Capítulo 2

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Malfoy escutava vozes ao fundo. Sua cabeça e corpo estavam doloridos e ele mau conseguia abrir seus olhos. 

"O que aconteceu", se perguntava. 

Ao mexer pouco sua cabeça, percebeu estar pousado em algo muito macio. Havia uma fonte de calor ali, ele conseguia sentir. Uma luz forte vindo de seu lado direito sendo suavemente barrada por alguém que estava ao seu lado.

Conforme ficava mais consciente, as vozes ficavam cada vez mais reais e perto, por consequência, suas memórias voltavam a sua mente cada vez mais vívidas: o banheiro feminino do primeiro andar, as provocações de Murta, Potter, Weasley, varinhas, sangue, uma dor alucinante e, por fim…

"Hermione..."  

Disse para si mesmo, abrindo os olhos com dificuldade. E lá estava ela. Sentada ao seu lado segurando sua mão ao discutir com seus amigos.

— Precisamos falar com Dumbledore. — dizia com firmeza.

— Claro que devemos. Ele é um deles, Mione, foi ele quem estava tentando matar Dumbledore. Precisamos entregá-lo para os Aurores logo depois. — Harry falou, enraivecido.

— Nós não vamos entregá-lo, Harry! Temos que ajudá-lo! Você viu como ele estava assustado. Voldemort vai matar ele e a sua família se a missão não for concluída!

— Quem não garante que encontrá-lo ali não faz parte do plano dele? Até onde sabemos, ele faria qualquer coisa com qualquer um para cumprir a missão. — Ron virou-se para a lareira. — E não seria de todo ruim se a família dele morresse, não? Seriam apenas inimigos a menos para enfrentar.

— Você está falando como um deles, Ronald. — Hermione contraiu os lábios e apertou a mão de Malfoy. — Independente do que fizeram no passado, eles são a família de Draco e ele faria de tudo para protegê-los. Do mesmo jeito que nós faríamos pelas nossas famílias e elas por nós. Daríamos nossas vidas uns pelos outros. Os Malfoys só entendem isso de outra maneira, até porque creio que eles já não tem muita escolha a não ser aceitar as condições impostas.

— Eles tentaram me matar inúmeras vezes, Hermione. Ele quase matou Ron!

— Ainda bem que isso aconteceu. E ainda bem que você estava lá para impedir que o pior acontecesse, Harry. Se isso não tivesse acontecido, é muito provável que Dumbledore estivesse morto agora. — ela fez uma pausa — E sobre isso, ele pareceu bem arrependido, não acham? 

Os dois a olhavam sem crer em suas palavras. Estavam de braços cruzados. Ron ao lado da lareira e Harry a poucos metros de distância de Hermione e Draco. Eles se olharam com descrença. Quem era ela e o que haviam feito com Hermione Granger, a garota que socou a cara de Malfoy há alguns anos?

— Eu só estou tentando dizer que não podemos deixá-lo numa situação como esta. Ele poderia nos dar informações úteis e nos ajudar... Fora que ele tem nossa idade e está enfrentando essas coisas. Harry, você melhor que ninguém sabe disso.

— Não me compare com ele, Hermione! Eu não mataria ninguém!

— A diferença entre vocês é que além de escolhas, Harry, você não está sozinho. Você sempre teve pessoas a quem recorrer, pessoas que se preocupam com você e que te aconselham. — ela faz uma pausa — Draco não é tão ruim quanto parece... Ele pode ser até agradável quando quer.

— E como você pode ter tanta certeza, Mione? — Ron a olha desconfiado dando passos em sua direção, fazendo a jovem corar e olhar para o chão.

— Eu só sei, tá legal? Ninguém é cem porcento ruim. — ambos a encaram — OK! Nenhum HUMANO normal é cem porcento ruim, felizes? — ela suspirou e olhou na direção da lareira — Só pensem com um pouco de benevolência e compaixão. Eu nunca peço nada assim à vocês.

E de fato era verdade. Ron e Harry nunca viram Hermione pedir tanto por algo e com tanta convicção desde o F.A.L.E, mas isso nem chegava aos pés da situação atual.

Harry pensava no que a garota havia falado. Por algum motivo aquilo havia lhe tocado. "Malfoy não tinha escolhas", mas ele também não teve. Harry nunca escolheu nada das coisas que haviam acontecido até ali. Não tinha escolhido ser o garoto da profecia, não tinha escolhido ser um dos campeões, não tinha escolhido perder seus pais e padrinho, não tinha escolhido enfrentar Lord Voldemort nenhuma das vezes... 

