Capítulo Cinco

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Numa tarde ensolarada e quente, Cecil recebeu a visita de uma velha amiga

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Numa tarde ensolarada e quente, Cecil recebeu a visita de uma velha amiga. Com as saias esvoaçantes e o cabelo em desalinho, Beatrice chegou com as bochechas rosadas pelo calor, e deixou sua sombrinha na mão da criada.
As duas se sentaram no salão principal, onde Cecil pediu a criada que preparasse um refresco para a amiga, enquanto Beatrice desatava a falar.
— Senti sua falta no último sarau. — disse ao bebericar a bebida.
Cecil sorriu calmamente.
— Como sabe minha nora está conosco, e eu não pensei em deixá-la sozinha.
Os olhos de Beatrice cresceram.
— Sim, eu soube que seu filho tem uma esposa. Uma grande surpresa, verdade?
— Realmente, é uma novidade e tanto. — disse Cecil com um leve sorriso.
— Seria possível que ela descesse para que eu a veja? — a mulher perguntou curiosa.
— Sinto muito, mas ela está com dor de cabeça. Não poderá descer. — respondeu Cecil, bebericando do refresco, enquanto sentia seus nervos atacados.
Ela sabia que a amiga era uma faladeira, e que queria ver Sarah para que pudesse falar depois que saísse dali. Cecil faria o possível para preservar a nora dos lábios maliciosos que rondavam a cidade.
— É uma pena, realmente. — Beatrice suspirou desanimada. Mas logo levantou a cabeça, e seus olhos brilharam, com algo que Cecil diria que beirava o maligno. — Suponho que não saiba do que estão falando sobre seu filho, não é?
— É evidente que não. — Cecil disse começando a sentir-se nervosa.
O que falavam de Willian?
O sorriso de Beatrice foi quase como a face do diabo. A mulher era  maldosa em suas fofocas, e não tinha pena de ninguém. Cecil sabia que algo ruim sairia dos lábios daquela mulher.
— Dizem que seu filho está traindo a esposa com a dona da casa de jogos. Um romance, se me entende.
Cecil entendia tudo. Sentiu o corpo se arrepiar, e pensou em mandar Beatrice imediatamente embora. Mas ela não podia deixar aquela mulher sair dali sem ouvir sua versão dos fatos.
Respirou fundo, e encarou a visita.
— Uma grande mentira, é claro. Meu filho é fiel a esposa. Boatos infundados estão sendo criados contra Willian, mas não passam de mentiras. Compreende, não é?
— É claro. — disse Beatrice, mudando de opinião rapidamente. — Boatos infundados, com certeza.
— Eu me sinto cansada com toda essa fofoca que existe em nossa sociedade. — Cecil levou a mão ao peito, ofendida.
— É lamentável mesmo. — Beatrice suspirou. — Como sua amiga achei melhor avisá-la do que estava acontecendo.
— Eu entendo. —  um sorriso amarelo surgiu nos lábios de Cecil. Ela tinha muitas coisas para dizer a aquela mulher, mas nenhuma delas era de bom tom para uma dama. Estava controlando sua raiva.
Não demorou para que Beatrice se fosse, deixando Cecil aliviada quando ela partiu. Sozinha, ela soltou o ar preso nos pulmões e tentou se acalmar.
A fofoca era grave, e colocava em risco a reputação de toda a família. Ser alvo de comentários nos salões de Londres era tudo que uma família não queria, e agora Cecil começava a pensar rapidamente no que fazer, em como agir. Acreditava que a primeira coisa a fazer era falar com Willian, já que ele era o motivo da fofoca, e depois os dois juntos decidiriam o que fazer.
Resignada, Cecil foi até o escritório do filho, onde bateu a porta e esperou. Estava nervosa, mal sabia como iria iniciar a conversa sem que entrasse em desalinho. Ele abriu a porta e encarou a mãe com uma expressão neutra, despreocupada.
— Tenho algo para dizer. — ela disse decidida.
— Entre. — ele indicou para ela passar.
