Olá, Juliantinas quarenteners!
Mais um capítulo pra vocês dessa história. Prometo desenvolve-la mais um pouco ainda essa semana. Mas pra dar só um gostinho, segue o terceiro capítulo.
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Casa de mãe é sempre uma coisa boa, né? Não era o caso daquela casa. Paredes frias de pedra, pé direito altíssimo, o que dava um ar mais impessoal para o ambiente, móveis antigos e valiosos, obras de arte espalhadas pela gigantesca propriedade e empregados para todos os tipos de afazeres, desde cozinhar até fazer um drink para a senhora de todas as senhoras, Lúcia Carvajal. Ela e meu falecido pai realmente construíram um império se formos analisar o mundo da advocacia. Eles investiram corretamente o dinheiro que fizeram, quer dizer, que meu pai fez. Lúcia, minha querida mãe, era um bela de um chamariz de investidores. Sempre muito direta e atrativa, conseguiu em jantares importantes todas as sociedades que o meu pai fez na vida. Ele era um ótimo advogado, não podíamos negar, mas ela era a cereja do bolo da dupla, chegando para arrematar qualquer negociação.
Fui criada para seguir os passos dos meus pais, tendo que usar minha beleza e charme, mas também nunca decepcionar quanto ao meu ofício. Meus pais sempre me colocaram nas melhores escolas e faculdades. Aos 17 eu já entrei na faculdade, o que os deixou orgulhosíssimos e aos 20 eu já estagiava em um grande escritório de Manhattan. Essa minha facilidade para conseguir o que eu queria ou o que os meus pais queriam, nunca foi muito bem aceita por colegas, desde o colégio. Não posso dizer que fui popular, muito pelo contrário, sempre fui chamada de esnobe e arrogante. Mas minha criação meu deu base para deixar de lado aqueles comentários e pensar no futuro. Meus pais falavam que quem criticava o meu jeito de ser provavelmente estaria atrás de um balcão de fastfood ou em um subemprego quando atingisse a maioridade. Acreditei neles e segui seus conselhos como se fossem palavras sagradas de um livro religioso.
Naquela sexta feira, pós terror de aeroporto e o encontro mais curioso da minha vida, chegava mais de 3 horas atrasada na casa de dona Lúcia, que já se mostrava nervosa quanto a minha demora e a mudanças de planos. Tudo tinha que seguir a sua agenda, caso contrário seu humor ficava ainda pior que o normal. Assim que pisei na mansão Carvajal, já tive certeza que a noite seria longa. O mordomo, que era novo em sua função, tendo sido admitido depois que minha querida mãe demitiu o Sr. Olavo depois de 25 anos de casa, abriu a imponente porta da mansão. Mas o motivo de um novo mordomo? Senhor Olavo, que conhecida tudo da casa, era lento e ela precisava de alguém mais ágil. Me lembro que ele esteve presente em toda a minha juventude, mas esse tipo de coisa afetiva não podia ser mais importante que a proatividade, segundo os ensinamentos dos meus pais.
Adentrei pelo salão principal e senti um calafrio. Ao perceber, me dei conta que pensava em um par de olhos castanhos. Maldita garota, ainda me faz ficar pensando em detalhes de sua fisionomia, já não bastasse eu querer pedir desculpas, coisa que nunca fiz na vida. Continuei a dar passos certeiros para o meu quarto da casa da minha mãe, mas quando estava no meio das escadas escutei um chamado.
- Valentina, da próxima vez que me deixar esperando para o jantar, faça um favor a nós duas e nem compareça. – a frieza era um dom aprimorado com o tempo.
- Olá, mãe. Desculpe se os serviços nos Estados Unidos não estão de acordo com a sua agenda de compromissos. Mas pode deixar que se houver outro atraso por minha parte, farei outros planos que não encontra-la neste belo humor. – virei as costas e senti os olhos dela me fuzilarem na nuca. Eu não me importei, pois era o tipo de embate que movia a minha família. Tanto eu quanto meus irmãos éramos mestres em dar respostas desaforadas. Treinamos muito com nossos pais e entre nós mesmos. Era o que fazia nossa dinâmica familiar especial.
