a ligação

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Vamos de Val um pouquinho?

Desenvolvendo um pouco a historia e direção a grandes encontros!

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Acho que nunca tinha ficado tanto tempo se piscar. Reparei que meus olhos estavam secos e certas pessoas me encaravam dentro daquele avião. Quando sai correndo daquela sala de massagem, não olhei para trás, simplesmente puxei minha mala pelos corredores, entrei no avião e sentei na poltrona. Se houvesse a possibilidade de me teletransportar eu o faria, mas eu tinha que encarar aquele voo e depois encarar a realidade da minha família. E isso seguido de um dos momento mais aterrorizante e confuso que já vivi. Eu tinha entendido direito? Ela queria...fazer uma massagem em mim? Ela queria me tocar? Depois de tudo o que aconteceu, de claramente nosso santo não bater, ela "precisava me sentir"? Ela é mais louca que eu, aquela garota. Só pode. É claro que eu não voltaria lá, muito menos depois dela ter quase me molestado, querendo fechar os botões do meu casaco. Mas você bem queria aquele calor daqueles dedos na sua pele, vai Valentina. Dá o braço a torcer. Eu não queria nada. Eu queria ela longe de mim. E foi o que aconteceu. Ela estava longe. E agora eu poderia piscar novamente.

A vida parecia um looping de acontecimentos. Há 2 semanas eu me via acordando, me preocupando com a minha mãe, pensando em quem não deveria pensar, revendo documentos de casos, comendo uma salada pra não cair dura no chão, tentando me decidir se pegaria o caso mais controverso da minha carreira, pensando novamente em quem não devia e terminando o dia me preocupando com a minha mãe. Era como o dia da marmota, onde vivemos tudo igual no dia seguinte. Esse fim de semana eu esperava que fosse ser igual. Eu ficaria perto da minha mãe, fazendo minhas leituras, escrevendo em meu laptop, tentando apagar um sorriso lindo e diabólico da mente e tentando me alimentar. E assim acontecia naquele domingo nublado, enquanto eu era acompanhada de uma taça de vinho em minhas mãos. Até que um número desconhecido apareceu na tela do meu celular. Normalmente eu não atendia a esse tipo de ligação, mas o fiz dessa vez.

- Alô?

- Valentina Carvajal?

- Sim, é ela. Quem está falando?

- Nomes não são importantes agora, mas creio que posso vir a ser sua melhor amiga em breve. – o tom era sarcástico e a voz parecia um pouco confusa, como se a pessoa estivesse entorpecida. Eu resolvi entrar no jogo e tentar saber um pouco mais.

- Ah é? Infelizmente essa vaga de melhor amiga nesse momento não precisa ser preenchida, mas podemos ser minimamente amigáveis se você me disser quem é, o que deseja e como conseguiu esse número. – depois de uma risada em tom baixo do outro lado da linha, uma resposta.

- Quem sabe você terá suas respostas em breve, mas agora eu só quero te dar um recado. – o silêncio me ensurdecia enquanto eu aguardava – Se você não pegar o caso Garcia, nossas próximas conversas podem não ser tão agradáveis como essa que estamos tendo. – o medo invadiu o meu corpo e eu fiquei paralisada. Eu estava sendo ameaçada.

- Isso é uma ameaça? Você pretende o que? Me chantagear? Posso acabar com a sua vida com apenas uma ligação.

- E eu posso acabar com a sua com apenas uma bala. – uma lágrima silenciosa escorreu pelo meu rosto, entrando pela minha boca que estava entreaberta, enquanto os lábios tremiam de raiva e terror. – Ficou muda, princesinha? Vamos fazer assim. Pegue o caso, ganhe e vai ficar tudo bem. O que acha? Nos falamos em breve.

