CAP.8

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        Caminhei por talvez uma hora e meia com Steve, ele era incrível eu diria. Tinha um senso de lógica surreal, bem amplo pra tudo é acho que nunca conheci ninguém assim. Ele não ficava de apelidos irritantes ou de insinuações ridículas ou algo do tipo, ele tinha foco é tinha paciência, ele era espetacular. Por uns minutos pensei ter encontrado o amor da minha vida, mas lembrei que isso era impossível porque as coisas não eram assim e nunca seriam.
        Depois de muitas quedas, risadas, piadas e assuntos interessantes eu e ele entramos, afinal era hora do tal parabéns. Em aniversários normalmente as pessoas só cantavam ao redor do bolo, e usavam uma máscara com furinhos pra soprar a vela. Obviamente nunca comiam aquela mistura interessantíssima que eu sempre quis provar, mas dava um bom enfeite.     
          Chegamos exatamente na hora, Thomas já estava atrás da mesa e seus pais ao seu lado. Ele olhava pra mesa com o olhar perdido, parecia distante, fiquei um pouco preocupada mas ele voltou a normal quando me viu e fechou a cara ao ver Steve que só sorriu e acenou pra ele. Ele parecia uma criança atrás daquela mesa com forro rendado e um bolo com granulado, mas diferente de uma criança no dia de seu aniversário ele parecia triste.

-Hoje meu filho completa 19 anos.- O pai de Thomas diz com um sorriso convencido e arrumando o blazer, acaba por fazer uma pausa dramática encarando cada convidado e parando alguns segundos pra olhar pra mim- 19 anos de felicidade e sabedoria, 19 anos de uma vida extrema e alegre com limites é claro.- As pessoas soltam algumas risadas discretas aparentemente desdenhado da falta de independência de Thomas.
-E hoje celebramos seu aniversário com alguns amigos próximos.- Sua mãe fala e ele revira os olhos, de acordo com oque me disse só eu sou sua amiga lá.

      O “ritual" começa: palmas, musiquinha enjoativa, sorrisos, luzes apagadas, vela acesa... Tudo acontece normalmente, Thomas apaga as velas e sorri de leve pra multidão. Todos batem palmas novamente e ele continua perdido, isso me preocupa um pouco mas depois conversaria com ele. Seu pai vulgo Jeremy susurra algo em seu ouvido que o faz despertar, juro que se estivesse mais perto decifraria oque seus olhos disseram mas como estava meio distante apenas deduzi que estaria furioso. Ele olha pra mim com aquele olhar perdido e confuso, eu sorrio e ele volta a olhar pro pai oque faz ambos andarem a outro lugar.

-Eu já volto okay?- Steve diz antes de sair também, oque raios está acontecendo? Apenas assinto com a cabeça o vendo sair do meu lado.
  
        Me sinto meio perdida, ando um pouco e vejo uma mesa com alguns embrulhos. Talvez sejam os presentes dele, coloco o meu lá, apenas uma cartinha qualquer. Continuo olhando em volta com o maior tédio do mundo. Depois de um tempo decido ir embora, já não tinha mais oque fazer lá, e eu saio.

...
    

      Antes de ir pra casa decido passar no parque onde havia uma belíssima fonte evidentemente desgastada, um jardim florido ao redor e em lugares estratégicos também haviam flores. Não havia muitas lojas por perto, então geralmente só artistas e admiradores da vida ou natureza iam aquele lugar, e faltavam ambos na minha cidade. Ao chegar lá sento num banco de madeira igualmente desgastado, ele ficava de frente pro luar de todas as noites oque deixava tudo mais mágico.
        O brilho da lua que cientificamente não era todo dela reluzia nas pétalas das flores mais adiante, algumas molhadas pelo sereno oque me lembrava os contos de fadas e a Rosa do Pequeno Príncipe que só possuía 4 espinhos, 4 espinhos contra o mundo. Assim eu me sentia, também me sentia arrogante como a mesma, usando um amigo em vez de lhe contar a verdade é um absurdo. Meus pensamentos são interrompidos por uma voz calma mais adiante.

-Oi docinho.- Thomas ri se aproximando e senta ao meu lado- Como vai?
-Oi, bem é você?- Pergunto voltando a atenção pra lua- Você não tava completando 19 anos?
-Já completei, vida que segue. Rumo aos 20.- Ele ri mas não vejo graça e apenas sorrio- Porque está aqui?
-Faz tempo que não venho, e eu gosto da lua, meu quarto nem minha varanda tem uma boa visão dela.- Digo ainda sem o olhar e sinto que o mesmo repousa seus olhos em mim- Porque docinho?
- Como?
-Porque me chama de docinho?
-Ironia.
-Ironia?- O mesmo confirma-A quê?
-Quando nos conhecemos, não sei se lembra mas não foi nada doce comigo.- Ele ri e dessa vez eu solto uma risada junto a ele.
-Mas se eu fosse um doce, qual doce eu seria?
-Bolo de limão, todo mundo gosta mesmo sendo meio azedo, além de que é maravilhoso.- Ele dá de ombros e eu abaixo a cabeça sorrindo com timidez-E eu?
-Brigadeiro de morango, é bom e delicioso mas as pessoas têm suas dúvidas. Parece artificial e as vezes enjoa, mas ninguém para de querer.- Sorrio e vejo o mesmo rindo descontroladamente- Se você levar pro duplo sentido eu te quebro na porrada.
-Nossa que grossa.- Ele para de rir e me observa- Você me acha artificial?
-Na verdade não.- Olho pro rosto do mesmo, talvez agora seja uma boa hora pra arrancar alguma informação- Mas é porque você e filho de famoso e as vezes aparenta ser isso mesmo não sendo. Aliás, porque seu pai veio junto com vocês pra cá?
-Vou levar como um elogio.- Ele sorri mas hesita pra responder- Na verdade eu não sei mais, ele havia vindo gravar uma minissérie mas ela foi cancelada e estamos vegetando eu acho. Ele gostou mesmo daqui, talvez eu fique.- Ele pisca pra mim e sorrio de novo.
-Entendi.- Digo pensando em já ligar pra Lindsey - Essa sua piscadinha tentando flertar não funciona comigo Thomas, somos amigos.- Digo autoritária.
-Calma docinho, eu não pisco pra flertar, pisco pra irritar.
-Pois funciona bem.- Reviro os olhos- Já disse o quanto esse apelido é ridículo?
-Na verdade não, não vou parar de te chamar de docinho mesmo se falasse.
-Eu sei.- Bufo e olho meu relógio- Já tenho que ir, obrigada pelo papo, nos vemos outro dia.- Levanto e o vejo sorrir.

         Me afasto mas antes olho pra trás uma última vez, ele permanece sentado observando a lua, parecia pensar densamente em alguma coisa que eu não seria capaz de compreender. Volto a focar no meu caminho e já pego o telefone ligando pra certo contato.

-Alô, Lindsey? Descobri uma coisa.- Falo e respiro fundo me preparando pra falar minhas teorias.

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