21- Luísa

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         Calma, Luísa, vai ficar tudo bem com ela. Respira, não pira. Melhor ficar calada, dizer coisas idiotas não irá adiantar. 

          Sim, eu estava quase enlouquecendo sentada naquela cadeira no hospital. A dona Márcia tinha sumido junto com o Thiago, eu estava sozinha com meu pijama de estrelinhas. 

          Eu não conseguia pensar em nada. Minha mente estava um completo vazio. Em algum momento, um senhor sentou ao meu lado, segurava um saco estranho. Será que era soro? Parecia bastante. Olhei curiosa para ele, com aquelas roupas engraçadas que os doentes usam no hospital. 

         - É verdade que por baixo dessa camisola engraçada não se usa nadinha? - Abracei as pernas sobre a cadeira. 

         - Os novos não usam nada, já eu uso uma fralda gigante. Como se eu fosse algum bebê, sou uma piada para eles. Eu ainda consigo mijar sozinho! - O senhor resmungou. - E quem é você, mocinha? Perdida ou esperando alguém? 

         - Esperando notícias da minha amiga. Ela está muito mal, parece que vai operar. - Dei um sorriso para ele, não queria que ficasse triste. Patrícia ficaria bem. Logo, logo. 

        - A sua amiga é bonita? - Ele brincou com as sobrancelhas e sorriu amigavelmente. 

        - Tipo uma Barbie na versão morena! - Me empolguei. 

        - Quando eu era jovem, eu adorava as morenas. Algumas são tímidas, outras teimosas feito mulas! 

        - Minha amiga é bastante teimosa. E zangada. Ninguém se mete com ela. - Sorri amplamente me lembrando do que Patrícia havia feito por mim nos últimos dias. 

        - As zangadas são as melhores! - Ele me olhou como um cúmplice de crime. Achei engraçado. - Você não me disse seu nome.

        - Ah, desculpe! - Cocei a cabeça. - Eu tenho mania de esquecer as coisas muito rápido! Me chamo Luísa, mas pode me chamar de Lulu! Todos os meus amigos me chamam assim. - Estendi minha mão para ele.

       - Você não vai querer segurar a mão de um velho. - Ele negou meu aperto de mão. 

       - E por que não? 

       - Gente nova não curte gente velha. Principalmente um velho doente como eu. - Pela primeira vez em nossa conversa, ele pareceu triste pela sua condição. 

        Levantei e o abracei apertado, fazendo um cafuné no seu cabelo branco e ralinho.

        - O senhor é gente como eu. Lembra meu avô. Não pude conhecer, só vi por fotos. Ele morreu quando eu era só um bebê. Nessa vida, eu ganhei de tudo. Pais felizes que cuidam de mim e me dão atenção, amigos incríveis, pessoas extraordinárias, uma conta bancária com números demais. E apesar de todo o dinheiro que meus pais possuem, que futuramente será meu, ele não compra a alegria de poder abraçar avós velhinhos. - Beijei sua testa. Segurei uma de suas mãos bem firme. E dei o maior sorriso que pude dar. - Eu amo velhinhos como o senhor! 

         Aquele senhor tão simpático não reagiu, me olhou sem expressão, com os olhos escuros e luminosos. 

         - Luísa. - Era a voz do Thiago, finalmente eu teria notícias! Me virei para ele e corri para abraçá-lo. 

         - Como ela está? - Olhei para ele.

         - Ela não pode ficar aqui. - Márcia, ao lado do Thiago se pronunciou. - A cirurgia será muito cara nesse hospital. Não podemos pagar, então logo ela será transferida para um hospital público. Vamos ter que aguardar. 

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