Mas por outro lado, tinha escolhido seus amigos, tinha escolhido sua nova família, tinha escolhido o caminho que queria seguir, tinha até escolhido em que casa não queria ficar quando estava no primeiro ano. Harry tinha certa convicção que Malfoy não teve nenhuma dessas escolhas.

O lugar havia sido invadido por um enorme silêncio. Tudo que se ouvia era a dança das chamas vindas da lareira. Draco ainda estava deitado. Resolveu não se meter na discussão e apenas ser um ouvinte.

 Ele abriu um de seus olhos apenas para observar o que estava acontecendo. Harry estava com uma certa inquietação, andando de um lado para outro; Weasley havia virado para a lareira e parecia estar resmungando algo como "não acredito que ela está defendendo ele. Desde quando ela o chama pelo primeiro nome?". 

Draco sentiu certa satisfação ao ouvir isso. Hermione estava com a cabeça baixa e mexia na mão do loiro, fazendo pequenos sinais do infinito com a ponta do dedo, e por vezes dava leves suspiros que pareciam ser de preocupação, passava o olhar pela sala e voltava a olhar para baixo.

O loiro estava surpreso. Nunca pensaria que alguém se colocaria numa posição difícil com pessoas tão próximas para protegê-lo. Não que algo do gênero nunca houvesse acontecido, afinal de contas, ele era um Malfoy. Mas algo como Pansy discutir com Zabini por política e interesses familiares não chegavam nem perto disso. Alí não havia nada disso. Ela relevou tudo que houve no passado e passou a ver toda a situação com outros olhos. Ela não o denunciou em nada, sequer falou para alguém sobre a atividade ou as monitorias. 

Ela era diferente. Talvez a tenha julgado mal... Havia algo não como ingenuidade, não. Hermione Granger não era ingênua, era uma garota boa. Um coração puro como de uma criança, talvez. Mas independe do quão boa fosse, ela não convenceria Potter. Talvez conseguisse convencer Weasley, mas não Harry Potter. Não depois de tudo. Não depois do que seu pai e ele mesmo haviam feito para Harry, seus amigos e o que ele tinha por família até então. 

Mas não faria diferença, faria? O que eles poderiam fazer por ele? O Lorde das Trevas tinha controle sobre sua família e seus aliados. Concordar ou não com as coisas que lhe eram ordenadas nunca fora uma opção. Ele apenas deveria seguir e ser um bom Malfoy. 

Ah, sim... Um bom Malfoy. Mesmo que isso significasse o fim de tudo aquilo. Mesmo que isso significasse a morte da metade da população bruxa em uma guerra. O sangue deveria ser restaurado e as linhagens puras deveriam se sobrepor às outras. Estar no poder. Os trouxas deveriam saber realmente a quem pertence o mundo. 

Uma era de trevas significava luz para os Malfoy. Era isso que ele queria, não era? Viver sem preocupações, sem autoridades vasculhando sua casa, sem pessoas o encarando feio pelas acusações sobre seu pai ser um comensal ainda ativo, sem saber que sua mãe está em casa sofrendo por seu marido estar preso em Azkaban e seu filho enfrentando diversas perguntas impertinentes na escola... 

Mas e se houvesse outra maneira? Não. Não havia. Não poderia ter, poderia? Mas também não deveria haver sobreviventes da maldição da morte e houve... Um bebê não poderia enfrentar um Lorde e sair apenas com uma cicatriz…

Draco estava confuso. Ele não poderia admitir, mas estava. Parte dele queria agarrar a mão que Hermione estendera quando disse para os garotos o ajudarem, mas onde ficaria sua honra? O que aconteceria com seus pais? Será que haveria mesmo um jeito de acabar tudo aquilo e haver paz em sua família? Poderia haver paz em ser um Malfoy? 

"Mesmo que houvesse, tudo depende de Potter agora... Ele jamais aceitaria me ajudar. Não há mais volta. Tenho que fazê-lo", disse Draco a si mesmo.

Malfoy passou as mãos por suas vestes e sentiu sua varinha. Ele respirou fundo e começou a tirá-la de maneira que ninguém percebesse, quando Harry voltou seu olhar para Hermione, ele congela. Será que ele havia percebido? Seria seu fim. Potter começou a dar passos em sua direção ainda de braços cruzados olhando para a garota.

— Você pode estar certa. — ele soltou um suspiro e olhou para Ron, fazendo-o se aproximar também. — Vamos ajudá-lo!


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