Dois dias mais tarde, Sarah caminhava pelo campo sozinha, andando pela grama verde, contemplando as pequeninas flores roxas rasteiras que brotavam nos campos, enquanto o vento fresco fazia as saias leves de seu vestido revoarem, assim como seus cabelos, que pareciam rebeldes.
Decidira passear sozinha ainda pela manhã, e saiu sem avisar ninguém, disposta a ter um bom momento ela mesmo, longe da agitação de Cecil, ou a braveza de Willian.
Naquele dia em especial acordara com saudades do pai, e sentira o coração apertado ao se lembrar dele. Ainda tinha as memórias guardadas em seu coração, e não se esqueceria tão fácil dos bons momentos que passara com ele. Recordara especialmente de quando ele a ensinara a montar, como fora paciente e atencioso, e como comemorara quando ela conseguiu cavalgar sozinha.
Foram bons tempos, os quais não voltariam mais, mas que ela sentia saudades, e seria assim até que deixasse esse mundo.
Ao longe, Sarah notou que alguém se aproximava a cavalo, e perguntou-se se era Willian procurando por ela. Bem, ele não se daria a esse trabalho. Mais próximo, ela notou que era Eddy. Ele parou em sua frente e desceu do cavalo.
— Senhora, procurava por ti. — ele disse sorrindo.
Ela sorriu de volta.
— Eu estava passeando pelo campo. Por que veio me procurar?
— Minha senhora procura por você. — informou o rapaz.
Cecil procurava por ela. Alguma coisa devia ter acontecido para que ela a procurasse daquele jeito.
Eddy abaixou-se, e colheu uma pequena flor, e ofereceu a Sarah, que olhou-o sem entender.
— Ela me faz lembrar a senhora. Uma beleza fascinante. — falou, entregando a flor a ela.
Sarah encarou a flor e depois o rapaz, sem saber o que fazer e dizer. Era uma demonstração estranha da parte dele, e a deixava sem ação.
— Obrigada. — disse simplesmente, com um meio sorriso.
Nesse meio tempo, a jovem já estava marchando rumo a casa, sem olhar para trás, onde vinha Eddy, montado no cavalo, a acompanhando.
Ela caminhou rapidamente, ignorando o fato que o rapaz a acompanhava de perto, e o gesto com a flor. Estava preocupada com Cecil.
Chegou em frente a casa e subiu os degraus com pressa, abrindo a porta e entrando no salão principal com ímpeto. Encontrou Cecil sentada no sofá, esperando por ela.
— Finalmente a encontrei. — disse a senhora, levantando-se.
— Eu estava passeando pelo campo, me desculpe não avisar. — tratou de desculpar-se Sarah.
Cecil sorriu, e isso aliviou a jovem, que acreditava que a sogra estivesse brava.
— Hoje o dia está agradável, por isso decidi fazer um piquenique mais tarde. Convidei Willian, e estranhamente ele aceitou. Vamos nós três.
— Eu conheço um lugar. Há uma grande arvore de peras mais ao longe, a sombra é grande e fresca. — sugeriu Sarah, animada.
— É perfeito, querida. — concordou Cecil, batendo palmas. — Iremos no meio da tarde, não se esqueça.
Sarah assentiu e deixou o salão quase pulando de alegria, porque significava que passaria um tempo com Willian, e poderia tentar falar com ele.
Ela subiu para o quarto, onde encontrou um livro para distrair-se até o horário combinado.
***
— Onde está Sarah? — Cecil perguntou no meio do salão.
— Estou aqui. — a jovem respondeu descendo as escadas.
— Acho que podemos ir. Willian está esperando lá fora. — disse a senhora, puxando Sarah pelo braço.
A jovem sorria, porque teria um tempo com o marido, o que era raro.
Cecil, carregando uma cesta de palha com a comida, e Sarah, saíram de casa e encontraram Willian esperando por elas. Ele estava com uma expressão zangada, e não parecia muito feliz.
