SESSENTA E OITO

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É claro que vê-lo ali, tão perto, me dava repulsa, medo, insegurança. Mesmo com algemas em suas mãos, eu me via tão pequeno diante dele.

Aperto a mão de Jungkook, sentindo minha respiração falhar, engulindo em seco. Estava com medo, medo de meu pai conseguir escapar, conseguir ser imunizado... Acabaria para mim se isso acontecesse.

-Eu não vou sair do seu lado, Jimin. Eu estou aqui, se acalme.- Ele sussurra.

Podia sentir meu lobo inquieto, na mais pura euforia. Coloco a mão no peito, sentindo a boca seca. Logo o juiz chega e avisa o início do julgamento, assim sentamos e aguardamos.

Jay foi chamado para depor, meus amigos fizeram relatórios explicando o que ouviam de mim sobre o meu pai e como ele os tratava, minha mãe também foi depor e depois disso sumiu. Jungkook também foi chamado o que me surpreendeu e fiquei incomodado do fato dele não ter me contado, ele enfatizou bem os fatos de homofobia, das surras que o mais novo tomou e de como meu pai me prendeu em casa. Sun-Ayumi também foi chamada, ela saiu em um estado horroroso, chorando, tudo aquilo foi demais para ela. Eu a entendia.

Me chamaram após o intervalo que teve. Enquanto caminhava até a mesa, minha mente vagou até o passado novamente. Trazendo aquele pai que brincava de carrinho comigo, de pega pega, que me ensinou a nadar, que gritou tão alto quando eu fiz meu primeiro gol no lacrosse... E apenas um sentimento ficou, saudades.

Me sentei e encarei aquele homem, não era o meu pai. Eu não sei em que momento aquele pai que eu tanto amava se perdeu, mas sei que ele nunca achou seu caminho de volta e não irá mais achar.

É horrível ver uma pessoa que você ama tanto, se perder na própria mente. As perguntas feitas mexeram muito comigo também, reviver tudo, toda a pressão, todas as falas, quando eu achei que eu era um erro, que eu nasci errado, que eu era uma vergonha, tudo isso veio a tona... Foi horrível, mas necessário.

Assim que acabou, tive que sair e tomar um ar, acontece que acabei passando mal de tanta ansiedade e acabei vomitando no banheiro. Jeon ficou comigo, agachado ao meu lado e acariciando minhas costas.

-Tá tudo bem, meu amor.- Ele diz sorrindo gentil, assim que me encosto na parede.

-Não deveria me ver assim.- Falo fungando e fechando os olhos, que já estavam doendo de tanto chorar.

-Devo sim e verei quantas vezes for necessário, mas que eu não vou deixar você passar por isso sozinho, eu não vou mesmo!- Ele ri, me fazendo rir. -Aqui toma um pouco de água, precisa se idratar.

Pego a garrafa de sua mão e tomo alguns goles, ficamos mais um tempo ali até eu me acalmar e logo voltamos.

Quando chegamos a Sra.Yang estava acabando de depor, depois fizeram mais uma pausa para a decisão final.

Eu estava tão nervoso que comecei a ficar agitado, não conseguia ficar parado e ficava fazendo teorias. Desde as mais felizes até as piores e obscuras.

Jay tentou conversar comigo e até ajudou, mas mesmo assim continuava ansioso. Quando voltamos, permanecemos de pé para ouvir a decisão final.

-Após o debate, eu decreto o réu...-O juíz começa a falar, mas minha mãe entra na hora.

Ela sorria, encara o juíz e sorri para o mesmo, logo indo se sentar. Confuso e criando mais teorias eu a encaro e ela apenas sorri para mim.

O juíz limpa a garganta e se ajeita.

-Eu declaro o réu... Culpado.- Ele fala e sinto um alívio, soltando a respiração que nem sequer notei que havia prendido.

Sorrio com os olhos marejados e abraço Jeon fortemente.

Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora