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O som de um ronco baixinho despertou Ten de seu sono leve. Olhou para o seu celular, com mais de vinte chamadas perdidas, e tentou focar no horário. Seis e quarenta da manhã.

Taeyong dormia ao seu lado na cama, mas com uma distância respeitável. Ele roncava baixinho, com a boca entre aberta e as mãos entre a cabeça. Estava lindo, com uma expressão angelical, e Ten se permitiu sorrir pela primeira vez em horas. Ainda estava em choque com o que acontecera, e se sentia perdido. Toda aquela situação era como um grande labirinto, por mais que ele tentasse escapar, mais corredores surgiam em sua frente. Um labirinto, mas sem nenhuma saída.

Ele levantou cuidadosamente da cama, e saiu do quarto em silêncio. Desceu até a cozinha, onde encontrou alguns funcionários que o cumprimentaram.

— Bom dia senhor — disse uma das cozinheiras. — Deseja alguma coisa?

— Pode me ajudar a preparar algo para o café da manhã? — perguntou Ten, sorrindo.

A mulher ficou um pouco intrigada com o pedido, mas sorriu logo em seguida, assentindo.

— O senhor é amigo do Tae? 

— Sou, mas não precisa me chamar de senhor, meu nome é Ten. Qual é o seu?

— Muito bem, Ten, eu sou Jiwoo — respondeu a moça, sorrindo.

Ten sorriu em resposta, não gostava de relações frias entre empregados, afinal eles eram pessoas também, não havia necessidades de tratá-los como escravos. Johnny aprendeu muito com Ten a como ser gentil com seus funcionários.

Johnny...

Esquece. Ele não importa mais.

— Então, Jiwoo, o que o excelentíssimo senhor Lee Taeyong come no café da manhã? — perguntou, tentando se distrair de seus pensamentos.

— Pouca coisa, apenas um pouco de cereal, um suco... Quando ele era criança comia bem mais, parecia não ter fim.

— Você conhece ele desde criança?

— Ah sim, trabalho aqui desde os 18 anos — respondeu Jiwoo, sorrindo com a lembrança. — Minha mãe trabalhava para os Lee desde que eles começaram a enriquecer com o comércio de cosméticos, o pai do Tae era vizinho da minha mãe, ele quis ajudá-la, mas ela nunca aceitou dinheiro sem ser vindo do trabalho, e como ele adorava a comida dela, a contratou como cozinheira. Desculpe, estou falando demais...

— Não, continue. Por favor, eu quase não sei nada sobre o Taeyong.

Jiwoo ponderou um pouco, então pediu para Ten sentar na mesa ao seu lado.

— Eu tinha uns cinco anos quando minha mãe veio trabalhar aqui. Meu pai trabalhava na empresa, como chefe de produção, e minha mãe obviamente na cozinha. Eu praticamente cresci nessa casa, conheço como a palma da minha mão. O senhor Lee conheceu a esposa quando ainda eram crianças, um verdadeiro casal apaixonado, eu diria. Um amor que só vi neles e em meus pais. Quando a senhora Lee engravidou, foi uma festa, e quando Tae nasceu parecia que as comemorações não tinham fim. Apesar da mãe de Tae viver exclusivamente pra família, ela precisava de ajuda porque Tae era muito levado, então comecei a trabalhar como babá dele, e a noite fazia faculdade de gastronomia, pago claro pelo senhor Lee. Foram anos maravilhosos com eles, nós não éramos simples empregados, éramos e ainda somos da família. Mas então, quando o Tae tinha uns nove anos, o senhor Lee descobriu que estava com câncer nos ossos, e então passei a cuidar dele 24 horas por dia, pois a mãe se tornou muito distante e só sabia ficar do lado do marido no hospital. Um ano depois, o pai morreu devido a doença, e a vida dele virou de cabeça pra baixo. Nunca vi a senhora Lee tão fria, parecia que toda a alegria dela havia morrido junto, e não ajudava em nada Tae ser tão parecido com o pai. Numa madrugada, a mãe dele veio a nossa casa aqui nos fundos, me deixou uma carta e não disse mais nada. Era o testamento, em que o senhor Lee deixou toda a fortuna para a mulher e o filho, e um outro documento, onde a senhora Lee abdicava da fortuna. Havia também uma carta escrita a mão, onde ela pedia pra eu cuidar de Tae por ela e pelo marido. Eu não entendi muito bem, mas no dia seguinte, estavam todos falando. Ela havia ido embora, e ninguém sabia para onde. Tae ficou sem rumo, com raiva do mundo, e se isolou de todo mundo, mas aos poucos voltou a ser o Tae amável, porém bem menos sorridente. Meus pais passaram a ser os tutores legais, e eu continuei a cuidar dele, e cuido até hoje. Ele é um amor de pessoa, mas muito revoltado com a vida. Rezo todos os dias para que ele encontre alguém que o ame de verdade, assim como seus pais.

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