I'll take care of you.

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Era tudo branco. 

Branco em cima, branco embaixo, branco à esquerda e branco à direita.

Apesar do pesar em meus olhos, os mantive abertos até perceber onde estava. Por instantes pensei que estivesse morta, mas percebi logo em seguida que estava em um quarto branco.

 Olhei ao redor e além da cama enorme e de uma cadeira não há mais nada.

 Cama. Confortável e quente. Conforto que há muito não tenho.

Não sei o que aconteceu depois que dormi. Nem por quanto tempo fiquei adormecida. Me sinto mais leve e não posso evitar em me sentir calma.

Ouço o barulho da maçaneta e mudo meu olhar para a porta. Ela se abre revelando meu sequestrador. Engulo em seco quando ele fecha a porta e a tranca. Quando seu olhar se dirige à mim, estremeço e ele não faz nada além de me encarar. Por fim, algo parecido com um sorriso aparece em seu rosto.

- Boa tarde bela adormecida. - Ele diz.

Fico quieta.

- Precisa se alimentar. - Ele pegou um embrulho que estava no chão ao lado da cama. - São dois sanduíches de frango.

Ele estendeu a comida para mim. Hesitei por medo, mas quando senti o papel tocar meus dedos o puxei rápido demais. Desembrulhei com cuidado e a visão dos sanduíches fez minha boca se encher de água. 

Comi tudo desesperadamente e quando terminei de comer, larguei o papel usado como embrulho e mantive minha cabeça baixa.

Então uma garrafa de água fora depositada em minhas pernas, tomei tudo em praticamente um gole, tamanha a sede que estava sentindo.

- Nunca mais fuja de mim. - Ele disse baixinho.

Continuei calada e de cabeça baixa.

- Estamos entendidos? - Ele falou erguendo meu queixo.

Assenti encarando a parede branca atrás dele.

- Responda em voz alta olhando para mim. - Ele sibilou.

Olhei em seus olhos durante um tempo. Verdes e intensos contra os meus verdes e apagados.

- Está bem. - Falei à contra gosto.

Ele soltou meu queixo e se levantou.

- Ótimo. - Ele foi até a porta. - Volto à noite.

E então ele saiu.

Deitei a cabeça no travesseiro macio e fiquei encarando o teto durante minutos, até que adormeci para sair do inferno que é ficar acordada.

...

Não sei por quanto tempo fiquei inconsciente mas quando acordei estava escuro. E frio. Muito frio. Nem a colcha branca grossa conseguia me proteger do frio que estava no quarto e por isso me enrolei o máximo possível. Notei que minhas roupas normais foram substituídas por uma curta camisola preta.

Me amaldiçoo mentalmente por não ter conseguido fugir quando tive a chance, ou então de não ter morrido quando estava quase. Me sinto tão só e tão triste. Tão louca por sobrevivência para sair daqui. Não sei o que fazer.

Decidi me levantar e andar um pouco para me aquecer, nem que seja ao redor da cama. Aí você se pergunta: quem caminha para se aquecer quando se tem um coberta? Eu. Dei três voltas. Poderia ter andado mais, mas o som da fechadura me fez ficar estática.

- Céus. - Ele murmurou quando entrou. - Esse lugar está congelando.

Ele olhou para mim e estremeci.

- vá para baixo das cobertas. - Ele mandou.

Continuei parada.

- Annabeth! - Ele exclamou. - Para baixo das cobertas. 

O obedeci hesitante.

-Está congelando aqui, fique enrolada nas cobertas ou vai pegar uma tremenda gripe. - Ele disse enquanto trancava a porta.

Comecei a tremer novamente. Por mais estúpido que seja caminhar quando se está passando frio, movimentação me aquece. E agora enrolada na coberta tremo de frio e medo. Medo porque ele está aqui e eu não confio nele. Óbvio.

- Como passou o dia? - Ele perguntou sentando-se na cadeira.

Silêncio.

- Sabe, seria mais fácil se você falasse. - Ele passou a mão pelo cabelo. 

Mais silêncio.

- Annabeth. - Seu tom de voz tornou-se mais duro. - Como passou seu dia?

- F-foi como todos os outros. - Forcei minha voz. - Uma droga.

Ele riu.

- Qual é a graça? - Perguntei.

- Nada, é que... sei lá. - Ele balançou a cabeça rindo. 

Confusão se espalhou em meu rosto, assim como indignação. Ele estava a rir de mim?

Seus olhos estavam em mim o tempo todo, como se ele reparasse em cada detalhe existente em mim.

Eu tremi sob seus olhos.

- Você está com frio. - ele disse.

Não me diga. Pensei.

Num ato meio brusco, ele afastou as cobertas e sentou-se na cama. Fiquei estática, assustada.

- O-o que você...? - Comecei a me afastar.

- Não. - Ele parecia nervoso. - Eu não vou te machucar.

Continuei longe.

- Venha, vou te aquecer. - Ele estendeu o braço. - Confie em mim, não tenha medo, eu vou cuidar de você. - Ele me encorajava.

Mas o que...? Bipolaridade talvez?

Provavelmente.

Ao ver que eu não iria me mexer, ele me puxou para si e acomodou-me contra seu peito. Ele falava a verdade quando disse que iria me aquecer, pois o calor começou a se fazer presente, assim como o sono. Meus olhos pesaram embora as batidas de meu coração estejam descompassadas pelo medo. Um toque suave em meu braço me fez relaxar mais ainda e tudo o que eu ouvi após fechar os olhos foi um nome. O meu nome saindo dos lábios rosados de meu sequestrador.

Stockholm Syndrome.Onde histórias criam vida. Descubra agora