Capítulo 2 - "Romeu e Julieta"

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Midoriya POV

Nos dias seguintes, tudo ocorreu normalmente. Agora, eu como junto com Lida e Uraraka e depois vou direto para a biblioteca, onde encontro meu veterano, Todoroki.
Ele parece ser aquele tipo de pessoa que tem dificuldade de se enturmar, assim como eu. Na segunda semana de aula, no intervalo, havia várias pessoas em volta do mural de avisos do corredor. Me perguntei o que estava acontecendo, porém não quis ser engolido pela multidão, então fui direto para a biblioteca mesmo.
- Bom dia Todoroki-senpai!
- Bom dia Midoriya.
- Você viu? Tem uma grande aglomeração de pessoas no mural de avisos!
- Deve ser por causa dos clubes.
- Clubes?
- Sim. A UA tem vários clubes diferentes: de literatura, cerâmica, artes, teatro, música, mangás-
- Mangás!? Sério!?
Eu acho que ainda não falei isso: eu sou um otaku que ama animes e mangás. Isso me faz um nerd ainda maior.
- Bem, sim... tem também o conselho estudantil, e os clubes de esporte... depois você dá uma olhada no mural.
- Legal! Você faz parte de algum clube senpai?
- Ano passado eu fazia parte do clube de literatura e do clube de teatro, e provavelmente vou continuar na mesma...
- Entendi.
Bem, como ele fica na biblioteca todo intervalo, eu achei mesmo que ele estaria no clube de literatura. Eu estou pensando em entrar no clube de teatro... agora que o Todoroki-senpai falou, eu fiquei interessado.
Mais tarde, na saída, eu decidi dar uma olhada no mural. Achei rapidamente o papel com o título "clube de mangás". Para se inscrever nesse e em vários outros clubes, era só ir na secretaria e preencher o formulário.
Os únicos diferentes eram o clube de teatro, que tem uma espécie de teste para entrar, e o conselho estudantil.
Fui com a Uraraka e com o Lida na secretaria, e me inscrevi no clube de mangás e no clube de basquete, mesmo não sendo alto o suficiente; Uraraka se inscreveu no clube de artes, no de vôlei e no de literatura; e Lida se inscreveu no de literatura, no de baseball e falou que ia tentar entrar no conselho estudantil.
Acho que vou tentar entrar no clube de teatro, para tentar algo diferente. O clube ia fazer um teste dali a dois dias, no auditório da escola, às 14:30.
Então, neste dia, logo depois do almoço eu já fui na escola. Quando cheguei lá, me dei conta de que não sabia o caminho para o auditório.
Por sorte, acabei encontrando Todoroki-senpai.
- Todoroki-senpai!
- Midoriya? O que está fazendo aqui na escola de tarde?
- Eu vim fazer o teste para entrar no clube de teatro.
- Ah, entendi. Você sabe onde é o auditório?
- Na verdade não...
- Então vem, eu estava indo lá agora.
- Oh, obrigado!
Nós dois caminhamos em silêncio até o auditório, que estava ocupado apenas por umas vinte ou trinta pessoas.
- Ei, Todoroki! - chamou uma voz.
Um garoto de cabelos loiros com uma mecha preta vinha correndo em nossa direção.
- Ah, oi Kaminari. - disse Todoroki.
- Vocês se conhecem Todoroki-senpai?
- Ele também fazia parte do clube de teatro ano passado.
- Oh, entendi.
Os dois ficaram conversando por um tempo, até que uma garota de cabelos rosa subiu no palco e chamou a atenção de todos:
- Atenção pessoal! Meu nome é Mina Ashido, e sou a líder do grupo de teatro! As pessoas que não estão aqui para fazer os testes, apenas para assistir, por favor se retirem.
Alguns alunos saíram do auditório, e depois ela continou:
- O teste será bem simples, nós iremos dar a cada um de vocês um papel e vocês terão que representá-lo. Por favor, os que irão fazer os testes sentem-se do lado direito, e quando forem sair do palco vão para o lado esquerdo.
Eu, Todoroki-senpai, Kaminari-senpai e todos os outros nos sentamos nas cadeiras do lado direito do auditório.
- Os papéis serão distribuídos agora, e começaremos com as pessoas da primeira fila, daqui quinze minutos.
Um garota veio distribuindo alguns papéis. Quando peguei o roteiro, percebi que era pequeno: um folha só, frente-e-verso. Percebi na hora a história: Romeu e Julieta. Seria duas pessoas por vez.
Comecei a treinar. Nunca fui muito bom em falar em público. Já comecei a achar que essa foi uma péssima ideia. Depois de quinze minutos, começaram a fazer os teste.
Não necessariamnte um menino e uma menina subiam no palco. As vezes eram dois meninos, as vezes duas meninas. Todoroki-senpai acabou fazendo os testes junto com uma menina do terceiro ano.
Fiquei encantado com o jeito dele de falar cada frase, o jeito que ele as interpreta. Realmente, ele é muito bom, espetacular.
Porém a medida que se aproximava do final, eu ficava mais ciente de que eu seria o próximo. Minhas mãos começavam a ficar suadas e meu coração batia cada vez mais rapido de ansiedade. Eu estava muito nervoso.
Assim que ele e a garota acabaram, eu subi no palco junto com uma garota do primeiro ano também. Nós ficamos no centro do palco, e eu consegui ver a líder do clube de teatro, Ashido-senpai, e mais outras duas pessoas sentadas nas cadeiras do meio, esperando.
Isso sim é desesperador. Minhas mão estavam que nem manteiga, e algumas gotas de suor começavam a escorrer da minha testa. Mas então, começamos a atuar. A menina começa, travando em algumas partes:
- Quem és tu que, encoberto pela noite, entras em meu segredo?
- Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser
teu inimigo; se o tivesse diante de mim, escrito, o rasgaria.
Fechei meus olhos, me abrindo a esse roteiro, tentando entender os sentimos de Romeu naquele momento.
- Minhas orelhas ainda não beberam cem palavras sequer de tua boca, mas reconheço o tom.
Não és Romeu, um dos Montecchios?
- Não, bela menina; nem um nem outro, se isso te desgosta.
- Dize-me como entraste e porque vieste. Muito alto é o muro do jardim, difícil de escalar, sendo o ponto a própria morte - se quem és atendermos - caso fosses encontrado por um dos meus parentes.
Respirei fundo, e me concentrei, calmamente, como se realmente fosse Romeu, e estivesse em frente de Julieta, minha amada:
- No caso de seres visto, poderão matar-te.
Eles poderão sim, me matar, mas ainda sim, eu continuarei te amando.
- Ai! Em teus olhos há maior perigo do que em vinte punhais de teus parentes. Olha-me com
doçura, e é quanto basta para deixar-me à prova do ódio deles.
- Por nada deste mundo desejara que fosses visto aqui.
- A capa tenho da noite para deles ocultar-me. Basta que me ames, e eles que me vejam! Prefiro ter cerceada logo a vida pelo ódio deles, a ter morte longa, faltando o teu amor.
Falo a última frase expondo meus verdadeiros sentimentos, como se eu realmente fosse o próprio Romeu, e que aquilo estivesse acontecendo naquele momento, aqui e agora.
Quando abro os olhos, percebo que todos me olham espantados e admirados. Ashido-senpai está com os olhos brilhantes de entusiasmo e até com uma lágrima no canto do olho.
Eu coro um pouco, envergonhado. Fiquei de olhos fechados o tempo inteiro. Isso não afetará alguma coisa, ou afetará?
Eu e a menina descemos pelo lado esquerdo do palco e me sento ao lado de Todoroki-senpai, que me olhava espantado.
- Midoriya, você fazia aula de teatro na sua antiga escola? - cochichou ele.
- Não, na verdade não. Por quê?
- Bem, aquilo foi perfeito.
- Você acha?
Fiquei aliviado. Pelo menos o Todoroki-senpai entendeu meu esforço e meus sentimentos. Se ele falou que foi bom, os outros devem ter achado a mesma coisa.
- Você também foi ótimo.