Cecil sentou-se na cadeira em frente a mesa do filho, que sentou-se em frente a ela, e ficou a fitando, curiosamente. Ele não dizia nada, esperava pelas palavras da mãe.
— Uma amiga esteve aqui hoje a tarde. Trouxe algumas notícias.
— Algo grave, suspeito, para que esteja aqui. — sugeriu Willian.
Ela olhou para as  mãos sobre as pernas e suspirou de leve.
— Há comentários de que você é amante da dona da casa de jogos, e isso é muito ruim porque todos já sabem que é casado, e que sua esposa mora nesta casa. Pode imaginar o escândalo.
— Apenas comentários, mãe. Não vamos nos preocupar. — Willian disse despreocupadamente.
Cecil se ajeitou na cadeira.
— Tudo culpa sua, Willian, que fica junto daquela mulher. Como abafaremos o escândalo agora?
— Deixemos que as coisas se acalmem sozinhas. Ademais, como as pessoas souberam que minha esposa está em nossa casa? — ele perguntou encarando a mãe.
As bochechas de Cecil se tornaram vermelhas de vergonha.
— Bem, eu levei Sarah para passear, e talvez as pessoas tenham a visto. Mas isso não é  importante. Não tente livrar-se da culpa por andar com aquela mulher, Willian.
Ele deu de ombros.
— Eu era livre antes de ela chegar e atrapalhar tudo.
— Mas as coisas mudaram agora que ela chegou, filho. Agora você é um homem casado, e precisa respeitar sua esposa. — Cecil explicou a ele.
Willian revirou os olhos. Não considerava aquele casamento como válido de qualquer forma. Nada do que fizesse poderia ser prejudicial.
— Eu acho que sei o que fazer quanto ao escândalo, mãe. Eu já tinha planos, e agora acho que seja um bom momento.
— E qual é? — quis saber ela.
Ele se inclinou para frente, e colocou os cotovelos sobre a mesa, fitando a mãe.
— Vamos para o campo por um tempo, mãe. Podemos ficar até as temperaturas diminuírem, e assim voltarmos. Até la ninguém se lembrará de mais nada.
E havia mais, coisas que ele não queria contar a mãe, mas que haviam se tornado urgentes. Contraíra dívidas na casa de jogos, e não tinha como pagá-las naquele momento. O dinheiro que restara ele tinha decidido investir nos negócios dos navios junto do amigo. Não era um engano, Willian ainda tinha reservas de dinheiro, mas as quais esperava não ter que mexer. A viagem seria um bom jeito de acalmar as coisas.
— Me parece uma  boa ideia. O ar do campo me fará bem. — Cecil disse animada com a ideia. — E Sarah vai se sentir bem também.
— Ela já sabe de tudo?
— Não, eu decidi dizer a você primeiro. Penso que você tem que dizer a ela, Willian.
Ele fechou a cara. Não era uma boa ideia conversar com aquela mulher.
— Vou deixar essa tarefa a você. mãe.
Cecil bufou, irritada.
Levantou-se e estava prestes a sair, quando perguntou:
— Quando partiremos?
— Amanhã mesmo. Em silêncio, sem que ninguém saiba.
Ela concordou.
— Desse jeito, parece que estamos fugindo, Willian.
O filho fitou a mãe.
— No final é isto mesmo, mãe. A senhora sabe disso.
Cecil aproveitou o momento para sair do escritório sem olhar para trás, caminhando a passos largos para fora dali.
Willian levantou-se e caminhou pelo estreito cômodo, pensando sobre a viagem  a Devonshire, e o quanto seria bom para ele ficar longe de toda Londres. A calmaria do campo e o ar fresco fariam lhe bem, e ele não teria nada mais com o que se preocupar.
Ponderou, tinha sim. A esposa indesejada que não fora embora, e que insistia em um casamento real com Willian.
Talvez no campo, ela tivesse sua atenção prendida por outras atividades, e o deixaria em paz. Era tudo que ele queria. Não queria mais se envolver com aquela mulher, que lhe causava arrepios.
