a tempestade

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A paciência é uma virtude. Nela, encontramos o equilíbrio e a paz.

E no caso dessa fic, vcs encontram gelo e fogo.

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Vals POV

Aquilo era uma loucura. Eu nunca deveria ter convidado a Juliana para jantar. Quando pedi licença para ir ao banheiro, meu pensamento lá dentro era que que eu tô fazendo aqui? Estou colocando tudo o que eu já conquistei em risco por conta de quê? De uma quentura que pode ser passageira? De uma garota que eu mal conheço, linda, mas que eu mal conheço? E como assim eu tava daquele jeito por uma mulher? Eu nunca tinha me sentido daquela forma e ao mesmo tempo que era aterrorizante pensar que eu poderia ter uma atração por ela, me sentia em paz ao seu lado para ser alguém que eu ainda não conhecia. Quem eu era ao lado dela? Porque ficava tão diferente? Eu me olhava naquele espelho, jogando água na nuca, tentando apagar o fogo que ela colocava dentro de mim. Meus olhos azuis tinham um tom mais escuro e pela biologia eu entendia o motivo. E o pior era que não conseguia negar que adoraria que ele ficasse completamente negro.        

Balancei a cabeça e resolvi voltar pra mesa. Eu tinha que ter forças pra ir embora. Tudo o que eu era até aquele momento estava a perigo e sobretudo, ela estava em perigo. Mas por um momento de conexão eu resolvi ignorar esse fato. Eu só queria estar próxima dela. Será que era pedir muito? E enfim, percebi que era.

Quando vi o que haviam mandado para o meu celular, realmente caiu a ficha de que tudo poderia ter um fim trágico e eu não faria isso nem comigo nem com Juliana. Peguei a minha bolsa e resolvi fugir dali. Eu só não contava com a traição do meu corpo. Eu não contava com a fraqueza da minha carne quando estava próxima da dela. Eu a tinha beijado. E foi o beijo mais delicioso da minha vida. Curto, assustado, sem fôlego, mas era nosso. E foi arrancado de nós por medo. O meu medo. Tinha razão? Provavelmente, pois mexer com aquele tipo de gente certamente não era algo que eu quisesse fazer. E eu não podia me abrir com ela e a colocar mais ainda naquele fogo cruzado, que eu espero que fique apenas no sentido figurado e não no literal, como já me deixaram bem claro que pode fazer acontecer.

O que eu faria? Minha vida viraria o inferno de qualquer jeito, mas se eu optasse por um dos caminhos, minha vida podia ser mais curta do que eu gostaria. Mas e a minha alma? Eu venderia a minha alma? Eu não sei se deveria sempre me perguntar o que meu pai faria nesse momento, já que os amigos que frequentavam nossa casa eram extremamente de caráter duvidoso. Políticos, banqueiros, pessoas ricas do país todo faziam questão de contratar o meu talentoso e astuto pai. Ele sempre foi o meu exemplo de dureza, frieza, com sua habilidade calculista, seus conhecimentos profundos das leis e emendas. Mas o que era a sua moral? Eu nunca tive problema com isso antes. Nunca questionei a moral do meu pai, pois aprendi que tudo tinha um preço e que o que temos que fazer é deixar o nosso nome marcado de alguma forma na sociedade. E o meu, Carvajal, historicamente já tinha um destino traçado.

Não dormia há dias. Não comia direito. Minha cabeça dava voltas e eu não aguentava mais aquilo. Desmarquei a viagem para a casa da minha mãe, torcendo para que ela não tivesse algo mais sério e eu precisasse correr para aquele maldito aeroporto. Eu tentava não pensar mais nela, precisava ficar longe pra que ela ficasse bem e eu pudesse resolver a minha vida sem danos colaterais. Mas quem disse que eu conseguia esquece-la? Eu deitava e me questionava como aqueles lábios podiam ser tão macios, como aquela língua me preencheu de uma maneira que eu nunca tinha sentido, como eu queria que ela pudesse passar seus dedos pela minha pele e me levar a loucura. Meu Deus! Eu precisava fazer uma lobotomia! O que ela tinha feito comigo, algum tipo de feitiço? Eu realmente a colocaria em risco e também a mim por um desejo carnal? Isso passaria. Eu tinha que ser forte. Mas eu não estava sendo, eu estava sendo corroída por dentro. O medo, a solidão e a falta de algo pra me aquecer estavam me matando aos poucos.

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