Olá, olá, cerejinhas!
Esse vai estar sendo a única atualização de hoje, estou um pouco ocupada tentando ajudar minha mãe a fazer um bolo.
Capítulo inspirado em Pity Party, da Melanie Martinez.Aproveitem ⏳
Aniversários sempre foram um tema questionável para mim, sentia que um ciclo estava se completando e nada havia mudado. As pessoas fazia de datas assim grandes eventos, sendo que estávamos apenas chegando mais perto da morte e celebrando algo completamente sem sentido.
Mas, mesmo odiando aniversários, Alastor estava tão animado para comemorar sua data que organizei uma pequena festa para nós dois.
† Décimo Sétimo Flashback - Interrogação †
O bolo parecia menor do que o que vimos na vitrine da padaria, mas, considerando quê, Alastor e eu éramos os únicos convidados da festa, tinha o tamanho perfeito.Enchi balões vermelhos e amarrei todos com fitas roxas, comprei copos coloridos e fiz alguns docinhos.
Alastor estava radiante, não me lembrava da última vez que o tinha visto tão feliz com algo.
— Festas de aniversário são tão empolgantes — sua fala foi preenchida de risos. — Pena meus amigos não poderem vir.
— Desde quando você têm amigos?
— Tem muita coisa que você não sabe.
Não me importei, já havia me acostumado com o jeito misterioso de Alastor e até achava que isso o deixava ainda mais fascinante.
— Obrigada por desmarcar seu compromisso pra isso — apontou para o bolo.
— Tá tudo bem, fazem essas confraternizações todo ano, no próximo eu vou.
O ano tinha sido tão exaustivo que eu nem me importei em recusar o convite de Luan e Leia para o amigo secreto na casa deles, Alastor era uma companhia muito melhor e mil vezes mais silenciosa.
— O que fazemos agora?
— Agora você deveria fazer sala para os convidados, mas...
Contemplei a sala vazia. Cara, isso parecia tão solitário, uma festa só com um convidado, e esse único convidado era eu! O que é ainda mais triste.
— Podemos cantar parabéns.
— Perfeito!
Deixei Alastor sentado na sala enquanto fui pegar as velas na cozinha. Sorri ao ver o calendário na porta da geladeira, fazia um ano que Alastor morava comigo e nossa vida não poderia ser melhor.
Sem brigas ou disputas, tínhamos um relacionamento saudável. Claro que eu não estava trabalhando e só via meus amigos na faculdade, mas valia a pena se era para estar com ele.
Peguei a vela em formato de interrogação e voltei para a sala. Alastor não quis dizer quantos anos estava fazendo, então, em vez de colocar o número dos anos que o conhecia, optei pela clássica vela de interrogação.
Estava prestes a colocá-la no bolo quando bateram na porta. Deixei a vela na mesa e corri para atender, me deparando com Luan, Leia e mais oito ou nove amigos em comum.
— Como você não foi pra festa, trouxemos a festa até você — Leia gritou, claramente bêbada.
Quando me dei conta estavam todos na minha sala, dançando alguma música aleatória e sujando meu tapete com seus copos de cerveja transbordantes.
— Val — Luan passou os braços por meus ombros em uma dança desequilibrada. — Isso era pra ser uma festa de aniversário?
O bolo ainda estava na mesa, junto com a vela e os docinhos. Procurei por Alastor, preocupada. O encontrei encostado na sacada, olhando os prédios de forma distraída.
— Não acredito que você abandonou a gente pra dar uma festa sozinha — Caio, um dos amigos mais bêbado, resolveu se pronunciar.
Alguém desligou a música e todos olharam o bolo solitário, em cima da mesa, sem nenhum dono.
Não pude evitar minha chateação, as coisas estavam indo tão bem, mas agora que as "pessoas reais" chegaram eu teria de dar atenção a elas e deixar Alastor sozinho.
Eu ainda não tinha notado que começava a preferir Alastor aos meus amigos, e foi esse o meu maior erro. Alastor começava a substituir o mundo real e eu não estava notando, ou talvez notei, e apenas não quis me importar. Não faz sentindo pensar nisso agora.
Fui até a sacada e trouxe Alastor para o meio da sala. Enfiei a vela vermelha no meio do glacê branquinho, acendi com um pouco de dificuldade e comecei a cantar a tradicional canção do parabéns. Meus amigos não faziam ideia de quem era o aniversariante ou o que estava acontecendo, mas estavam todos tão bêbados que nem me questionaram quando acordaram no outro dia com chapéus de festa e glacê manchando a camiseta.
Alastor se agachou perto da mesa de centro junto com os resto das pessoas, que não se aguentavam mais em pé. Cantamos todos juntos, felizes, meus amigos acabaram se embolando algumas vezes no meio da canção e no final não sabiam a quem aplaudir.
Ficaram tão empolgados para comerem do bolo que nem notaram as velas se apagando magicamente. Era Alastor, desejando que eu e ele ficássemos juntos para sempre.
Não nós falamos mais, resolvi dar um pouco de atenção aos velhos rostos da faculdade, lembrando-me que já fazia um tempo que não parava para conversar a respeito de algo que não fosse sobre trabalho.
Foi uma tarde leve e eu mal vi Alastor no canto da sala, com seu olhar maquiavélico, pensando em algum plano do qual eu não fazia ideia.
No outro dia. Dor de cabeça. Bagunça na casa inteira. E o despertador tocando, apático as minhas lamúrias. Mandei meus amigos embora, tranquei-me no quarto e dormi pelo resto da tarde.
Acordei de novo só a noite, a casa já arrumada e não haviam mais resquícios da festa de ontem. Na hora do jantar — preparado por Alastor — tratei de me desculpar pela invasão ao seu aniversário. Ao contrário do que poderia imaginar, Alastor não estava bravo ou com ciúmes.
— Tudo bem Tina, em breve seremos só eu e você mesmo — deu de ombros sem se explicar.
Estava com muita fome para me importar também, continuei comendo e o assunto morreu.
†
Essa é uma das últimas memórias que tenho com Alastor, tendo alguma consciência do que chamamos de vida real. Eu sabia que haviam pessoas fora do meu apartamento e que eu precisava interagir com elas para ser um ser humano considerado "normal", eu tinha obrigações e dever como cidadã. Mas quem disse que eu estava ligando?As memórias ficam confusas depois desse dia, embaralharam-se como cartas velhas e rasgadas de um baralho vazio. Eu não me lembro quando parei de ir a faculdade, quando me desliguei de todo e qualquer contato com o mundo exterior ou de quando tudo passou a ser sobre Alastor.
Uma interrogação completa minhas lembranças, afinal, quando foi que tudo começou a ser sobre "nós"? Somente eu e ele em uma paraíso mental, feito com nuvens de cachorrinhos e mares rosados.
Famoso capítulo que só serve para "encher linguiça"
Pouco essencial para trama, mas divertidinho de ler (eu espero)
Isso soou muito crítico? HahaBeijinhos caramelados ⌛
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Amência
Roman d'amourValentina aos treze anos criou em sua mente o que chamou de garoto perfeito. Um garoto cujo único propósito era fazê-la feliz. Mas o que acontece quando uma fantasia inocente perde o controle? O que acontece quando o criador teme sua própria criaç...