada com a ideia – obrigada. – Abri outra caixa, constatando serem coisas do meu quarto. – vou levar isso aqui lá pra cima. – falei pegando a caixa e rumando escada acima, parando no corredor de assoalho escuro, olhando para os dois lados, a direita estava o quarto dos meus pais, ao centro do corredor, a pequena sala de estudos e biblioteca improvisada – minha mãe era historiadora e livros era o que mais tínhamos – e para a esquerda, na frente da casa, estava meu quarto, fui em direção ao mesmo, carregando a caixa pesada. Abri a porta com o pé, empurrando-a de leve e entrando no cômodo lilás, havia uma faixa no meio da parede por todo o quarto, com desenhos de nuvenzinhas, arco-íris e unicórnios.

-ah, fala sério... – bufei olhando aquilo, certeza que antes era um quarto de criança. Caminhei em direção a escrivaninha no canto do quarto, colocando a caixa lá e fazendo uma análise do cômodo. A cama quase ao centro não era grande, era uma cama de casal normal, com o edredom azul escuro que minha mãe havia mandado ao meu pai semana passada, a cômoda de madeira cor de caramelo ao canto não era grande, e ainda tomava coragem pra desfazer minhas malas, as cortinas brancas eram pesadas, mas estavam abertas, e a pouca claridade do dia nublado entrava pela janela de vidro. Meu pai alertou sobre a cidade ser nublada, só não imaginava que fosse assim o tempo inteiro, e já fazia algumas boas horas que estava aqui...

Há alguns anos, meu pai, Eric, havia se mudado para Prince Rupert, dizendo ser temporário, mas já se passaram seis anos então de temporário não tinha nada... Quando meu pai informou que teria o contrato renovado e teria mais um tempo aqui, minha mãe não aguentou ficar sozinha lá por mais tempo ainda, e decidimos vir para o fim do mundo chamado Prince Rupert, e agora estamos aqui... Meu pai trabalhava no único hospital da cidade, e era um dos únicos médicos dali, segundo o que ele nos dizia, havia apenas ele e outro que chegara a pouco mais de um ano atrás.

Comecei a colocar as coisas na cômoda e na escrivaninha, e não demorei muito pra terminar. Ao fim da tarde, meu pai chegou, e ouvi a voz dele ecoar pela casa com aquele tom doce e paspalho que ele tinha. Desci as escadas a tempo de ver minha mãe se afastando após um abraço, e ele estendeu os braços para mim, abraçando-me carinhosamente.

Human (Alice Cullen)Onde histórias criam vida. Descubra agora