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Enquanto recobrava os sentidos senti que uma leve brisa fria, e quis pedir que o pai desligasse o ar do carro, mas minha boca estava incrivelmente seca, e eu não tinha ainda desperto totalmente

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Enquanto recobrava os sentidos senti que uma leve brisa fria, e quis pedir que o pai desligasse o ar do carro, mas minha boca estava incrivelmente seca, e eu não tinha ainda desperto totalmente. Ouvi a voz da mamãe, e de um homem, o voz da voz deles não estava alto, mas eu conseguia identificar algumas palavras. Quando consegui articular algumas palavras, eu já tinha percebido que não estava no carro. O meu irmão que estava sentado na poltrona ao meu lado, percebeu que eu tinha acordado, e avisou a nossa mãe, que se aproximou com o médico. Não era o Dr. Fabrício, porque como foi explicado depois para mim, o pai tinha ido para o hospital mais perto, mas a Drª. Valentina tinha ido até lá, e garantido que era normal que aquilo tivesse acontecido, ainda mais horas depois da descoberta. A febre e o cansaço eram sintomas da minha doença, mas boa parte do mal estar era devido à tensão causado pela noticia. O meu irmão ficou pedindo desculpas por ter me feito sair de casa, quando estava claro que eu precisava descansar, mas eu disse para ele parar de bobagem, afinal sair com ele foi a melhor coisa naquela semana. Ele ia dizer algo, mas o papai chegou ao quarto, e disse que era melhor me deixar descansar. Eu poderia dizer que estava tudo bem, mas a verdade é que eu estava me sentindo bem cansada.

O pai levou o Nicholas para casa, depois de muita relutância dele, e a mãe ficou comigo no hospital. O médico do Pronto Atendimento disse que não haveria problema eu ir para casa, mas meus pais fizeram questão de eu passar a noite no hospital. Eu teria preferido ir para casa, mas sabia que meus pais iam ficar malucos e sem dormir se eu estivesse em casa após passar tão mal, e desmaiar. Duvidava que eles dormissem de qualquer forma, mas eu estando no hospital ficariam mais calmos. Eu por outro lado já estava perdendo a batalha para conseguir ficar com os olhos abertos.

Quando acordei pensei ter dormido por duas horas, mas na verdade já havia amanhecido, e meu pai e o Nick haviam retornado, junto deles estava o Harry, que tinha ido para a nossa casa quando o meu irmão voltou do hospital. Eu não entendi muito o porquê, mas não era um momento para questionamentos. E além de tudo era legal saber que o Nick teria apoio, e chegava a ser fofo da parte do garoto se preocupar comigo. Meus pais e eu fomos ao Hospital do Câncer no carro do papai, e os garotos pegaram um táxi. A mãe estava focada em me dar conforto, mesmo que tivessem lugar em nosso carro.

Quando chegamos a Drª. Valentina e uma enfermeira nos esperava, eu agradeci por ela ter ido me ver no outro hospital, com certeza isso não era dever dela, mas ela disse que não precisava agradecer, porque todos nós estávamos juntos para combater o câncer. Eu me sentia bem melhor, e a noite anterior parecia ter sido um pesadelo que passou, embora eu soubesse que tinha sido bem real. A médica residente nos explicou sobre o tratamento, falou de todos os protocolos de quimioterapia, e que no meu caso seria usado um denominado ABVD, com a combinação de quatro medicamentos: Adriamicina, Bleomicina, Vinblastina, e Dacarbazina. O tratamento é dividido em ciclos, que é número de aplicações e intervalo entre duas doses de tratamento. O indicado para mim foi seis ciclos de quimioterapia a cada 21 dias. Ela explicou um monte de coisas técnicas, e de execução do tratamento, e depois deixou o quarto para aprontar tudo para o inicio.

O Nicholas foi fazer uma ligação para os nossos avôs no interior, e nossos pais foram resolver algumas coisas sobre a documentação da internação. Então fiquei no quarto com o Harry, e essa foi a primeira vez que acho que realmente prestei atenção nele, e vi o quanto ele era bonito. Imagine só eu no pior momento de minha vida, arrumando tempo para notar que o amigo do meu irmão é bonito, mas não foi tipo "Nossa! Como esse cara é gato, eu quero casar com ele", nada disso, talvez a minha melhor amiga Micaela tivesse pensado assim, ela está sempre encontrando amores eternos de sua vida, mas eu sempre fui pé no chão. Essa foi a primeira vez também que conversamos de verdade, e percebi que o meu irmão estava certo, o Harry era um garoto muito legal, e interessante, e achei bem fofo da parte dele dizer que ficou muito preocupado comigo, na noite anterior, e que eu podia contar com ele, mesmo que fosse só para emprestar o peito dele para eu encostar quando tivesse fraca de novo. Não quis acreditar que eu tinha repousado nos braços de um garoto que eu mal conhecia, e nem me lembrava disso. Mas como ele disse isso muito de boa, tive certeza que ele não estava tipo de gabando, ou que fosse sair falando que a Rafaela Cavalieri era uma oferecida. Até porque eu estava quase desmaiada, e ele foi um perfeito cavalheiro, como diria minha mãe.

Quando o meu irmão voltou para o quarto ainda conversávamos, e ele ficou olhando para nós com aquele olhar que dizia "Ei, eu perdi alguma coisa aqui?". Mas se o Harry notou, não deixou transparecer, e continuou falando, e eu notei, mas não liguei. Era só o instinto de irmão mais velho acionado por um carinha está fazendo a irmã mais nova sorrir. Quando ele entrou na conversa, eu perguntei onde estava o meu celular, porque no meio de tudo que tinha acontecido, eu não tinha avisado a Micaela, e minhas outras amigas sobre o que estava acontecendo, e ele disse que já tinha avisado a minha amiga, e que o celular estava na mesa lateral. O Harry que estava mais perto pegou o aparelho para mim, e eu vi que tinha muitas mensagens de apoio das minhas amigas, e todas diziam que iriam me visitar no hospital quando meus pais deixassem. Eu sabia que só seria possível ver muitas pessoas entre os ciclos da quimioterapia, segundo o que a Drª. Valentina tinha dito, mas fiquei feliz em saber que elas queriam estar comigo.

 Valentina tinha dito, mas fiquei feliz em saber que elas queriam estar comigo

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