It's easy to hurt you.

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O calor que tomou conta do meu corpo demorou a ir embora e enquanto ele buscava suas coisas no carro, eu tratava de usar o banheiro medíocre. Meus olhos correm o recinto em busca de algo. Sem janelas. Suspiro em desânimo ao fazer meu caminho de volta para o colchão após o longo banho, em que eu praticamente esfreguei toda minha pele fora para tirar o cheiro de musgo. Harry Styles ainda não voltou e procuro novamente por alguma brecha que me possibilite fugir. Nada.

O barulho de passos no chão de cascalho velho fez-me pular no colchão e fingir estar preocupada demais com meus dedos. Estou constrangida por ontem, assustada com meus sentimentos e com desejo de fugir.

- Acho que meu colchão é mais macio que o seu. - A voz dele possui um tom brincalhão.

Encaro-o.

- Vais dormir aqui? - Meu estômago revira-se em agitação.

Ele assente e minha garganta está em chamas.

- Água. - tusso. - Por favor, Harry. - E é a segunda vez que seu nome sai de meus lábios. Dessa vez, franzo a testa pois parece-me estranho dizê-lo.

Ele retira uma garrafa de água da mochila em seu ombro e joga para mim. Tomo quase todo o conteúdo de apenas uma vez e ele ri baixinho. Um pequeno sorriso surge em meu rosto e repreendo-me mentalmente por estar reagindo dessa maneira. Ele sequestrou-a! Meu subconsciente grita.

Sinto desconforto e sei que a causa são as roupas que estou a usar. Bufo irritada pelo fato de que fui obrigada a vestir roupas de prostituta.

- Chorando de novo? - O tom grave de sua voz me desperta.

Seco as lágrimas com as mangas e fungo antes de encará-lo.

- Também choraria se tivesse sido sequestrado por motivos desconhecidos, passado fome, sede e frio. - Cuspi.

Ele balançou a cabeça.

- É verdade... - Seu olhar brilhou. - Mas eu não sou pateticamente frágil.

Engasguei com minha própria saliva.

- C-como?

Ele riu.

- Entendeste. - Ele deu de ombros. - És frágil como papel. É fácil machucar você!

Meu rosto esquenta com a raiva que sobe pelo meu peito.

- Sou mais esperta do que pensas e menos frágil do que acusas.

Ele ri levemente.

- Por que tanta ruindade comigo? - Pergunto com a voz embargada.

Seus olhos se suavizam com minhas palavras fracas e cheias de mágoa. Vejo lentamente seus olhos deixarem de serem chamas negras e tornarem-se verdes novamente. Suas feições duras voltam a serem delicadas e a ruga de raiva em sua testa transforma-se em algo que não consigo decifrar. É como pena e compaixão.

Bipolaridade.

Ele sai do ambiente me deixando sozinha.

As pessoas não eram rudes comigo, talvez seja por isso que não lido bem com grosserias e maldades. Sempre aprendi que se plantasse coisas boas em meu jardim, colheria as melhores coisas possíveis. Passei minha infância e parte de minha adolescência fazendo o bem para as pessoas e para as coisas, sempre torcendo pelo bem do próximo. Bom, ao que parece, de nada adiantou - me, pois eis que aqui estou eu, sendo humilhada a cada dia que passa e sem nada poder fazer. Quando eu era pequena, meus pais não paravam em casa, e quando eu os perguntava qual emprego eles exerciam, a resposta era sempre a mesma: Gerenciamos nosso próprio negócio. Nunca especificaram que negócio era, mas eu também não dei bola para isso. Que burra eu fui, só estou presa por causa disso e nem sei o motivo.

Ao acordar pela manhã, notei que havia sido coberta com um quente edredom cinzento e ao meu lado, um par de roupas limpas estava mal dobrado. Afastei a exaustão momentânea e olhei ao redor. Ele não está, constatei.

Levantei-me e agarrei as roupas, reparando que havia um conjunto de lingerie junto. Corri ao banheiro e despi- me rapidamente.

Uma vez que a água estava quente entrei no pequeno box e estremeci com o contato da água. Meus músculos relaxaram e lágrimas rolaram pelo meu rosto, porém se tornaram imperceptíveis. Esfreguei meu corpo com a esponja velha e pouco macia, mais uma vez. causando marcas vermelhas por todo meu corpo.

Após o que me parecem horas embaixo do chuveiro, saio do simples box e enrolo - me na toalha fina. Tento me secar cuidadosamente pois de tanto esfregar o corpo, criei alguns arranhões.

Analisei as roupas minuciosamente antes de vestir as calças de algodão e uma regata preta que mal cobre meus seios. Pelo menos não estou com roupas de prostituta. Nada para os pés.

Será que eu serei sempre uma descalça?

Ao sair do pequeno banheiro, encontrei meu sequestrador parado no meio do local. Os olhos verdes se focaram em mim intensamente e tossi em desconforto.

- Trouxe comida. - Ele apontou para um prato com massa ao lado do colchão.

Assenti e caminhei vagorosamente até meu leito.

- Eu espero que as roupas lhe tenham ficado boas.

- Ficaram. - Murmurei.

Ele sorriu.

- Bom. Muito bom. - E então ele sentou-se.

Eu me pergunto nesse momento por que razão este homem muda a maneira de me tratar tão rapidamente. E antes que eu perceba, as palavras flutuam para fora de minha boca.

- Por que você age assim?

Ele me olha confuso por alguns instantes.

- Assim como?

Suspirei.

- D-deixa para lá. - Dei de ombros.

Ele manteve seus olhos em mim.

- Coma sua comida.

Stockholm Syndrome.Onde histórias criam vida. Descubra agora