CAP.4

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         Lembro de relance de algumas coisas, foi tudo muito rápido. Aparentemente Lindsey havia informado exatamente oque aconteceu, vários policiais entraram com roupas de contenção levando a todos. Perdi Thomas de vista num piscar de olhos, quando me dei conta estava nua numa sala de descontaminação. Descartaram a roupa que eu estava usando naquela noite e me deram outra máscara e par de luvas, lembro do jato em forma gasosa percorrendo meu corpo, saindo do teto e paredes.
      Eu fui jogada no chão, e pela primeira vez o toquei e senti a cerâmica gelada, a tinta seca da parede e algumas sensações não tão incríveis assim. Não fiquei internada, mas num tipo de sala de espera perto de quem realmente estava internado. Todos que tiraram a máscara, beberam, beijaram ou até tiveram relações. Fizeram as coisas rápidos demais, embora não precisassem de fato todos ansiavam por experimentar todas as sensações possíveis em pouco tempo, e agora eles conseguiram, fizeram coisas banais e fúteis pra acabarem sob observação num hospital fedorento.
             Lindsey ainda chorava, um rubor vermelho permanecia em suas bochechas que continuavam molhadas, ela encarava fixamente a maca da irmã. Outras pessoas estavam sentadas junto a nós, mas ninguém ousou soltar alguma palavra até agora.

-Você tá bem?- Thomas perguntou sentando ao meu lado e se alimentando pela sonda.
-Tô eu acho, e você?- Eu perguntei o olhando.
-Tava faltando glicerina no meu sangue, tirando isso eu tô bem.- Ele parece sorrir e depois olha pra própria barriga, as sondas eram só pra casos de risco a décadas atrás. Mas agora era tão comum, vivíamos normalmente como se não tivesse nada nos atrapalhando, mas todos queriam comer pela boca- Como tá sua amiga?- Ele aponta pra Lindsey com a cabeça.
-Não sei dizer, ainda não falei com ela.- A olho e suspiro- Ela se culpa, está se remoendo de dor. Ela acha que a irmã vai morrer, e talvez morra...- Lamento, Abby também era minha amiga e eu também sofreria- Mas eu espero que não.- Me viro e esboço um sorriso.
-Não sei oque dizer.
-Não diga, deixa que eu falo.
-Tá.-Ele dá de ombros.
-Máscaras transparentes, como é usar? Te vi usando com sua família no programa do Bob mês passado.- Fica evidente que ele solta um riso abafado, para de se alimentar e olha pra mim-Vamos, estou esperando.
-Bom, é legal mas eu não gosto muito. As pessoas me encaram como se eu fosse um deus por tê-las, encaram meu sorriso como se fosse a coisa mais linda do mundo mas...- As palavras falham- É divertido, intrigante viver com elas, mas eu só queria viver sem elas.
-É verdade que você queria dar uma pra mim?
-O que te faz pensar isso?
-Explosivas...- Repito uma parte de sua descrição no dia do programa-  Ficou bem na cara- Solto um risada.
-É, é verdade. Seu sorriso deve ser bonito.- Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, sinto o plástico de sua luva de leve contra meu lóbulo, mas dessa vez o toque não me incomoda.

           Eu encaro seus olhos castanhos por um tempo, a luz da sala refletia sobre eles dando um brilho habitual mas mesmo assim magnífico. Nossa conveniente troca de olhares é interrompida por gritos na porta da sala de espera. Algumas pessoas se levantam e vão até la, incluindo nós dois, me coloco na ponta do pé pra enxergar melhor é vejo meus pais discutindo com o segurança.

-A gente quer vê-la!- Minha mãe protesta.
-Senhora, ela está sob vigilância.- O segurança diz com calma.
-Oficial Blaine, oque está senhora e seu marido querem?- Um homem de terno e gravata surge e pergunta. 
-Queremos ver nossa filha, Cecília Campbell.- Meu pai fala tentando não surtar aparentemente.
-Pode liberar oficial, ela já foi descontaminada e as roupas foram trocadas.- O homem chique diz e o segurança assente.
-Para trás todos!- O oficial fala dando batidinhas no vidro com o cassetete, todos voltam a se sentar menos eu e Thomas- Sua família está esperando senhorita Campbell.- Ele diz já dentro da sala e depois encara Thomas
-Nos vemos outro dia docinho?- Thomas pergunta quando o segurança abre passagem pra mim.
-Espero que não.- Sorrio- Não me chame de docinho.
-Okay Ceci...- Ele anda lentamente até o assento e se despede com a mão, viro pra trás e olho uma última vez pra Lindsey, que parece sorrir e depois volta a atenção pra irmã ainda desacordada.

         Saio pela porta e minha mãe me abraça, o segurança a trava de novo e depois vamos embora. Olho em volta e o homem de terno não está mais aqui, o hospital nunca está muito cheio oque me acalma, vejo os pais de Abby e Ashley na sala de espera externa, ambos chorando. Não os cumprimento, apenas sigo meus pais rumo a casa. Chegamos e eu só me troco e vou dormir, estava exausta, já era de madrugada e o cheiro do hospital me desgastava e eu o odiava. Antes de dormir penso em Thomas, será que ele quer realmente quer ser meu amigo? Talvez devesse dar uma chance, mas paro de pensar quando caio no sono.

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