Você deve estar pensando: "A essa altura ela está namorando o Harry, depois da carta maravilhosa que recebeu". Devo dizer que caso tenha pensado isso, você não está completamente errado, mas não está exatamente certo. Eu recebi a carta, a adorei, quase esqueci que estava em fase de recuperação, porque estava explodindo de felicidade. Mas não começamos oficialmente a namorar, uma vez que ele não me pediu em namoro, talvez tenha pensando que após tantas belas palavras, ele não precisava fazer um pedido bobo, mas eu não teria achado ruim um pouco mais de fofura. Depois que minha euforia bem comportada passou, nós conversamos, e para todos os efeitos práticos estávamos juntos.
Talvez em outra situação eu tivesse me pegado mais a definições, títulos, mas naquele momento isso pouco importava para mim. Não pense que eu sou uma pessoa desapegada das pessoas, de modo algum, na verdade eu estava muito apegada ao Harry, mas infelizmente ele tinha que dividir minha mente e atenção com algo terrivelmente pesado.
Algum doente grave pode até dizer que nunca deixou de acreditar que iria vencer a doença, e que viveria muitos anos, e talvez um por cento consiga manter essa positividade durante todo o processo, mas na maioria dos casos a sombra da morte está sempre pairando sobre nossas cabeças, e não é tão fácil manter a esperança. Ainda mais quando dia após dia vemos outras pessoas, muitas vezes amigos, morrendo do mesmo mal que temos. Não se apegar as pessoas que estão na mesma luta que você é um desafio que todo ser humano está fadado a perder. Talvez apenas os psicopatas consigam se desligar dessa forma. Ainda lembro-me do que senti quando quatro dias após meu retorno para casa, quando estava nas nuvens pela carta do Harry, e chegou a noticia que a Marcela, uma garota muito sorridente, e que conseguia manter o bom humor mesmo lutando contra um câncer de pulmão estagio quatro, tinha vencida na injusta luta contra seu corpo que já desfalecia há muito tempo. Ela tinha sido a primeira pessoa a conversar comigo quando cheguei para a minha primeira sessão, e tínhamos passado algumas tardes conversando, quase sempre ela falando sobre seus planos de poder aproveitar mais com o namorado, quando tivesse alguma melhora, e os médicos permitissem que ela voltasse para casa. O namorado dela era um cara bem legal, tão bem humorado quanto ela, e volta e meia aparecia com flores, nunca muitas, para ela, mesmo as enfermeiras pegando no pé dele, por tanta de todas as impurezas que aquelas flores poderiam ter. É claro que ele sabia que o pólen, ou qualquer poeirinha poderia agravar a situação dos já fracos pulmões dela, mas não como poderia priva-la de dar sorrisos tão sinceros quando o via chegando com algumas rosas, ou margaridas. Ela nunca fica mais que cinco minutos com as flores, e sempre estava de mascara, mas eu sei que eram os momentos mais felizes de sua vida, por causa do pequeno gesto de atenção e carinho que o namorado dava para ela. Saber que a Marcela havia falecido me deixou realmente triste, porque sabia de todas as esperanças dela, e agora tudo estava finalizado, e parecia ser da forma errada. Eu chorei bastante, e pensei muito se valia a pena fazer planos quando células defeituosas estavam agindo em mim, e minando minha vida a cada fração de segundo.
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Beijo de Inverno
Teen FictionNem todos amores são a primeira vista. Alguns amores nascem com o tempo, a dor, e generosidade da vida. Quando Rafaela conheceu Harry, nada de especial aconteceu. Nenhum fogos de artifícios, nem frio na barriga. Borboletas não fizeram revoada em seu...