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O saguão do hospital tinha o mesmo cheiro de éter, e desinfetante que todos os outros que eu já estivera antes, mas era consideravelmente maior

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O saguão do hospital tinha o mesmo cheiro de éter, e desinfetante que todos os outros que eu já estivera antes, mas era consideravelmente maior. Não havia muitas conversas paralelas ali, então foi fácil acompanhar a conversa de uma senhora com sua filha, mesmo sem olhar para elas. A mulher queria que a filha não perdesse as esperanças, e continuasse a confiar na remissão, também insistia que a garota comesse alguns biscoitos, mas filha dizia que seu estomago estava enjoado demais. As pessoas ali ou pareciam doentes, ou preocupadas com algum doente. Pensei se realmente eu tivesse câncer, minha mãe ficaria cansada quanto àquelas mulheres ao nosso redor. E eu como estaria? Teria aquele olhar de urgência que a garota ao nosso lado tinha? Então fiz algo que há muito tempo não fazia, uma prece para que tudo ficasse bem. Eu não queria me tornar uma doente, mesmo que não soubesse nada sobre câncer na vida real, sabia perfeitamente como as pessoas olhavam para pessoas com essa doença, e não queria aquela expressão de pena e compadecimento em direção a mim.

O Hospital do Câncer era a maior instalação medica que eu já tinha visto, e todos ali pareciam ter um proposito certo, não me lembro de ter visto um só funcionário que parecesse não estar fazendo algo, ou a caminho de uma tarefa importante. Duas, ou três vezes pensei em perguntar por que nossa consulta estava atrasada meia hora, mas em seguida pensava: Rafaela se aquiete garota, esse lugar está funcionado, sua interrupção vai desandar tudo. Assim que me repreendi pela terceira vez, uma moça com uniforme rosa chamou meu nome, e deu um sorriso aberto quando me levantei com minha mãe. Ela nos cumprimentou dizendo se chamar Estela, depois se desculpou pelo pequeno atraso, pediu que a seguíssemos. Passamos por varias salas, que imaginei serem consultórios, mas não tinha certeza. No final do corredor entramos num elevador grande, e Estela nos disse que iriamos ao terceiro andar, onde ficava a sala do Dr. Fabricio. Ela mantinha um sorriso simpático no rosto, e aquilo me tranquilizava, pelo menos um pouco, porque só de saber o nome do lugar eu já ficava tensa.

Saindo do elevador fomos encaminhados para a sala do médico. Um homem de meia idade, com leves sinais de calvície, rosto sereno, emoldurado por cabelos castanhos escuros. Quando entramos ele desviou os olhos da tela do PC, e pediu que sentássemos, nos cumprimentou com gentileza, e começou a nos fazer perguntas, com aquela voz tranquilizadora que alguns médicos têm. Com aquele tom calmo, e cadenciado, que é bom de ouvir, mas que depois de um tempo começa a nos preocupar, porque passamos a pensar que estar doente não pode ser bom, e as palavras que são ditas com tanta leveza, e cordialidade não combina com a serenidade de nosso interlocutor. Mas eu soube que ele era mesmo uma boa pessoa, na naquela conversa preliminar, antes de pedir para ver os exames que o Dr. Gustavo tinha pedido. O fato de ele saber que exames tinham sido requisitados me fez pensar que ele o amigo já tinham conversado sobre meu caso, isso me fez ficar tentada a perguntar o que o outro médico tinha lhe adiantado, mas ainda estava em dúvida se queria saber realmente. Uma vez que os médicos decretassem que eu estava mesmo doente, não tinha mais como voltar atrás, e eu seria oficialmente uma doente.

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