Sunflowers.

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O ambiente cheirava a bacon e ovos quando acordei pela manhã, sem noção das horas.

Me direcionei direto para o banheiro ao levantar e fiz minha higiene matinal, seguida por um banho quente.

Minha mente vagando entre a crueldade sem tamanho dele e seu beijo doce.

Minha mente, coração e alma estão afundando em um poço de dúvidas, incertezas e dor.

Dúvida do que está acontecendo, incerteza do que sinto e dor por tudo que aconteceu e o que me tornei.

Ele me sequestrou, transformou o mundo que conhecia em uma simples lembrança e o mundo que hoje conheço em um perfeito inferno. Retirou minha liberdade, me torturou por meses e me largou em uma boate para ser prostituta.

Ele obedeceu ordens.

Um lado meu grita que não importa. Não importa que ele tenha seguido ordens, não importa o que meus pais fizeram, nada disso importa quando se trata dele. Porque ele podia não ter feito. Podia ter mentido. Podia ter me deixado sair.

Não importa mesmo?

Flashes da noite anterior rodeiam minha cabeça. Sua fala cruel no restaurante, seus olhares maldosos e seu riso. As mudanças de humor. Seu beijo.

O beijo. Doce. Eu me odeio por não tirar seus lábios macios da minha cabeça e por não conseguir reprimir o calor que a lembrança do seu toque me traz.

Sou patética.

Quando encerro o banho, volto ao quarto e visto uma roupa quente qualquer que encontrei no roupeiro: camiseta branca, calça preta e um tênis de mesma cor. Como está frio, coloco uma jaqueta grossa que está pendurada em um cabide.

Encaro meu reflexo no espelho enquanto penteio meus cachos e os amasso para ficarem bem modelados.

- Sabia que as roupas serviriam em você. - Uma voz rouca me desperta.

A voz dele.

Verde encontra verde quando nossos olhos se encontram pelo espelho.

- Fiz café. - Ele diz. - Venha.

Como uma ordem, obedeço.

O sigo até a cozinha onde o cheiro de ovos, bacon e café se misturam.

Tomamos café da manhã em silêncio. Seu olhar variando de mim para o fogo na lareira; uma floresta em chamas em seu olhar.



Termino minha torrada e o café em silêncio, os olhos de Harry me acompanhando a cada segundo.

- Vamos, vá se lavar e me encontre lá fora. - Ele aponta para cima e sai do chalé.

Escovo meus dentes e me olho no espelho, respirando fundo.

Quanto menos eu pensar em toda a situação de merda, melhor para mim. Será?

Encontro Harry escorado no capô do carro quando saio e ele sorri de leve para mim, estendendo-me sua mão.

Bipolaridade.

A pego receosa e ele nos conduz por uma trilha estreita, para minha surpresa, já que achei que ele nos levaria de carro a qualquer lugar que fosse que ele estava se referindo.

Estar perto dele é agridoce. Sinto repulsa, ódio, medo e, ao mesmo tempo, algo aquecer em mim, algo confortável e agradável. E então a culpa. Culpa por, de certa forma, "simpatizar" com o louco que me sequestrou.

A trilha estreita não tarda a desaparecer e revelar um belíssimo campo de girassóis.

- Descobri esse lugar enquanto dava uma caminhada essa manhã e achei que fosse gostar de ver. - Ele diz e solta minha mão.

Eu fiquei sozinha? Eu poderia ter escapado. Maldito sono.

- Não podia. - Ele diz e encaro-o assustada.

Ele leu minha mente?

- E-eu não.. - Começo.

- Não se justifique. - A voz é fria e o olhar é cínico. - Não é difícil imaginar o que você pensou e não seria a primeira vez. - Ele dá de ombros. - E você não teria conseguido fugir, há seguranças demais de olho em você.

Não sei o que lhe dizer de volta e portanto apenas olho as flores.

Ficamos em silêncio durante minutos olhando a paisagem. Harry senta em uma pedra no chão e faz sinal para que me sente ao seu lado, porém permaneço em pé. Tenho medo de me aproximar demais dele hoje e repetir o ocorrido noite passada.

Sei que meu trabalho é deitar-me com homens desconhecidos e lhes dar prazer e talvez eu não devesse me sentir constrangida pelo beijo, mas não era puro constrangimento pelo ato, mas sim pela pessoa e pela situação. Afinal, Harry Styles me sequestrou e me colocou nessa situação.

Quanta confusão.

- Annabeth. - Ele chama.

Me viro em sua direção e o encontro de pé atrás de mim.

- Vamos voltar. - Ele me estende a mão. - Vou deixá-la em casa.

Meu peito dói com a menção de voltar àquele lugar. E dói ainda mais em pensar que ele está longe de ser a minha casa ou o que algum dia eu chamaria de lar.


Durante o caminho de volta, Harry liga o rádio e uma música suave toca, fazendo-o cantarolar.

Me surpreendo em transe pela melodia saindo de sua boca. A voz rouca e aveludada preenche meus ouvidos e seguro o impulso de sorrir. Ele poderia ser cantor. 

Não percebo que o estou encarando admirada até seus olhos chocarem-se com os meus me fazendo arrepiar e desviar o olhar rapidamente.

Ele ri para meu desgosto.

- Gosta do que vê?

- E-eu só... Ahn. - Me atrapalho com as palavras. Ridícula. - Eu gostei do som da sua voz c-cantando. - Respondo baixinho.

- Lembrarei disso quando for te fazer dormir. - Ele fala.

Me fazer dormir?

- C-como assim? - A pergunta simplesmente sai.

As palavras deixaram minha boca em vão, vez que ele não se preocupou em me responder e apenas continuou dirigindo até chegarmos de volta ao meu "lar".

Dei uma última olhada para a cidade ao meu redor antes de ela ser substituída pelos muros da minha prisão. 


Mais tarde naquela noite, chorei até dormir pensando na raiva que tenho de minha vida e no sabor doce dos lábios de Harry Styles, apenas para sonhar com sua voz cantando enquanto eu corria por um campo de girassóis.

Stockholm Syndrome.Onde histórias criam vida. Descubra agora