Subi chegando ao meu quarto, que era minimalista, sem nada que remetesse a um quarto de adolescente que deixou a casa dos pais. Era estilo clean, branquinho, com quase nada pendurado na parede, uma cama de casal pois eu sempre fui grande e uma luminária moderna. Nas prateleiras, ainda os livros clássicos que lia no colégio e alguns de Direito que eram importantes durante a faculdade. Não me sentia em casa naquele lugar, nem nunca me senti, mas confesso que não sei o que significa esse termo: me sentir em casa. Não é um sentimento familiar para mim, acredito. Mas era um sentimento secundário, pois se eu não me sentia em casa, melhor para mim, assim desapegaria mais facilmente de tudo o que me cercava.
Resolvi tomar um banho antes de descer para jantar com a minha mãe. Mais 15 minutos de atraso não era nada comparado as horas que a deixei esperando, não é mesmo? Me despi, deixando minhas roupas dobradas na cadeira que tinha no quarto, juntamente com meus sapatos de salto. Retirei meu sutiã, o deixando em cima da cama e fui caminhando até o banheiro para ligar o chuveiro. O deixei esquentando um pouco, já que odiava água gelada e me olhei no espelho. Percebi uma olheira profunda, da qual teria que livrar e já sabia que seria um objeto de comentário de dona Lúcia. Me encarando, observei meus olhos azuis, que sempre foram tidos como diferentes e considerados bonitos pela sociedade. E novamente vieram eles a minha memória, aqueles olhos castanhos escuros, quentes. Cheios de vontade de brigar com os meus azuis, frios. Balancei a cabeça tentando apagar da minha mente tudo o que tinha a ver com aquela garota. Entrei no banho pelando, para lavar a minha pele daquela experiência, daquele encontro maldito, daquelas palavras truncadas, daquele elogio maldoso que recebi. Me chamar de linda, mas ao mesmo tempo de idiota. Uma audácia sem igual. Eu tinha que esquecer aquelas mãos de dedos longos tocando uma pele que não a minha, daquele sussurro no ouvido que não o meu. O banho estava cada vez mais quente, a água batia em meu corpo e me fazia suar, mesmo estando diretamente embaixo da água.
Recordei os momentos em que corria e chegava em casa ainda aquecida do exercício e resolvia me banhar imediatamente. Não funcionada, pois o corpo ainda estava no auge do seu calor. Assim me sentia agora, o que era estranho, pois só imagens daquela morena vinham na minha cabeça. Ela me deu um esbarrão, tendo contato com o meu corpo de propósito, me fazendo cambalear e ficar boquiaberta com aquela ação tão destemida. Meus olhos estavam fechados de raiva, queria encontra-la para falar algumas poucas e boas. Queria mostrar pra ela que ela não era ninguém para me tratar daquele jeito, e ao mesmo tempo queria que ela me falasse pra calar a boca e me mandasse a merda depois de me segurar de maneira forte pelo braço e me mostrar que eu não passava de uma riquinha metida a besta, queria...
Abri meus olhos subitamente e percebi que meu corpo estava reagindo daquela forma pois eu o estimulava. Ao me dar conta de onde minha mão direita se encontrava, me assustei a retirei rapidamente, voltando a lavar meus cabelos. Valentina, o que você estava fazendo? Você tá ficando louca. O que era um banho de 15 minutos virou uma sessão de autoanalise de pelo menos meia hora. Respira, Valentina. Deixa essa doideira de pensamento ir embora. Dona Lúcia vai ter que me aguardar mais uns minutos.
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Valentina de Deus ...tá ficando maluca com aqueles olhos castanhos. E quem nao fica, né não?

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O Seu Toque
FanfictionAmbição. Essa era a palavra que definia a herdeira do legado Carvajal. Nenhum obstáculo a tiraria do destino inevitável de se tornar a maior advogada criminalista de Nova Iorque. Nenhum, a não ser aquele toque.