Quando a ligação terminou, meu rosto estava coberto de lágrimas, minhas mãos tinham movimentos incontroláveis e minhas pernas queriam ceder. Me sentei e enquanto olhava para a parede branca da casa da minha mãe, pensei no que aquilo representava. Eu tinha uma reputação de ser gélida em todos os casos. Eu simplesmente ganhava, deixava milionários, banqueiros, jogadores profissionais e qualquer tipo de sonegador livre para continuar cometendo crimes contra o sistema, mas nunca na minha vida eu deixei um traficante e assassino assumido nas ruas. Não foi pra isso que me tornei advogada. Eu adorava desafiar as leis escritas pelos homens, que assim como eles, eram falhas. Sentia satisfação em saber que eu era muitas vezes mais esperta que promotores com 30, 40 anos de carreiras cheios de si. Eu não era uma má pessoa, era? Eu só queria vencer e não pelos caminhos fáceis, eu gostava de casos complexos, mas não assim, não como esse. O que eu faria? Eu me deixaria levar por essa ligação? O que me pai faria? Ele nunca se deixaria ser chantageado. Eu iria lutar.

Quando me recompus, liguei para o funcionário junior da empresa o qual eu tinha deixado responsável por pesquisar e colocar em um documento o que encontrasse sobre o senhor Garcia.

- Antônio, você encontrou algo relevante sobre o caso Garcia?

- Olá, senhorita Carvajal. Eu encontrei o básico. Há algumas incompatibilidades no imposto de renda, alguns anos não batem com o declarado, mas nada exorbitante. A única coisa que encontrei foram doações durante quase 10 anos para uma instituição um pouco peculiar. Diz aqui que é um centro de cultura asiática chamado Associação Gao Lin, do Bronx, mas o cnpj indicado não é utilizado há mais de 32 anos. E não encontrei nada na internet sobre esse centro.

Centro de cultura asiática do Bronx? Porque um homem como o senhor Garcia faria doações para um lugar como esse e porque ele não tinha registros atuais? Cada vez mais eu sabia que tinha que me afastar desse caso, mas como eu lidaria com aquele telefonema? Eu mudaria de número? Colocaria a polícia no caso? Eu precisava pensar, pois claramente mexer com aquele homem não era algo que eu quisesse fazer sem ter como me defender. Tentei com conhecidos da polícia federal rastrear o número, mas era totalmente impossível, pois devia ser um telefone desses descartáveis.

Não é preciso dizer que quando deitei não conseguia pregar o olho e enquanto passava minha noite em claro, me liguei de que não tinha com quem compartilhar minhas dores. Eu realmente construí minha vida em torno da minha individualidade. Eu só contava comigo mesma, o que em muitas vezes era o necessário, mas agora, deitada naquela cama enorme, olhando para o teto, com medo, eu queria ser tocada. Eu, Valentina Carvajal, a rainha do gelo, queria um abraço, um afago quente, um toque sensível que me acalmasse. Queria aquele sorriso, aqueles dedos longos, um olhar castanho que me aquecesse. Maldita garota, saia dos meus pensamentos! Mas ela não saía. Porque pensar nela me acalmava? Mentira, não está te acalmando. Isso no meio das suas pernas não é calma. Pela segunda vez, relembrando nossos breves encontros, minha mão se dirigia ao meu lugar mais privado. Eu precisava dormir e se pensar nela dessa forma me acalmava, que seja! Sei sei sei, essa desculpa é ótima. Apenas admita que você tem um puta tesão e precisa senti-la te tocar, Valentina.

Meu primeiro instinto foi de tirar meus dedos de onde estavam, mas a minha mente trabalhava a mil por hora. Eu precisava relaxar, eu tinha sido ameaçada, minha mãe sofreu um acidente, eu não tinha ninguém para me consolar e dar apoio, eu queria que ela me tocasse. Eu queria. Eu queria aqueles dedos atrativos deslizando pelo meu corpo, enquanto o eu sentia o peso de tudo ir embora, ficando apenas o dela sobre o meu. Eu já podia notar aquele calor subindo do meu centro até a minha testa, que já estava suada. As cobertas já estavam jogadas de lado naquela noite fria e tudo o que eu precisei para me aquecer foi pensar nela. Cheguei ao ápice em pouquíssimo tempo, gemendo baixo e surpresa ao perceber que eu quase nunca fazia aquilo. Que quase nunca me tocava. Chorei. Por tudo. Dormi em meio a pensamentos difusos, entre o medo de não conseguir lidar com o que vinha no futuro, o medo de não poder fazer o que mais amava na vida, medo de morrer e o pior, medo de continuar viva sem nunca poder experimentar daquele toque. Decidi ali, deitava em meio a lágrimas e excitações, que um desses medos deixaria de existir.



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Qual dos medos Valentina lidaria primeiro? Algum palpite?


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