Todoroki POV

Durante o teste para entrar no clube de teatro, eu vi várias pessoas com talento, mas não imaginava que ia achar alguém tão... espetacular.
Quando me chamaram, eu e uma garota do terceiro ano subimos no palco e começamos a atuar.
A peça é Romeu e Julieta. Essa é um peça bem trágica, na qual os dois personagens principais se amam, porém não podem ficar juntos. No final, os dois se sacrificam pelo bem do outro, não aguentando a terrível verdade da vida.
Eu tentei entrar o máximo possível no personagem, e acho que consegui. Desci do palco e fiquei esperando. Os próximos seriam Midoriya e uma caloura.
Quando eles começaram a atuação, não acreditei: a garota não era muito boa, travava em algumas partes e comia algumas letras, porém Midoriya...
Foi uma das atuações mais lindas que eu já vi e ouvi. A voz dele interpretava exatamente o personagem, como se fosse o próprio Romeu ali. Os sentimentos estavam ali.
Tudo o que Romeu sentia naquele momento estava sendo interpretado incrivelmente por aquele garoto de cabelos verdes. Uma coisa que eu percebi, foi que ele ficou de olhos fechados o tempo inteiro.
Aquilo deu uma ideia de concentração, de que ele entendia perfeitamente aqueles sentimentos.
Inacreditável. Assim que eles saem do palco, Midoriya vem sentar ao meu lado.
- Midoriya, você fazia aula de teatro na sua antiga escola? - cochichei.
- Não, na verdade não. Por quê?
- Bem, aquilo foi perfeito.
- Você acha?
Aquela foi a primeira vez que ele atuou na vida? Ele tem então um talento natural. Depois de mais algumas pessoas, o teste acabou. Ashido subiu no palco e começou a falar:
- Muito bem pessoal, os resultados dos testes sairão nessa sexta feira, e ficarão expostos no mural de avisos do corredor. Os horários dos ensaios estarão lá também. Muito obrigada pela participação de todos. Tenham uma boa semana!
Aos poucos, as pessoas foram saindo. Eu e Midoriya saímos e ficamos parados na frente do auditório.
- Todoroki-senpai, o que você vai fazer agora?
- Eu preciso ir para a sala do clube de literatura...
- Eu vou para o clube de mangás... então até mais tarde!
- Até...
Midoriya saiu correndo pelo corredor. Ele ao menos sabe onde é a sala do clube de mangás? Enfim, isso não importa.
Fui andando pelo corredor também até chegar na sala do clube de literatura. O resto da tarde se passou normalmente, com exceção de uma coisa. Midoriya não saia de minha cabeça.
Ele é a única pessoa com quem eu consigo falar normalmente, sem muito receio. É um ótimo ator, é gentil, fofo... ei, o que eu estou pensando!?
Ele é apenas um calouro Todoroki. Apenas um calouro... e eu sou seu veterano.

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Senpai: veterano/veterana.

Aviso: o trecho de Romeu e Julieta que apareceu no texto é realmente um trecho do verdadeiro roteiro de William Shakespeare.

Meu Veterano - TododekuOnde histórias criam vida. Descubra agora