Beijo de Inverno

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Quando puxo pela memoria é difícil dizer o que senti quando conheci o Harry, mas se for para dizer alguma coisa, eu diria que não senti nada de especial. E sei que a reciproca é verdadeira. Naquele momento ele era apenas mais um dos amigos do meu irmão. O Nicholas é o tipo de irmão que gosta de apresentar os amigos para a família. Tenho amigas que os irmãos fazem de tudo para que elas fiquem longe dos amigos deles, mas o meu é do tipo legal e me apresenta seus amigos. Eu sempre gostei dessa característica dele, mas aquele não era um bom momento para conhecer pessoas, mas não o culpo por tentar me animar, afinal ele ainda não sabia o motivo de eu estar com o animo baixo, na verdade ninguém sabia naquele momento. Embora eu já pressentisse a verdade, sei lá, eu acho que a gente sabe dessas coisas, mesmo não querendo admitir.

Três dias antes a minha mãe me levou ao laboratório para fazer exames, e eu tinha os meus pais a não contar ao Nick sobre isso, os convenci que era bobagem o preocupar com isso, que certamente não daria em nada. É bem verdade que eu não acreditava no que estava dizendo, pois soube que algo estava errado quando o Dr. Gustavo disse pela primeira vez a palavra oncologista, uma palavra que só tinha ouvido em séries e filmes, mas que naquela entrevista ouvi nada menos que quatro vezes, e todas elas dizendo respeito a mim. O médico disse que não deveríamos nos assustar, mas eu estava em pânico, pois sabia muito bem o que significava aquilo tudo, apesar das palavras difíceis que ele falava, e que eu não sabia o significado. Naquele dia ele nos indicou procurar o Dr. Fabrício, que segundo ele era um dos melhores especialista do país, e pediu uma bateria de exames, todos para adiantar o processo, mas que não deveriam ser motivos de preocupação. Esses exames deveriam ser levados em minha primeira consulta com o outro médico, o oncologista, que seria na manhã seguinte a eu conhecer o Harry.

Talvez se aquela altura eu soubesse a importância que ele teria em minha vida, eu pudesse ter visto uma pequena luz em meu horizonte, mas eu não sabia, e tudo que tinha em minha mente eram as palavras do Dr. Gustavo: linfonodo superficial, oncologia, biópsia, e outras. Eu poderia citar mil coisas que já tinha pensado para a minha vida, e nenhuma delas será ter câncer aos quinze anos. Ou mesmo suspeita de câncer. Isso é algo que acontece a toda hora, mas nunca esperamos que aconteça com a gente.

Todo mundo diz que você saberá quando encontrar o amor de sua vida, então talvez eu tenha vindo bugado de fabrica, porque não percebi nada mesmo quando conheci a Rafaela. É claro, eu notei que ela é uma garota linda, mas não senti suadouro, nem as batidas de meu coração incrivelmente forte, muito menos se tornou impossível parar de pensar nela. O Nicholas tinha me falado da irmã dela, como era inteligente, esperta e bem humorada, mas quando a conheci não pude perceber nada de sua inteligência, ou esperteza, mas com certeza ela não estava bem humorada. Parecia alguém que se sentia deslocada ali, como se aquela situação fosse incomoda. E eu pensei: Okay! Melhor deixar a garota na dela, afinal nem nos conhecemos mesmo.

É claro eu ainda não sabia tudo que se passava na mente dela, e em sua vida, e estava preocupado com minhas próprias coisas, que pareciam muito importantes, e eram, mas pensando com calma agora, e sabendo de tudo que sei, percebo que podem parecer incrivelmente egoístas. Eu só pensava em como ganhar uma aposta com meus amigos do colégio, algo envolvendo outra garota. Afinal eu era apenas um estudante do último ano do ensino médio, e com preocupações unilaterais. Essa é uma fase complicada para todos nós, quando tudo no mundo parece dizer respeito a nós, nunca ao outro. É sempre: Qual curso eu vou escolher na universidade? Para quais universidades vou prestar vestibular? Quantas garotas eu ficarei antes do colegial acabar? Porque as pessoas não entendem que preciso de um tempo para parar e pensar? E tantas outras coisas desse tipo, é uma fase que se pudéssemos pularíamos, porque é sempre cheia de incertezas, e unilateralismo.

Em resumo, eu não parei muito tempo pensando porque a irmã do meu amigo estava com tantos sinais de tristeza. Talvez tenha pensado porque ela saiu de casa se não estava a fim de socializar. Mas não sou o tipo de pessoa que aborda uma garota quase desconhecida, e questiona os seus porquês. Talvez eu devesse ter sido uma pessoa diferente, assim teria a ajudado nesse estagio inicial, mas não fui, e isso não pode ser mudado.

Se você entende a vida, se saber exatamente quais caminhos seguir, então me diga como saber no primeiro olhar que a pessoa será a tal que mudará tudo, e te fará desejar passar todos os dias ao seu lado. Como poderia decidir sobre a eternidade quando nem mesmo conseguia decidir qual meu curso na faculdade? Como eu poderia saber sobre amor, e prontidão, quando nunca tinha experimentado coisas tão profundas? Se você tem a formula que resolve todos os problemas, passe ela adiante, deixe que eu me sinta mal por não ter sido capaz de descobri-la, como você o fez.

Eu não posso saber como teria sido, se tivesse visto que a verdade nos olhos da Rafaela, naquele momento, mas sei que tudo aconteceu da forma certa, pelo menos quanto a nós, ou pelo menos como era possível acontecer.

lá Wattpaders,

É mesmo ótimo poder publicar esse que é o último livro a ser publicado na série "Beijos de Estação". Eu sei que alguns de vocês esperavam ansiosos por ele, então espero que gostem do resultado.

Se ainda não leu, leia os outros livros, são todos especiais e marcantes.

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Grato por tudo.

Sempre juntos!