***
Sarah estava empolgada com a leitura do livro que havia comprado junto de Cecil. Era uma história de amor, e ela ansiava para saber se o casal superaria as adversidades do relacionamento dos dois. Ela torcia para que sim, estava o dia todo lendo, e esperava pelo final feliz.
Ouviu alguém bater a porta, e não se surpreendeu ao encontrar Cecil parada no corredor. Ela lhe sorriu quando a viu.
Sarah convidou-a para entrar, e a senhora o fez, entrando no quarto da jovem.
— Como passou o dia minha querida?
— Muito bem, estava lendo. — Sarah apontou para o livro em cima da cama. — Aconteceu alguma coisa, senhora?
A mulher olhou para os pés, nervosa.
— É melhor que sente primeiro. — fez Sarah sentar na cama antes de continuar. — Você sabe como as pessoas são fofoqueiras, não é? Falam de todo mundo. E em Londres não é diferente. Pois bem, meu filho Willian virou motivo de fofoca recentemente.
— E por qual motivo ele seria alvo de fofocas?
Cecil engoliu em seco, sabendo que estava sem saída. Teria de falar.
— As más línguas dizem que ele é amante da dona da casa de jogos. Uma grande mentira é claro, mas incontrolável às línguas dos outros.
Sarah agarrou as saias do vestido.
Ela tinha visto com seus próprios olhos o marido com a mulher, e por isso não estranharia que as pessoas começassem a comentar sobre, ainda mais com a chegada dela. Willian era um homem casado se encontrando com uma mulher luxuriosa.
— Temo que muita gente saiba que você está aqui, Sarah. E isso aumentou os comentários, de que Willian trai a esposa. — continuou Cecil.
Sarah ainda se mantinha cética, de queixo e ombros erguidos. Não se abalaria com aquilo. Sabia que podia acontecer a qualquer momento. E de toda forma, estava preparada para aquilo.
— E o que seu filho decidiu fazer? — perguntou Sarah, calmamente.
Cecil começou a andar de um lado para outro, procurando as palavras certas.
— Willian decidiu que passemos algum tempo no campo, até que o escândalo passe. Apenas algumas semanas, tempo suficiente para que a sociedade esqueça e encontre um novo escândalo.
— Então partiremos em breve?
— Acredito que amanhã mesmo, minha querida. Peça a sua criada que a ajude com seus baús. No final, está viagem será bom para nós. Willian ficará longe daquela mulher e você terá chance de conquistá-lo.
Sarah sorriu, mas sem alegria.
A mulher saiu do quarto e ela respirou fundo, sentindo-se como uma tola. Mas ela sabia antes de todos, tinha visto com seus próprios olhos a mulher no colo do marido, e estava se mantendo em silencio desde então. Então seu marido escolhera fugir, partir para o campo até que a sociedade esquecesse esse pequeno desliza da parte dele.  Talvez funcionasse, quando voltassem ninguém mais lembrasse do acontecido, mas ela ainda lembraria, porque ela sabia que depois ele voltaria para a dona da casa de jogos novamente. Era questão de tempo.
Sarah achava a viagem inútil, mas não diria nada porque o  marido não a ouviria. Para ela era mais fácil ficar e enfrentar a situação de peito aberto. Mas uma mulher não tinha voz em seu casamento, e ela muito menos, quando nem reconhecida como esposa era.
Então bastava concordar, e se preparar para a viagem de amanhã.
***
Logo pela manhã uma confusão de baús descendo as escadas era vista, criados carregando objetos que os patrões pediram, e organizando-os todos nas duas carruagens preparadas para a viagem que estava estacionadas a frente da casa.
Quem passava questionava-se para onde a família estava indo, se seria uma viagem curta e se iriam para longe.
Cecil foi a primeira a descer as escadas de entrada da casa e ir até a carruagem, sendo ajudada por um lacaio. Ela notou como havia pessoas em frente a casa, curiosos com o que estava acontecendo. Empinou então o nariz e endireitou os ombros, numa atitude austera. Não se humilharia a ninguém, e nem responderia  a perguntas para onde estava indo. Ficou dentro da carruagem, esperando por Sarah.
A jovem desceu em seguida, e estranhou o acumulo de pessoas em frente a casa, mas decidiu não ligar para isso. Viajaria com Cecil, e Willian em outra carruagem, o que não foi uma surpresa para Sarah, que duvidava que o marido permitiria que ela dividisse a mesma carruagem com ele.
O último a aparecer foi Willian, usando roupas pretas e um chapéu de topo alto, passou rapidamente, dando pouca visão aos curiosos. Entrou em sua carruagem e confirmou com o lacaio que podiam partir, e assim a viagem começou.
Sarah sabia que viajar com Cecil seria animado, e que a sogra não a deixaria quieta. Mas a jovem não estava muito empolgada a conversar durante a viagem. Pouco respondeu as perguntas da mulher, e em algum momento fingiu adormecer, somente para ficar em paz.
A viagem não era tão longa, demandava um dia inteiro, e no final da tarde já era possível avistar pela janela os campos verdes de Devonshire, um lugar com grandes propriedades, as quais se viam pelo caminho. Sarah mal tinha chegado, e já sentia o ar do campo em seus pulmões, e de repente uma alegria chegou em seu coração,   porque aquele lugar lembrava sua antiga casa, lugar que era feliz.
— Eu serei feliz aqui também. — sussurrou, enquanto olhava pela janela.
As carruagens pararam em frente a grande casa de madeira branca, e as portas foram abertas, permitindo que Sarah descesse primeiro, olhando imediatamente encantada para a construção. Era enorme, com dois andares, janelas que Sarah mal podia contar.
— Minha adorável casa. — disse Cecil ao lado dela.
Willian desceu, parando um pouco para observar a casa, e em seguida subiu as escadas, abrindo a porta com ímpeto. Nenhum criado fora avisado que eles chegariam ali naquele dia. As criadas quando o viram, ficaram em pânico, e um jovem de cabelos negros apareceu, vindo dos estábulos.
Ele cumprimentou Cecil e Sarah, e esperou por Willian, que voltou de dentro da casa rapidamente, irritado.
— Todos são inúteis! — rugiu ele com as mãos na cintura.
— Sou Eddy, administrador da propriedade. É bom recebê-lo de volta, senhor. E uma surpresa também. — o jovem disse com um sorriso genuíno.
Willian ainda parecia mal humorado.
— Diga as criadas que levem os baús para dentro. — orientou ele.
— Sim, senhor. — rapidamente o rapaz foi em busca das criadas assustadas.
— Vamos entrar. — Cecil disse a Sarah, que a acompanhou.
Enquanto subiam as escadas, Sarah se distraiu olhando parar o outro lado, e não viu um defeito na escada, onde tropeçou, fazendo-a ir ao chão.
Ela tentou levantar, mas sentiu o tornozelo latejar, tornando difícil se mover. Mas quando Sarah menos esperava, braços a seguraram pela cintura e a ergueram com facilidade, como se ela pesasse como uma pluma.
Era Willian que a recolhera do chão e a colocara de pé. Ela se virou para ele e com o  coração aos pulos tentou agradecer.
— Obrigada senhor. Eu...
— Não é preciso se incomodar buscando palavras para isso, senhorita. Eu apenas a ajudei. — ele disse interrompendo-a.
Ele passou por ela, subindo os degraus restantes.
Sarah ainda sentia o coração palpitando rapidamente, e nem mesmo Cecil a chamando foi suficiente para liberta-la do transe que se encontrava.
— Vamos menina. — a mãe de Willian a pegou pelo braço, fazendo-a acordar.
As duas caminharam para dentro da casa, e novamente Sarah viu-se encantada pelo salão tão bonito e grande. Havia até uma grande lareira ali. As criadas corriam de um lado para o outro, ajeitando tudo para os recém chegados, e era visível como as jovens criadas pareciam desesperadas com a surpresa.
Enquanto todos se organizavam, Sarah decidiu dar um pequeno passeio, e seria bom para seu tornozelo. Deixou Cecil sozinha e saiu da casa, admirando tudo ao redor, até que notou o estábulo mais a frente, e por isso decidiu ir até lá.
Caminhou devagar até as baias onde ficavam os cavalos, e ficou na ponta dos pés para admirá-los. Havia um potro negro, de pelo brilhante, o qual chamou sua atenção. E ela esticou o corpo para tocá-lo, mas ele acabou se assustando.
— Luz da noite é arisco, senhora. — uma voz de trás de Sarah surgiu.
Ela virou-se rapidamente.
Era Eddy, o administrador. Mas ele parecia tão jovem, de cabelos negros desgrenhados, e olhos esverdeados.
— Ele é muito bonito. — Sarah disse sem jeito por ter sido pega.
— Ele tem a cor do pai. Era um dos melhores cavalos da região, senhora.
— Eu acredito que sim. — juntou as saias do vestido e passou pelo rapaz.
— Se algum dia quiser montar, é só dizer, senhora. — Eddy falou assim que ela deu as costas a ele.
Ela parou.
— Eu adoraria. — disse simplesmente, antes de continuar por  seu caminho.
O jovem sorriu, encantado pela beleza da senhora, como ela era graciosa, e o quanto ele daria tudo para ao menos tocar a delicada pele de seu rosto com a ponta de seus dedos.
Era loucura, ele sabia, mas se encantara por ela a primeira vista, Como um pobre tolo.
***
Sarah sentia-se cansada quando a noite caiu, e agradeceu aos céus quando a criada serviu-lhe o jantar no quarto a pedido de Cecil. Havia sido um dia cansativo, e tudo que ela desejava era poder deitar na confortável cama e descansar até o outro dia.
Mas isso não aconteceu, porque logo depois Cecil veio visitá-la, com a desculpa de que tinha um assunto sério a tratar.
— Desculpe vir vê-la esta hora, mas eu precisava falar com você, querida.
— Eu estou sem sono. — mentiu, e sorriu. — Do que se trata?
Cecil sentou na cama e suspirou. Sarah já conhecia aquele sinal, significava que algo sério estava por vir.
— Eu criei um plano para que meu filho se apaixone por você. — começou ela, animada. — Para que isso aconteça é preciso que vocês passem um bom tempo juntos. E eu pensei que ele pudesse lhe ensinar a cavalgar.
Sarah mordeu lábio.
— Eu já sei cavalgar, senhora. Há muitos anos meu pai me ensinou.
Cecil ficou vermelha no mesmo instante.
— Ora, ele não precisa saber desse detalhe. Ele pode achar que é sua primeira vez cavalgando. Confie em mim, menina, funcionará.
— E como vou convencê-lo a me ensinar? Ele sequer tolera minha presença. — ela disse desanimada.
Ficando de pé, Cecil sorriu, erguendo o indicador para cima.
— Eu mesmo o convencerei. Deixe isto comigo. Amanhã mesmo falarei com ele sobre o assunto. — falou convencida de que iria dar certo.
— Eu agradeço, senhora. Farei de tudo para que Willian se apaixone por mim. — prometeu, esperançosa.
— Agora durma, menina. Está com olheiras enormes. — Cecil disse indo para a porta.
Quando estava sozinha, Sarah jogou-se sobre a cama e sorriu feito uma menina. Se o plano de Cecil funcionasse, ela finalmente teria tempo para conhecer melhor Willian, e se aproximar dele. Poderia entende-lo melhor, e compreender por que ele era tão arredio. E quem sabe, no fundo, pudesse chegar até seu coração, e por fim fazê-lo amá-la.
Ela tinha esperanças, e agora mais do que nunca, acreditava que aquela viagem ao campo era o momento perfeito para agir. Longe das tentações de Londres, seria mais fácil fazer Willian notá-la como mulher.
Sarah dormiu tranquilamente naquela noite, sonhou com Willian sorrindo para ela, feliz com alguma coisa que fora dita,  e com cavalos correndo pelo campo. E quando acordou na manhã seguinte, estava pronta para começar com o plano de conquista. Estava esperando apenas por Cecil.
Ela desceu para o andar de baixo, e encontrou a mesa do desjejum posta, e como era muito cedo, deduziu ser a única por ali. Enquanto se servia de ovos e pão, Cecil apareceu sorrindo de orelha a orelha, o que era um bom sinal.
