19- Luísa

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       A diretora do purgatório de pobres almas condenadas, estava nos olhando friamente. E eu não conseguia parar de me coçar, estranhamente, minhas costas pinicavam e eu arranhava sem parar, até ser interrompida pela garganta rouca da Dona Alcione/Malévola Devoradora de Bons Alunos.

        - Já acabou? Ou quer que eu coce suas costas para você?! - Ela disse, com aquele seu olhar escuro de Rainha Má. E a Rainha Má não tinha olhos azuis? Hum-hum... Vai ver de tanto praticar magia das trevas ela ficou com os olhos escuros! 

         Arregalei os olhos e coloquei as mãos embaixo das pernas, para aquietar aquela ansiedade insana. 

         - O que vocês duas pensavam que estavam fazendo quando aprontaram com a minha sobrinha?! Além de ser contra as regras da escola o mau-comportamento das duas, vocês mexeram com a minha família! Têm noção disso?! - E agora ela parecia uma integrante de facção. Lembrei de um livro, uma fanfic que havia lido dias atrás. Balas, bombas de gás, bang-bang, morte, pessoas correndo, gente gritando, e...

         - A sua sobrinha querida que começou, então ela mereceu. - Patrícia ao meu lado, cruzou os braços. Uau, estou ficando observadora, isso é bom? 

         - Escute aqui, senhorita, a adulta aqui que tem poder de expulsar as duas, sou eu. Você tem a ousadia de acusar a minha sobrinha de ter sido vítima do seu spray de cola que grudaram as mãos dela na cabeça?! Tiveram que cortar os cabelos dela como os de um menino por causa da sua brincadeira de mal gosto. - A diretora comprimiu os olhos, fumaçando de raiva como um trem à vapor. Metáforas Lulu, você está melhorando. Minha convivência com Patrícia está me deixando parecida com ela, que influenciadora! 

         - Fez o quê?! - Quase gritei, espantada. Bem que Thiago havia desconfiado da irmã e com toda razão. Eu queria rir, mas não podia, porém não suportei engolir risada. Nunca foi meu forte. Explodi em gargalhadas, despertando um olhar assustador da diretora. Paralisei e me calei. - Desculpe. - Pus a mão na boca e olhei para os lados, tentando não imaginar a cena da Daniella com os cabelos colados nas mãos, gritando de horror... Já era! Desatei a rir novamente.

         Patrícia me deu um beliscão, me fazendo voltar a ficar séria. Queria reclamar para ela, injustiça eu não ter visto a Daniella daquele jeito! 

         - Vou chamar seus responsáveis, amanhã vocês duas só entram aqui com eles. - A mulher malvada disse, dando a conversa por encerrada.

         - Ei, foi a Daniella que me deixou quase nua no meio da escola! - Cruzei os braços também. Duas injustiças por dia não dá, né.

         - E você tem provas? - Ela suspendeu as sobrancelhas grossas.

        Descruzei os braços. Não tinha nada que provasse, apesar de que todos os alunos viram a cena. Ninguém estaria ao meu lado, eles não gostavam muito de mim...

         - Estão nas câmeras dos corredores e mesmo que as câmeras não tenham pego a cena toda, eu tenho um vídeo completo. Mandaram para mim. Alguém gravou tudo. E isso não seria nada bom para a senhora, não é? Afinal, ela é sua família. - Esperta até demais, a Patrícia. - Cabelo é cabelo, vai crescer. Já a Luísa poderia ter virado motivo de piadas em todas as redes sociais, poderia ficar traumatizada e seria sua culpa, porque a escola está nas suas mãos. Os patrocinadores fariam você rodar daqui mais rápido que um peão depois de uma dessa e talvez, nunca mais encontrasse emprego em escolas de renome como essa. Você seria conhecida como "a diretora incompetente que afunda negócios". Isso tudo seria péssimo. A não ser que reconsidere. Tenho certeza que a Luísa perdoaria você e sua sobrinha. Estou errada? - Patrícia se voltou para mim.

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