— As duas demoraram. — ele reclamou, pegando a cesta das mãos da mãe.
— Vamos indo, sim? — Cecil disse passando por ele, deixando Sarah ao lado dele.
Um fitou o outro, e Willian desviou o olhar da esposa, caminhando mais rapidamente, deixando-a para trás sem cerimônia alguma.
Sarah não se importou com a atitude do marido. Era paciente, e menos dia ele mudaria seu comportamento.
Os três chegaram até a arvore de peras que Sarah e Willian viram no outro dia, e que seria o lugar perfeito para um piquenique. Cecil estendeu uma toalha debaixo da arvore e se sentou, convidando os outros dois a fazer o mesmo.
— Eu trouxe alguns doces, querida. Quer provar? — ofereceu Cecil a Sarah.
A jovem se sentou ao lado dela, e foi surpreendida pelo pedaço de bolo que Cecil retirou de dentro da cesta e entregou a ela. Havia cobertura de amoras, e quando Sarah comeu, gemeu de prazer em comer algo tão bom.
De pé, assistindo a tudo, estava Willian não parecia contente, o que levava sua esposa a se perguntar por que motivo ele havia ido. Mas era algo que nem mesmo ele sabia. Tinha aceitado o convite de sua mãe, mesmo sabendo que teria que suportar a esposa.
Talvez ele estivesse começando a se arrepender naquele momento. Não queria encarar aquele olhar especulador da esposa.
Sarah terminou de comer o bolo e pegou outra fatia, oferecendo ao marido, que a fitou sem entender.
— Aceite um pedaço, senhor.
Ele deu um sorriso de escárnio.
— Como pode acreditar que aceitarei qualquer coisa sua?
A jovem respirou fundo, tentando ter calma.
— É apenas um pedaço de bolo, Willian. — Cecil disse ao lado.
— Não quero nada das mãos dela. — o lorde respondeu, dando as costas as duas.
Sarah deixou o pedaço de bolo na cesta novamente e se levantou, ficando próxima do marido. Ele a olhou com raiva quando a notou próxima.
— Não se atreva a se aproximar. Não quero que encoste em mim. — esbravejou ele, dando um passo para o lado.
— Não vou tocá-lo, senhor. Só quero que me ouça. Como pode me tratar desta maneira?
Willian se virou para vê-la melhor, estavam frente a frente.
— Trato-a como merece, senhorita. Lembre-se de que não passa de ninguém em minha casa, e que não é bem vinda. — disse rudemente.
Sarah engoliu em seco. As palavras dele eram duras, e a faziam quase desistir.
— Sou sua esposa, senhor. Deveria ter mais consideração por mim, e tratar-me melhor.
Ele riu ironicamente, deixando-a mais nervosa ainda.
— Já lhe disse, senhorita, este arranjo é um terrível engano, e de fato não somos casados. Pode simplesmente voltar para sua casa e continuarmos vivendo normalmente. É um bom plano.
Ela cruzou os braços, decidida. Não deixaria que ele lhe dissesse o que fazer tão facilmente assim.
— Não importa o que diga, senhor, eu ainda acredito neste casamento. O farei acreditar também, e em algum tempo viveremos como um casal comum. — ela disse tranquilamente.
Willian continuava a sorrir, como se tudo que estivesse ouvindo fosse uma grande brincadeira. Ele não perderia a compostura tão facilmente.
— Engana-se terrivelmente, senhorita, há algo que não poderá conseguir de mim de qualquer maneira.
— O que é? — ela perguntou.
— Meu coração, ele nunca será seu. — Willian disse por fim, virando as costas para ela, e saindo em direção a casa.
—Sinto muito, querida. Ele um dia vai mudar. — Cecil falou ao lado dela.
Sarah suspirou, vendo-o ir calmamente para casa, depois das palavras amargas que lhe falara.
Será mesmo que ela nunca conseguiria conquistar o coração daquele homem? Agora temia por isso. Ele a desestabilizara, deixara-a sem rumo, e com medo do futuro.
— Ele se arrependerá de tais palavras, senhora. Ele ainda me amará. — Sarah disse determinada, quando tivera um pouco de coragem.
— Vamos voltar, certo? — a senhora disse levantando-se, arrumando as coisas. — Infelizmente nosso piquenique foi arruinado.
— Perdoe-me por isso, senhora. Não era minha intenção.
— Não se preocupe, Sarah, a culpa é de Willian.
As duas começaram a caminhar de volta, a jovem sentindo o coração partido em milhões de pedacinhos, as duras palavras fazendo-a questionar se estava certa de continuar ali. Será que não era hora de voltar para casa e assumir que seu plano fora um fracasso? Mas o que faria então com aquele sentimento que tinha aos poucos tomado conta de seu coração e que a dominara sem opção de reação? O que faria agora que tinha descoberto o que era o amor verdadeiro, e como faria quando tudo que desejava era ficar perto daquele homem?
Ela não tinha muito mais escolha do que continuar com seu plano e continuar morando com Willian, mesmo que fosse um infortúnio para ele.
Voltaria às aulas de montaria, e tentaria se aproximar dele novamente, era tudo que conseguia pensar naquele momento.
Chegaram a casa logo depois de Willian, e enquanto subiam as escadas encontraram o lorde descendo. Ele parou em frente as duas.
— Diga que arrumará suas coisas hoje mesmo, senhorita.
Ela fechou a cara.
— Sinto decepcioná-lo, senhor, mas eu não vou partir. — respondeu de pronto.
Willian apertou a mão em punho, irritado.
Deixou de olhá-la e continuou a descer a escada, deixando-a irritada.
Ele se dirigiu para os estábulos, e Sarah continuou no seu caminho, entrando na casa, deixando Cecil no salão principal, enquanto ia para seu quarto.
Ela jogou-se na cama e suspirou profundamente.
Estava cansada de tudo aquilo, sentia falta de casa e de sua mãe. Não esperava que as coisas fossem tão difíceis quanto estava sendo. Esperava o marido mais compreensível e sociável e não tão arredio como ele era. Ela teria um longo trabalho pela frente para que ele começasse tolerá-la. Se ao menos Sarah conseguisse se comunicar com o marido de uma forma melhor, sem que ele começasse a gritar.
Talvez devesse mudar o jeito de agir também.
Ela pensaria nisso.
***
No dia seguinte Cecil conversou com o filho, e pediu que ele continuasse com as aulas de montaria para Sarah. O lorde reclamou e tentou negar, mas a mãe foi insistente, até que ele se convencesse que era uma boa ideia continuar com as aulas.
Naquela tarde, Sarah calçou as botas apropriadas, e colocou um vestido mais fresco, e desceu para o salão principal, onde encontrou Cecil a esperando.
A jovem se aproximou da sogra, que a tomou pelo braço, e cochichou no seu ouvido.
— Use a aula para se aproximar dele, querida. Seja doce e atenciosa com ele.
Sarah assentiu.
— Eu farei, senhora. — garantiu ela animada.
Ela caminhou para fora da casa, e se dirigiu aos estábulos, onde encontrou Eddy preparando o cavalo que seria usado por Willian.
— Está muito bonita hoje, senhora. — o jovem disse sorrindo.
Sarah corou, envergonhada pelo elogio.
Willian apareceu, caminhando com pressa até o estábulo. Ele se aproximou do animal e segurou pela rédea, enquanto o levava para o campo. Sarah o seguia em silencio, esperando pelo que ele diria.
— Hoje você vai montar sozinha. — falou ele, apontando para o cavalo.
— Mas eu não sei como fazê-lo. — protestou Sarah.
Willian a fitou.
— Eu estarei ao seu lado. — explicou. — Venha até aqui.
Ela o obedeceu, se aproximou. Ele a orientou em como montar, e quando ela precisou fazê-lo, conseguiu com facilidade, porque já o sabia fazer. Mesmo que ele não soubesse disso.
— Eu consegui. — ela comemorou.
— Agora segure as rédeas e tente fazê-lo andar. — ensinou Willian.
Sarah fez como ele dissera, e logo o animal estava andando pelo campo. Willian andava ao seu lado, cuidando para se algo acontecesse.
— Bom Deus, eu estou fazendo isso. — ela falou completamente feliz.
Se distanciaram da casa, e já estavam próximos da arvore de peras quando Willian deu um grito, ajoelhando-se no chão. Ele tinha a mão sobre o tornozelo, e Sarah se perguntava se ele havia torcido.
— Uma víbora. — anunciou ele, revelando a picada do animal.
— Vamos voltar, senhor. — disse Sarah, nervosa.
Willian tentou ficar em pé, mas cambaleou e caiu, o veneno da cobra agindo em seu corpo.
— Eu preciso de ajuda. — ele falou, encarando a esposa.
Ela pensou rápido no que faria, e não viu outra escolha se não voltar em busca de ajuda.
— Eu volto logo. — ela disse antes de virar o cavalo e partir galopando.
Quanto a Willian, ficou sentado, a vendo cavalgar tão rápido, os cabelos esvoaçando com o vento. E então ele constatou algo: Sua adorável esposa já sabia cavalgar. Ela o enganara. Uma mulher que não sabe o mínimo não cavalga daquela maneira.
Ele estava furioso por ter sido enganado, e cobraria dela pela mentira, mas agora tinha um problema maior. Puxou a calça para cima e expôs a picada, onde já havia ficado roxo ao redor. Sentia tonturas e ânsia de vomito e não conseguia levantar.
Só restava esperar por Sarah.
A jovem chegou no estábulos rapidamente, e de cima do cavalo pediu por ajuda.
— Venha, Eddy, Willian foi picado por uma víbora. — exclamou assustada.
O rapaz pediu a outro jovem que trabalhava no estábulo para que chamasse o medico na vila, e enquanto isso subiu no cavalo, e junto de Sarah, partiu em busca de Willian.
Os dois chegaram rapidamente, encontraram o lorde sentado no mesmo lugar.
— Senhor, precisamos voltar para casa. Venha, eu o ajudo. — Eddy desceu do cavalo e segurou Willian pelos braços, fazendo-o ficar de pé.
O jovem segurou o lorde, que com muito esforço conseguiu subir no cavalo de Sarah, sentando-se atrás dela, agarrando-a pela cintura sem cerimônia alguma.
— Não caia, por favor. — ela pediu a ele, que tinha a cabeça encostada nos ombros dela.
— Vamos logo, mulher. — ele rosnou, irritado.
Sarah atiçou o cavalo, e o animal começou a trotar indo em direção a casa. A jovem tinha o coração aos pulos, pelo jeito como o marido a segurava, tão próximo. Era a primeira vez que tocavam-se de verdade, e ela não sabia explicar a sensação que a atormentava. Seu estomago parecia ter milhões de pequenas borboletas brincando no seu interior, e a respiração estava acelerada também.
Quando chegaram a casa, Eddy desceu do cavalo e ajudou Willian a descer, segurando-o para que não caísse. O lorde cambaleou, e foi salvo por Sarah, que estava atrás dele.
Ela o ajudou a subir a escada, um passo de cada vez, tudo devagar. E quando estava em frente a porta, ela foi aberta e Cecil apareceu desesperada, procurando pelo filho.
— Willian, o médico está vindo, meu filho. — ela disse nervosa.
O filho não disse nada, continuou caminhando para dentro da casa, Sarah ainda o ajudando. Mas ele mal a olhava, concentrado agora em subir as escadas que levavam ao segundo andar. Sarah estava ao seu lado, enquanto ele proferia palavrões que a jovem nunca antes tinha escutado, e arrastando a perna com a picada, o veneno tendo se espalhado.
Ele chegou ao seu quarto, e ela abriu a porta, quando de repente Willian a empurrou para o lado, e ele cambaleou até a cama, deitando em seguida, respirando com dificuldade.