— Bom dia, minha querida. Espero que tenha dormido bem.
Sarah deu um sorriso gentil a sogra.
— Tive uma boa noite de sono. — respondeu lembrando dos sonhos.
Cecil se sentou ao lado dela, e não parava de falar um minuto sobre tudo que tinha que fazer na propriedade, e das amigas que pretendia visitar, e levar Sarah junto. Também dizia que gostaria de voltar a bordar, atividade que tinha deixado de lado desde que se mudara em definitivo para Londres, o que tinha lhe roubado todo o tempo disponível.
Sarah acompanhava com atenção tudo que a mulher falava, e se perguntava como uma mulher como Cecil pudesse ter tanta energia e disposição para falar. Ela lembrava sua mãe, que também falava daquele jeito, e que muitas vezes recebia reprimendas de seu pai, para que falasse menos e cuidasse com as palavras. Ao contrario da mãe, Sarah era mais contida, falava somente o necessário, e se limitava a poucas palavras, além da timidez que a fazia sofrer muito.
— Eu tenho novidades, menina. Falei com meu filho esta manhã quando ele saiu para cavalgar. Consegui convencê-lo a lhe dar aulas de montaria. — disse batendo palminhas de alegria.
— Não tenho como agradecer, senhora. Não posso imaginar como conseguiu isto. — Sarah disse.
E a jovem não sabia como Cecil necessitara de todo seu poder de atuação diante do filho para convencê-lo do que queria. A mulher precisara chorar, dizendo que era um pedido especial de uma mãe desiludida com a vida, e que ela jamais o perdoaria se ele disse não. Apelou ainda, dizendo que a pobre esposa de Willian era como uma criança; inocente, e que tinha lhe prometido que o marido a ensinaria. Por fim, quando Willian já não suportava  mais os pedidos incessantes da mãe, o homem disse que ensinaria Sarah a montar desde que a mãe parasse de chorar.
E desta forma Cecil conseguira convencer o filho, que disse que esperaria por Sarah nos estábulos antes do almoço.
A jovem correu se arrumar, calçar botas certas e um vestido mais apropriado. Sentou em frente ao espelho e trançou os cabelos, lamentando a falta de sua criada que tinha ficado em Londres, ela saberia como fazer melhor. Mas ainda assim encontrava-se animada com a primeira aula.
Desceu logo em seguida, passando por Cecil no salão e sorrindo-lhe. Deixou a casa e foi na direção dos estábulos, encontrando o marido esperando-lhe.
Ela não evitou sorrir ao vê-lo. Usava uma calça preta e uma camisa perfeitamente branca com dois botões abertos, os cabelos loiros desgrenhados, e os olhos verdes cintilando na sua direção.
— Vou ensiná-la a montar, senhorita. Espero que possa aprender rápido para tornar esse tormento menos difícil.
Aquilo era um tormento para ele? Perguntou-se Sarah.
Willian abriu a baia de onde estava um cavalo cor de caramelo e o puxou para fora, levando-o para frente, olhou para trás e fez um sinal para que Sarah o acompanhasse. Ela o seguiu enquanto ele levava o cavalo pelo campo, passando em frente a casa, despertando a curiosidade dos criados. Eles andaram bastante, o suficiente para ficarem longe da casa e dos estábulos. Willian então parou e olhou para Sarah.
— Primeiro toque no cavalo, e fique tranqüila, não sinta medo. — ele ensinou como fazer, passando a mão pelo flanco do animal.
Ela se aproximou, e devagar passou a mão pelo pêlo do cavalo, já que não sentia medo algum.
— Estou fazendo certo? — ela perguntou, olhando para Willian de canto de olho.
— Está. Agora vamos montar. — ele rapidamente montou no cavalo, e Sarah ficou o olhando sem entender. — Me dê sua mão.
Ela o fez, esticando a palma da mão para ele.
— O que está fazendo? — gritou ela quando foi içada para cima, e posta de pernas abertas no lombo do cavalo, em frente ao corpo de Willian.
