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Quando se está doente, e aqui me refiro a uma doença realmente grave, não apenas uma gripe, ou as chatas sinusites, parece que nada mais faz muito sentido

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Quando se está doente, e aqui me refiro a uma doença realmente grave, não apenas uma gripe, ou as chatas sinusites, parece que nada mais faz muito sentido. É como se tudo passasse a ceder espaço à doença em sua vida. Seus desejos, planos, e até as coisas mais simples do dia a dia, são feitos em virtude dela, como se você tivesse em um loop constante. E quando você consegue uma coisa, por mais mínima que seja que lhe dê uma nova perspectiva, um fio de esperança de ter um resquício de normalidade. Daquela normalidade que não parece mais pertencer ao seu mundo, porque querendo ou não seu normal agora é cheio de consultas, tratamentos, exames, e olhares de piedade. Então você quer se agarrar a essa expectação, por mais diminuta que seja, e não há muito espaço para esse tipo de medo, quando se perde um pouco de si mesmo a cada minuto. Você precisa se sentir vivo, que a doença não define quem você é.

Quando terminei os primeiros ciclos de quimioterapia, eu estava fraca, bem mais debilitada do que pensei que estaria, mas ainda mantinha meu cabelo, ou pelo menos boa parte dele, apesar dele estar muito fragilizado, eu queria mantê-lo comprido como sempre tinha sido, mas sabia que ele não resistiria à próxima bateria do tratamento. Então decidi que preferia que fosse minha escolha cortar o cabelo, ao invés de deixar que ele caísse aos poucos. Antes de sair do hospital, conversei com a psicóloga, e com o Dr. Fabricio, e ambos disseram que era uma escolha minha, mas que muitas pacientes tomavam a mesma decisão.

Não havia porque eu continuar no hospital no período de descanso do tratamento, ainda mais porque o meu organismo estava respondendo bem ao tratamento, e o prognostico era animador. Eu era uma pessoa diferente quando saí do hospital, como se tivesse vivido anos em apenas vinte e um dias. Antes de irmos para casa pedi para o papai passar no salão de beleza, porque eu iria cortar meu cabelo, talvez eu devesse ter avisado a eles antes, porque assim que falei a mãe começou a chorar, e eu tive que explicar a ela que não ia raspar a cabeça, só deixar o cabelo mais curto, mas mesmo assim ela demorou um tempo para recompor-se. O pai deixou algumas lágrimas escaparem, mas não disse nada para me dissuadir da ideia. O meu irmão não tinha ido me buscar, e eu desconfiava que ele tivesse ficado em casa aprontando alguma coisa para o meu retorno, mesmo que eu só tendo passado pela primeira parte do tratamento.

Eu estava sempre tão cansada, e enjoada que nem sabia mais qual parte era sintoma do câncer, e o qual era efeito do tratamento. A minha garganta doía com frequência, e estava sempre seca, por isso eu tomava tanto sorvete, e ainda tinha os enjoos e vômitos que surgiam às vezes. Mas naquele dia eu me sentia bem, era como se um suave sopro de revitalização tivesse me atingido. Quando entramos no salão vários funcionários que nos conhecia vieram falar comigo, mas a mãe pediu para que não se aproximassem muito, porque minha imunidade estava baixa, portanto qualquer simples vírus da gripe poderia se tornar um mal bem maior naquele momento. Eles pareceram entender inclusive a cabeleireira quando a mãe lhe entregou uma mascara, e pediu para que usasse. Se existe alguém no mundo que segue as recomendações médicas a risca, esse alguém é minha mãe. Fiquei um pouco constrangida de mudar a rotina do lugar, mas as pessoas pareciam dispostas a entender, e tentavam esconder o olhar de pena.

Quando chegamos a nossa casa lá estava meu irmão, o Harry, e todas as minhas melhores amigas, é claro que para minha mãe ter aprovado isso, todos estavam devidamente equipados com suas mascaras. Lembro-me de ter pensado que a mamãe estava exagerando um pouco com aqueles cuidados, o Dr. Fabrício não tinha dito que havia tanto perigoso assim, ou será que tinha dito numa conversa privada com meus pais. Isso me preocupou de que talvez eu não soubesse de tudo afinal. As minhas amigas quase não acreditaram quando me viram com Corte Joãozinho, ou como a cabeleireira chamou Pixie Cut. Algo como ou Miley Cyrus em 2013, eu acho que ficaram um pouco chocadas, mas tudo bem, porque eu mesmo nunca imaginei que faria algo tão radical em minha vida. Uma hora depois chegaram alguns dos amigos do meu irmão, mas não ficaram muito porque meus pais decidiram que era hora de eu descansar, e que não era bom eu ficar cercado de muitas pessoas.

Naquela tarde os meus avós chegaram do interior, junto com a tia Daniela, e meus primos, mas eu estava dormindo na hora da chegada, e só os vi a noite, quando o Nicholas foi me chamar para jantar. A Natália, minha prima, era apenas três meses mais velha que eu, mas parecia ter se desenvolvido o dobro, sempre fomos parecidas fisicamente, mas naquele momento ela parecia minha irmã mais velha. O Douglas, o irmão menor dela ainda era a mesma criança brincalhona de sempre, e foi impossível a mãe conseguir manter ele dentro da área segura que ela tinha traçado a minha volta. A energia aquele garoto de quatro anos era demais para os esforços incessantes da mamãe.

Depois que retornei para o meu quarto, acompanhada da Natália, recebi uma mensagem do Harry perguntando se poderia me visitar no dia seguinte, ou se atrapalharia muito. Eu disse que seria legal receber a visita dele, porque mal nos falamos nos últimos dias, e fazia uma eternidade que eu não o via quando estava no hospital. Quando enviei a mensagem olhei para a minha prima, e pensei tomara que ele não ache ela mais bonita e interessante que eu, porque caramba eu tô um trapo. Mas era bobagem, eu já tinha falado dele para a minha prima, sempre somos como irmãs, então ela não ia se engraçar com ele, mesmo que eu nunca tivesse dito que tinha algo rolando entre nós. Mas acho que estava claro que eu tinha uma queda por ele, e ela deve ter notado isso, porque sorria para mim quando deixei de olhar para o celular.

 Mas acho que estava claro que eu tinha uma queda por ele, e ela deve ter notado isso, porque sorria para mim quando deixei de olhar para o celular

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Aloha Wattpaders,

Têm momentos que o maior consolo é a companhia sempre presente. E um olhar vale mais que mil palavras.

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Beijo de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora