CAP.17

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        Glenda e eu éramos verdadeiras espiãs, conseguimos ir todo o percurso sem sermos pegas por nenhum médico, enfermeiro ou algo do tipo. Ela era divertida, Thomas havia me dito algumas vezes que ela era como uma melhor amiga, e agora eu entedia o porquê. Viramos mais alguns corredores, ela realmente sabia o caminho exato oque nos fez chegar bem rápido ao quarto onde ele estava internado.

-Obrigada.- Agradeci ao chegarmos na porta do quarto a olhando- Jeremy não quis vir?                   
-Ele achou melhor você ter um tempo sozinha com ele, vocês devem ter muito a conversar.- Glenda aparentou dar um sorriso- Vou estar vigiando aqui, não demore muito por favor.- Eu assinto com a cabeça e respiro fundo antes de puxar a maçaneta e entrar na sala, em seguida a fechando de novo.

        Thomas cochilava tranquilamente na maca, seu corpo estava vestido somente com a roupa do hospital, um cobertor fino o cobria até o peito. Uma máscara permanecia em seu rosto, diferente das outras ela tinha fios que a ligava a um tubo de oxigênio a esquerda de onde ele estava deitado. Me aproximei com cautela e puxei um banco próximo, me sentei ao seu lado, queria deixá-lo dormindo mas não poderia perder a oportunidade de falar com ele, ainda mais sem saber quando teríamos outra.

-Thomas, Thomas...- O balancei com cuidado e delicadeza, o vi resmungar um pouco até abrir os olhos e rapidamente os fixando em mim.                                                                                      -Cecília é você? Eu morri?- Ele não levanta, sabe seu próprio estado. Toca de leve meu braço, suas mão possuem uma seringa e seu peito dois aparelhos que se ligam a uma máquina que monitora o batimento cardíaco.                                                                                         -Sou eu.- Tiro a máscara e as luvas, coloco minha mão sobre a dele e sorrio o encarando- Vim te ver.                                                                                                -Como? Não é permitido visitarem pessoas com...- Ele para de falar e me olha, ameaça tirar a máscara e eu tento intervir, mas ele insiste que eu não o faça- Desculpa não ter te avisado, desculpe por não ter falado a verdade sobre tudo que estava acontecendo, eu menti a cada segundo até me entregar por inteiro a você.- Eu contorço o nariz enquanto ele continuava me encarando.                                                                                                                            -Eu também errei, apesar de evidentemente não ter sido um erro tão doloroso quanto o seu, eu errei.- Dou de ombros já contendo as lágrimas que imploravam a sair.                                      -Mas doeu mesmo assim, usamos um ao outro pra nada.- Ele suspira meio sarcástico e entrelaça nossos dedos- Queria que tudo tivesse sido diferente.
-Oque por exemplo?- Acaricio as costas de sua mão com o polegar vendo que seus olhos já brilhavam devido as lágrimas.                                                                                                                        -Tudo, queria que esse corona nunca tivesse existido, queria que você tivesse sido mais gentil comigo na biblioteca, queria ter te convidado pra sair,- Ele desvia o olhar e sorri de forma apaixonada- queria ter te beijado aquela noite que olhamos a Lua, ah... Aquela noite, você estava tão linda. Eu queria poder ter visto seu rosto por completo naquela noite. Ver o ar quente escapando por entre seus lábios, o resto de sua expressão preocupada mas mesmo assim tão linda. Me sinto culpado por estar elogiando só sua beleza, sabendo que você é evidentemente mais que um rosto bonito. Queria poder viver pra quem sabe um dia ver seus traços em nossas crianças...                                                                                                                  -Para!- O corto de forma grosseira e aperto mais sua mão- Você não vai morrer, eu não vou deixar. E se você for eu nunca vou te perdoar.- Digo já sentindo lágrimas quentes e gordas descendo por minha bochecha.                                                                                    -Não diga isso docinho.- Thomas faz uma pausa e coloca sua outra mão sobre a minha- Não viva com o fardo de me deixar ir sem ter me perdoado, não fale bobagens nesse momento, fale oque sente.                                                   -Oque sinto?                     
-Isso.                                                                                                                                        -Eu sinto muitas coisas, coisas confusas. Eu sinto saudade, vontade, raiva, desejo, angústia... Isso tudo só por você. Mas obviamente não é apenas isso.- Observo as lágrimas caindo de seus olhos e desvio o olhar- Eu sinto amor, um amor incondicional, um amor que dói, que machuca. Não deixa de ser bom, ainda é amor, mas eu não sei explicar. E-eu... - Perco as palavras e seu polegar acaricia meu pulso de forma reconfortante me fazendo olhar pra ele que mesmo chorando muito mantinha um sorriso meigo no rosto oque me faz continuar- Eu lamento ter demorado tanto pra perceber, ter sido teimosa por meses. Eu deveria ter dito mais cedo, devia ter dito mais cedo que te amava.- Me toco do que disse, levanto a cabeça pra olha-lo com uma expressão chorosa- Eu te amo Martin.                                                                      -M-me ama?- Ele se senta na maca com uma expressão vitoriosa e extremamente eufórica- Eu também te amo, te amo muito. Eu te amo.- Ele me puxa pra um abraço o qual eu correspondo imediatamente e me sento na maca facilitando o contato, puxo com leveza seu queixo quando o abraço se separa- Ceci eu tô doente, não posso.- Ele susurra mantendo seus braços em mim.     
  -Me deixa fazer isso por favor, se você não estiver aqui amanhã eu...- Acaba que é ele que me beija cortando minha frase de imediato e me calando. É um beijo desesperado, calmo e trêmulo devido a ambos estarmos chorando oque também o torna um beijo salgado- Não me deixa por favor.- Peço num susurro audível quando separamos o beijo e colamos nossas testas.                       
-Você sabe que não posso prometer, eles vem testar tipos diferentes de prováveis curas em mim todo dia. Tem evoluído rapidamente em mim, não sei se passo de hoje. Nada funciona.- Thomas explica depois de afastar nossos rostos e deitar de novo.
-Mas pode funcionar.
-Ceci eu já não tenho mais esperanças, me perdoe, mas por mais que queira continuar vivo não vejo como.- Ele termina de falar e tosse algumas vezes, em seguida coloca de novo a máscara de oxigênio enquanto eu segurava sua mão-Vc me ama mesmo?
-Mais do que você imagina.
-Você me ama do jeito que Hamlet amava Ophélia?- Ele diz acariciando meu rosto com q outra mão.
-Amo, assim e mais.
-Então me deixe ir, não viva com a dor. Seja feliz por favor. Você pode encontrar um outro alguém, pode se casar e infrigir as leis com outra pessoa. Pode ter filhos.- Ele diz meio fraco e eu vejo seus batimentos aumentarem um pouco.
-Não vale a pena fazer isso se não for com você.
-Somos jovens, você vai viver e eu não. Quero que você aproveite, do jeito que não poderei.- Ele fala e ri baixinho, tira a mão do meu rosto e me deixa encara-lo- Quando eu chegar ao paraíso e for falar das pessoas que amei aos anjos, vou te chamar de inesquecível Cecília. Você merece um título além de amor da minha vida.
-Por favor não fala isso...- Me aproximo dele com nossas mãos sobre seu peito a medida que lágrimas de ambos os olhos caíam.
-Sabe o segredo que a raposa conta ao Pequeno Príncipe?- Assim que ele fala escuto pessoas discutindo do lado de fora do quarto, tínhamos pouco tempo- Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.- Ele diz ainda chorando e coloca de novo a mão em meu rosto- Assim que eu fechar meus olhos pra nunca acordar...- Ele começa a falar com dificuldade e a máquina vai apitando mais rápido- Eu vou ver você, e vai ser assim pra sempre. Porque você é essencial pra mim, sempre foi, e eu culpo o tempo por não feito a gente se conhecer mais cedo.- Ele ri e sua respiração se torna mais forte- Eu te amo docinho, sempre amei. Não se esqueça disso...- A porta faz um estrondo se arrombando- Inesquecível Cecília.

     
            Meus olhos molham suas mãos em grande excesso, sou puxada com velocidade e me debato pra não sair. Médicos e enfermeiros estão ao redor da maca de Thomas, a máquina apita mais e mais rápido. Ele começa a sufocar, se afogar, do mesmo jeito que aconteceu antes do nosso primeiro toque. Ele se afoga com o vento, o ar é tirado dele aos poucos, se afoga no seco. Mas eu não posso salvá-lo do jeito que ele me salvou. De repente tudo se torna silencioso, meus berros, as máquinas, os barulhos desesperados que ele emite, os seguranças me repreendendo. A última coisa que vejo é seus olhos apontados pra mim, mesmo perto da morte ele sorri, uma última lágrima silenciosa cai e o aparelho se mantém num único toque, a linha fica reta. Os seguranças me soltam, eu caio no chão, minha boca se abre mas não sai nada, meus olhos transbordam, não parecem ser lágrimas, parece ser lava. Dói, arde, e machuca. Talvez eu devesse ter levado O Pequeno Príncipe mais a sério: "A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar."

FIM...?

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⏰ Última atualização: May 04, 2020 ⏰

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