— Ora, estamos cavalgando. Sei que é a primeira vez que faz isso, mas tente não ficar assustada. Eu estou a segurando. — e o braço de Willian envolveu a cintura de Sarah, assustando-a.
Mas o problema da pobre jovem não era medo de cavalgar, mas sim o contato com o marido, as costas contra o peito firme e musculoso, o braço a envolvendo tão intimamente. Porém ela não diria nada, prendeu a respiração, e conforme o cavalo começou a trotar, ela foi relaxando. Ou não, porque então Willian colocou a cabeça por sobre o ombro dela, e de um jeito tentador, sussurrou em seu ouvido:
— Está gostando, senhorita?
Ela apenas meneou a cabeça, sem palavras.
— Segure as rédeas. — entregou nas mãos dela.
Sarah guiou o cavalo, coisa que já sabia fazer, mas em algum momento mostrou dificuldade, para que o marido acreditasse que ela não sabia mesmo montar.
— Siga reto, mais um pouco. — e assim Sarah continuou, até avistar uma grande arvore solitária carregada de frutas. — Venha, eu a ajudo a descer.
Sarah foi colocada no chão, e deu-se conta de que a arvore tinha peras maduras. Não resistiu e pego uma,  olhando para o marido primeiro, e depois de ele assentir, comeu um pedaço, deliciando-se com a doçura da fruta.
— Essa arvore está aqui desde que eu era criança. — contou Willian, pegando uma fruta também.
— Nunca tinha visto uma tão grande como essa. — comentou Sarah, encantada.
— Aproveite para descansar um pouco. Logo voltaremos.
Sarah concordou. Sentou-se na grama e relaxou, esperando pelo momento de voltar. O marido estava ao seu lado, e a jovem aproveitou para dar uma boa olhada nele.
Hoje as feridas no rosto  pareciam maiores, de cor avermelhadas, cruzavam sobre um olho, o qual ele quase não enxergava nada. Tinha apenas um olho bom. E Sarah tinha curiosidade em perguntar-lhe em como ele tinha se acostumado a ver menos. Mas ela nunca teria aquela oportunidade, porque ele era um marido arredio.
— Vamos voltar. — Willian disse e ela se levantou.
Ele montou no cavalo com facilidade, e novamente a fez subir, como se ela fosse uma pluma de tão leve.
— Logo você se acostuma com isso, senhorita. — ele falou ao fazer o cavalo andar.
É claro que ela podia se acostumar com aquilo, muito facilmente. Como não poderia quando tinha seu corpo contra o dele? Podia sentir o coração dele batendo contra suas costas, e isso foi muito significativo para ela.
— Quando aprendeu a cavalgar, senhor? — ela perguntou tímida.
— Quando criança. Meu pai me ensinou. Demorei aprender porque tinha medo do cavalo. Eu andava com ele da mesma forma que estou andando com você, até perder o medo. Depois disso foi fácil aprender a cavalgar.
— Espero que eu aprenda logo. — Sarah falou, triste por enganá-lo. Mas era por uma boa causa, pensava ela.
— Não demorará para que cavalgue pelos campos, senhorita. — disse de um jeito gentil.
Sarah estava assustada em como o marido podia ser um homem gentil quando queria. Estava demandando toda  atenção e cuidado a ela, e  a jovem precisava admitir que era uma boa coisa. Ela poderia se acostumar a isso facilmente, a ser bem tratada pelo marido.
Faria de tudo para que ele continuasse lhe tratando tão bem quanto agora, e para que os dois vivessem em harmonia.
Voltaram para os estábulos, e Sarah desceu, ainda sorridente. Eddy estava ao lado, e pegou o cavalo das mãos de Willian e o devolveu a baia.
Willian não esperou por Sarah, foi direto para casa, e ela o seguiu calmamente.
Estava feliz, porque havia conseguido uma vitória naquele dia, e porque aos poucos estava conhecendo mais do marido.
Sorriu, em breve estaria nos braços dele. Era uma promessa.

Uma esposa para o lorde fantasma Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz