Pele Dourada

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Olá, olá cerejinhas! Como vão vocês?
Capítulo novo!!

Espero que gostem, estamos evoluindo nesse historinha hum? ⏳

  Podia jurar que conforme o tempo passava Alastor ficava mais nítido em minha mente, a cada dia mais palpável, mais real. Toda vez que fechava meus olhos podia senti-lo perto de mim, ouvir sua voz me chamar e sua respiração se chocar contra meu rosto.

  O tempo havia passado, e mesmo com meus 15 anos eu ainda pensava no garoto toda noite antes de dormir, ele permanecia sendo meu passatempo preferido, isto é, até o inevitável acontecer.

  Em meu íntimo eu já sabia que Alastor não seria para sempre a chave da minha felicidade, que um dia eu tornaria a me apaixonar.

† Terceiro Flashback - Pele Dourada †

  Balancei a cabeça quando ouvi meu nome sendo chamado pela terceira vez, desfocando os olhos da vitrine cheia de canecas e saindo da loja junto de minha mãe e minhas tias que sempre me arrastavam para suas compras.

— Você tem braços fortes Valentina, tem que ajudar a gente a carregar as coisas — tia Eliza dizia toda vez que me recusava a acompanhá-las.

— Se você for eu te compro um pacote daquelas balas ardidas que você gosta — e mamãe terminava de me convencer.

  Sempre acabava ficando para trás, carregando dúzias de sacolas com uma ou duas balas na boca. Ignorava a maior parte das baboseiras que falavam e matinha minha cabeça baixa, evitando os olhares que me pareciam julgadores de todos aqueles que passavam por mim. 

  Bastava avistar um grupo de adolescentes para me fazer aumentar o passo ou me interessar pelo que minhas tias falavam, tentando evitar o contato visual que me fazia sentir pequena.

  Certa tarde estávamos voltando para casa, as sacolas cheias de pães e frios e meus pés doendo de tanto andar. Minha mãe reclamava sobre meu comportamento, enquanto eu remoia as balas de menta na minha boca em um silencioso protesto contra as mentiras que ela contava.

— Se pelo menos Alastor estivesse aqui — desejei com um sonoro suspiro.

  Tia Eliza olhou de soslaio para trás, enquanto eu escolhia meus ombros e pensava: Por que não?

  Ignorando o barulho dos carros e dos trabalhadores mentalizei Alastor surgindo ao meu lado. Pensei em como seria bom se ele estivesse ali comigo, com as mãos no bolso, ombros relaxados e um sorriso no rosto.

— Ei Tina — Alastor saudou com sua voz de veludo.

  Mal conti minha felicidade, fazendo com que um senhor me cumprimentasse achando que sorria para ele.

  Quando Alastor estava comigo o dia parecia mais belo e eu sentia minhas bochechas doerem de tanto que ria de suas palhaçadas... Palhaçadas projetadas em minha mente solitária, que não tinha com quem dividir as piadas que inventava.

— Você não acha que minha sogra e suas tias parecem com as frutas primordiais?

  Ri boba com a pergunta, ao mesmo tempo em que me sentia vazia. Alastor não era real, mas eu estava tão desesperada por amor e atenção que continuei a pensar nele como esse garoto precioso que me entendia tão bem.

  As vezes o fazia falar coisas que nunca havia dito para ele, as vezes o fazia ter os mesmo pensamentos que eu. Era nesses momentos em que eu me lembrava de que tudo não passava de uma ilusão. As vezes o fazia ser fofo, romântico e carinhoso. Chamando minha mãe de sogra e me defendendo dos perigos que inventava.

  No final eu só tinha o vazio de um coração solitário.

— E quais são as frutas, meu anjo? — perguntei mesmo sabendo a resposta.

  Alastor contornou alguns cones da rua e parou para brincar com uma borboleta que passava.

— Ora Tina, a maçã, a laranja e a banana...

— As frutas que nunca faltam na casa da família brasileira — completei junto dele.

  A frente observei mamãe de vermelho, tia Eliza com sua blusa laranja e a alta tia Telma com um vestido amarelo.

  Gargalhei fraco ao notar melhor suas roupas, olhando para o lado e enxergando os acolhedores olhos pretos de Alastor... Até ele se desfazer em uma poeirinha mística e reaparecer do meu lado esquerdo.

  Alan havia tomado seu lugar, fazendo-me desacelerar os passos para olhá-lo com mais atenção. Alan era o garoto mais inteligente da minha sala, um dos poucos que ainda me aguentava e falava comigo todos os dias, passando a mão em meus cabelos toda vez que fingia dormir no início das aulas.

— Valentina minha mina, como é que cê' tá?

— Ei Alan, estou bem — era o que eu sempre dizia.

— Me deixa te ajudar com isso — se ofereceu sem me deixar escolhas, já pegando metade das sacolas que eu carregava.

  Ao meu lado Alastor resmungou:
— Ele te chamou de "mina"? Quem ele pensa que é pra sair te chamando de mina?

  Ignorei seus protestos por atenção, tentando manter uma conversa decente com meu colega. Alan podia não saber sempre o que dizer e nem ter os olhos soturnos e fascinantes como os de Alastor, mas ele me parecia um garoto tão cheio quanto o que eu desejará há dois anos atrás.

  Os murmúrios de Alastor foram ficando distantes enquanto me deixava aprofundar mais na conversa sobre o possível relacionamento do professor de Matemática e a diretora.

  Ao anoitecer me joguei na cama com um sorriso no rosto, pronta para mais uma noite de sono, mas, ao contrário das noites anteriores, eu me encontrava ligeiramente animada para conversar com Alan pelo WhatsApp.

  Horas se passaram e formos obrigados a nos despedir, muitos boas noites depois e eu estava pronta para dormir, ansiosa para o dia seguinte.

  Pouco antes de pegar no sono me permiti vislumbrar a face de um irritado Alastor, com mil perguntas sobre quem era o garoto que me fez deixá-lo de lado.

  Ignorei seus protestos e me deixei levar em uma grande felicidade que não me visitava desde a criação do garoto perfeito.

  As paixões adolescentes são engraçadas. Elas acontecem em poucos dias, com pouco gestos. Alan foi uma dessas paixões, que surgiu com pouco mais que uma semana de conversa.

  Nessa fase são poucos os que diferenciam paixão de afeto, carinho e amizade. Mas isso pouco importa.

  Quando Alan apareceu Alastor deixou de ser o principal motivo dos meus sorrisos, e então eu passei a me sentir mal com a situação, porque ele não tinha mais ninguém, mesmo sendo uma invenção minha.

  Foi por isso que criei Celeste, uma namorada para o garoto que por tanto tempo me foi um anjo.

  Ainda pensava nele, mas apenas como um personagem criado no desespero da solidão que eu vivenciava.

  Alastor virou protagonista do meu primeiro conto e Alan o substituiu como garoto perfeito, um garoto cheio e da pele dourada.

E acabou!
Eu espero que eu não tenha deixado vocês muito "jogados" nessa história, normalmente eu conto um pouco do que vai acontecer e qual caminho vou seguir. Mas, inspirada em certos livros que não contam NADA sobre sua história ou o que vai acontecer, decidi seguir esse caminho aqui também.

Sobre o trecho:
"Em meu íntimo eu já sabia que Alastor não seria para sempre a chave da minha felicidade, que um dia eu tornaria a me apaixonar."

Por favor não façam como Valentina, não baseie sua felicidade em uma única pessoa. Seja feliz fazendo o que ama, estando com quem ama e amando a si mesmo.
Sua alegria não deve vir do príncipe ou da donzela encantada.

Dito isso, beijinhos caramelados e até o próximo capítulo ⌛

AmênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora