Normal

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Olá, olá, cerejinhas!
Sim, vou ignorar o fato de não ter postado capítulo ontem e agir naturalmente. Todo mundo sabe que eu nunca sigo o cronograma...

Aproveitem ⏳

  Meus pais estranharam a volta dos cochichos pela casa e meu olhar perdido em direção a cantos vazios. Fiz o possível para disfarçar, estava tentando equilibrar a atenção que dava a Alastor e as pessoas reais, o quê, devo confessar, ficava cada vez mais difícil.

  Eu não podia deixar que meus pais voltassem a interferir com relação a isso, não queria perder nenhum amigo ou preocupar minha família, ainda mais porque mamãe morria de medo que sua filha fosse uma maluca esquizofrênica que via espíritos.

  Portanto, é justificável o meu desespero ao ouvir meus pais conversando a respeito do meu comportamento "estranho".

† Décimo Quinto Flashback - Normal †


  Batia os dedos impaciente em cima da penteadeira, haviam se passado 40 minutos e Luan continuava gritando no celular, queixando-se por não ter o atendido no dia anterior. Alastor batia a cabeça na parede há exatamente o mesmo tempo. Estávamos cansados.

— Luan... Luan... Eu sei que não foi legal, mas olha, pelo menos você conseguiu ficar com a Leia... Eu sei... Só estou falando que se eu tivesse te atendido você ainda estaria na centésima trigésima tentativa, então, de nada — desliguei o celular sem esperar uma resposta.

— Finalmente!

— Eu não aguento mais — resmunguei batendo a cabeça na mesa. — Ter amigos é tão complicado.

— Eu falei que era melhor do que eles.

  Ignorei o comentário de Alastor, indo em direção à cozinha. Podia ouvir meus pais conversando e o barulho da panela de pressão anunciando que o almoço ainda iria demorar.

  Alastor me acompanhou durante o curto caminho, imitando as falas de Luan com uma voz fina.

  Paramos na entrada da cozinha, o sorriso de Alastor sumiu.

— Odeio não poder ficar com você quando seus pais estão em casa.

  O dia de me mudar para minha própria casa se aproximava e eu me via estranhamente animada para deixar o lar dos meus pais e ir morar com Alastor.

  Era hora de entrar em uma nova fase da minha vida, com minhas próprias regras, que deveriam ser seguidas por todos. Nada de música gospel, nada de lavar roupa todo sábado à noite e nada de decorações bizarras dadas por parentes. Somente eu, minhas principais composições emoldurando as paredes e potes com balas de menta em todos os cômodos. Alastor acabou passando esse costume para mim e eu não passava um dia sem chupar pelo menos alguma bala mentolada.

— Isso vem ficando cada vez mais preocupante Agatha.

— Pode ser só uma fase.

— Uma fase? Ela já é uma adulta, já passou da idade de ter "fases" — papai fez aspas com os dedos, ele parecia irritado.

  Meus pais se encontravam debruçados sobre a mesa, cochichando como se eu fosse uma grande ameaça.

— Estão falando de você.

— Sério? — revirei os olhos, as vezes Alastor conseguia ser tão óbvio.

  Nos abaixamos um pouco, procurando uma forma de escutar os sussurros impacientes dos dois adultos.

— Querido, você não acha quê...

  Minha mãe tinha uma expressão assustada enquanto supunha a ideia de retornar com os remédios e consultas ao terapeuta. Meu pai apertou firme a sua mão, passando uma cumplicidade que desejei para o futuro.

  Eu não podia deixar que tudo se repetisse, quando tudo aconteceu da primeira vez, meus pais não souberam lidar, levaram-me em tudo quanto era lugar que oferecia uma possível cura para minha suposta loucura.

— Vamos fazer com que Valentina fique mais algumas semanas com a gente, precisamos ter certeza de que ela voltou a ver coisas para falarmos com a psiquiatra.

— Não sou uma coisa — Alastor falou alto, mas não me preocupei, ninguém o ouviria. — Saudades do tempo em que as pessoas me respeitavam.

  Não conseguia entender como meus pais poderiam ter descoberto Alastor, eu fui tão cuidadosa em todas as vezes que eles estavam em casa, sempre com o celular no ouvido enquanto conversava com ele ou com a TV ligada no volume máximo. Não tinha como eles descobrirem.

— Nossa menininha...

  Minha mãe começou a chorar.

— Querida, louca é uma palavra forte, nós sempre soubemos que Valentina tinha esse tipo de problema, isso não faz dele menos do que nossa filha, a mesma Valentina incrível e inteligente que criamos.

  Papai estava desesperado, suas palavras não pareciam condizer com o que realmente pensava de mim. Passou a mão pelo rosto, buscando esclarecer seus pensamentos, perdido. Afinal, o que fazer quando sua princesinha começa a dialogar com coisas que só ela vê?

  É loucura? Mediunidade? Esquizofrenia? Sobrenatural? Foi influência dos pais? Das amizades? Dos filmes de terror?  Não se tem más influências para culpar e a criação que me deram não explica esse tipo de fenômeno. Seria maldição? Talvez a loucura fosse de família?

  Meus pais estavam se culpando e eu me sentia um lixo por isso, mas também estava com raiva, porque eles deveriam confiar em mim e saber que tinha tudo sob controle.

— Eu não sou louca — gritei entrando na cozinha.

  Minha mãe tratou de enxugar as lágrimas que escorriam por sua face em abundância e meu pai lançou o melhor sorriso que conseguiu, buscando contornar a situação.

— Tina! É feio ouvir a conversa dos adultos.

— Falar dos outros é muito mais feio — caminhei em direção ao filtro, precisava beber alguma coisa. — E eu também sou adulta.

— Contínua sendo desrespeitoso.

— O quanto você ouviu Valentina? — minha mãe se pronunciou, bem mais séria do que meu pai.

— O suficiente. Não se preocupem, eu não voltei a falar com as paredes — bebi um pouco da água, meus pais trocaram olhares preocupados. — E eu não vou esperar duas semanas para me mudar, na verdade, amanhã mesmo estou saindo de casa.

  Não deixei que eles respondessem. Era a segunda vez no dia que não esperava por respostas, talvez esse foi um dos meus erros.

  Meus pais não comentaram mais sobre o assunto e eu fiz questão de não falar com Alastor até o dia da mudança, quando finalmente poderia ser livre de toda essa preocupação sufocante.


  Existe algo engraçado em começar uma nova vida longe dos seus pais. Você começa a descobrir que algumas coisas não se fazem sozinhas e que outras não são tão divertidas quanto parecem.

  Eu não era louca e fiz o possível para que concordassem comigo. Não deixei que nossa pequena discussão atrapalhasse uma relação tão especial, por isso continuei ligando todos os dias pra casa e recebendo meus parentes a cada quinzena.

  Tratei de me acalmar. Como poderia ser louca, se Alastor existia de verdade? As pessoas não podiam vê-lo, mas isso não significa que ele não é real. É só questão de opinião.



A última frase veio direto de uma música da Pitty.
  Achei esse capítulo essencial para mostrar como a relação da Tina e do Alastor afeta as pessoa em volta dela. Preocupação exagerada ou cuidado necessário? Digam-me vocês.
  Nesse momento me encontro um pouquinho preocupada com o final de Amência. Vocês esperam que Valentina e Alastor fiquem juntos?

Beijinhos caramelados ⌛

AmênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora