Vó... a vida sem você não é a mesma

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O relógio
Nunca para
Maldito seja
Maldito.       Seja.       O.         Tempo
Qual é o sentido
Não entendo
Que ridículo
Que vida lixo
Que fogo pode queimar a desgraça de uma vida

Maldito, você me tomou tudo
Você me tirou a liberdade
Você me deixou mudo
Você me plantou a maldade

Eu perdi meus amigos
Perdi minha inspiração
Não sei se consigo
Controlar esse maldito coração

Conflituoso...
Quanto tempo vou ter que fugir?
O que eu escrevo não presta...
Eu não sei mais sorrir.
Será? Fuja! O mundo é muito estranho!
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Faz tempo que eu não te vejo
Eu fui na sua casa pela última vez há três meses.
Eu fui no cantinho que você costumava sentar,
Eu olhei o cinzeiro que você costumava usar,
Eu sentei na cadeira, que você costumava sentar.
Eu fui no canto da cozinha onde você costumava cozinhar,
Mas, eu não te achei lá.

Eu fui na sua cama
Mas eu não te vi deitada.
Eu vi seu crochê...
Mas você não tava tricotando...

Parece que cada que cada lugar que eu vou eu tô te procurando,
Mas você não tá lá.
Eu perdi a oportunidade de tomar o seu café,
De experimentar aquele prato que você me insistia pra comer.
Agora que queria experimentar,
Mas você não tá lá pra cozinhar.

Ah mas que bom,
Fazia uma semana que eu não te via.
Mas pelo menos, no mínimo
Eu te vi no seu último dia.
Eu lembro de cada mínima palavra que você me disse,
Às vezes, parece que você sabia, você sabia de tudo né? Eu me lembro...
Me disse pra comer bem.
Me cantou aquela sua música favorita
E me disse que tava doente.
Me falou que ia me ajudar com a Depressão,
Me disse pra seguir em frente.
Ia dar tudo certo.
Se você disse confio.
Parece que você sabia?
Foi bem num dia 22
Engraçado
Você nasceu no dia 22
Velhinha calculista...
Sempre foi.
Sinto muito, mas como você disse,
O Brasil não melhorou enquanto você tava viva.
O que você diria se soubesse que soltaram o Lula?
Nossa. Ia ser um discurso, como sempre.

Mas e o Azeitona? Seu gatinho favorito?
Ele sente saudade.
Eu também.
E aqueles gatos que só você sabia cuidar...
Já fazem dias que eles não comem.
Eu também fiquei um tempo sem comer
Eu ainda me lembro de como foi a manhã do dia 22.
Eu me lembro de perder o chão.
Eu me lembro de você falando que enterro é perda de tempo.
O que você diria se soubesse que o seu enterro foi bem na hora que você não queria?
A hora do almoço.
"Minhas panela no fogo" você ia dizer!

E quando eu entrei naquela sala do prever,
Você dormia, serena.
Pelo menos, tava desestressada.
Me lembro de te fazer o último carinho...
Irônico.
Ontem você tava me fazendo carinho,
Você dizia que seu anjo da guarda já queria descansar um pouco do trabalho.

Hoje quando eu começo um poema
Eu lembro de você me dizendo
Que eu era seu poeta favorito
Eu lembro na roda de família você se gabando de eu ser seu neto.

Eu me lembro do caixão fechando.
A última vez que eu te vi,
E da sua filha primogênita, minha tia que mais te apoiava
Batendo palmas em honra a mulher que você foi.
Minha heroína.
Minha dona Dejanira.
Eu me lembro da última coisa que eu te disse em vida: Tchau vó, eu te amo, amanhã eu volto.
Eu ia voltar,
Mas...
Você não voltou.

Tchau vó, eu te amo.
Vamos nos encontrar denovo.

E termino esse poema como você terminava nossas conversas:
Até breve.

Foi depois de morrer que eu viviOnde histórias criam vida. Descubra agora