— Não preciso mais de você, senhorita. — ele disse dispensando-a, fazendo um gesto com a mão.
Ela o olhou com raiva. Como podia ser tão desprezível? O ajudara para que ele a dispensasse daquela forma.
Mas ela não disse nada, apenas se retirou, dando uma última olhada em Willian, enquanto lá embaixo Cecil falava com um homem, provavelmente o médico que havia chegado.
Sarah encontrou o doutor subindo as escadas, um senhor de idade, carregando uma maleta de couro. Ele se dirigiu ao quarto de Willian, e fechou a porta, impedindo a jovem de ver qualquer coisa.
Cecil encontrou Sarah, e puxou a jovem para um lado, como se fosse lhe contar um segredo.
— Willian ficará bem, não é?
— É claro, senhora. — tranqüilizou Sarah.
A senhora respirou profundamente, mais tranqüila, sem todo o medo que estava sentindo.
— Estou orgulhosa de você, querida. Ajudou Willian com muita determinação. — disse Cecil, segurando a jovem pelas mãos.
Sarah sorriu, feliz por ter sido útil.
— Fiz o que pude, senhora. Eu não poderia deixá-lo sozinho, sou sua esposa, e minha obrigação é cuidar dele.
Cecil levou a mão ao coração, emocionada.
— Você é uma jovem de valores, minha querida. Fico feliz que seja esposa de Willian.
Sarah ficou em silencio, tocada pelas palavras da sogra. Ela não faria diferente. Ficara desesperada quando vira que Willian tinha sido picado pela víbora, e a primeira coisa que pensara fora em ajudá-lo. E mesmo que ele não reconhecesse seus esforços, ela não se importava, estava feliz porque agora ele ficaria bem aos cuidados do médico, e o mais importante era que nada de ruim tinha acontecido com ele.
A jovem se sentou em um sofá no salão principal para esperar quando o médico descesse, queria falar com ele, e saber se estava tudo bem com Willian. Ela se mantera tranqüila durante a situação porque sabia que poucas víboras tinham o veneno mortal, e que a maioria delas tinha um veneno temporário, que apenas causava mal estar. Aprendera essas informações com seu pai enquanto crescia, e vira criados da propriedade em que morava serem picados por víboras, e o pai administrava remédio e ele mesmo os curava.
Sarah esperou por um tempo sozinha, e quando viu o médico descendo as escadas, correu interceptá-lo, perguntando-lhe sobre Willian.
— Ele está bem. Administrei o remédio. Não era uma cobra venenosa no fim. — explicou o médico.
— Obrigada doutor por ter vindo tão depressa. — agradeceu Sarah.
O homem sorriu, balançando a cabeça.
— Agora faça com que o lorde descanse, jovem. Ele deve ficar de cama por alguns dias até que melhore. — orientou ele, caminhando para fora.
A jovem ficou sozinha, pensando que o marido não iria gostar da noticia de que ele deveria ficar no quarto por alguns dias. Mas teria que obedecer, Sarah mesmo iria se certificar de que ele estava cumprindo com as determinações médicas.
Cecil voltou até Sarah andando depressa, com um olhar assustado.
— Willian quer vê-la.
Sarah estranhou.
— O que ele quer comigo?
A sogra deu de ombros, sem saber.
Reunindo toda sua coragem, Sarah subiu as escadas novamente, enquanto pensava no que poderia ter acontecido para que o marido quisesse vê-la. Mas algo lhe dizia que não era algo bom.
Ela bateu a porta, e do outro lado ele respondeu para que ela entrasse.
Sarah estava tímida em frente ao marido, as mãos juntas em frente o corpo, o olhar baixo, o rosto queimando.
Willian estava sentado na cama, fitando-a com atenção, tinha a expressão de quem está bravo, as feridas deixando-o com uma aparência assustadora.
— Soube que me chamou, senhor. — ela disse num fio de voz.
— Há algo que gostaria de perguntar a senhorita.
Ela ergueu o rosto para ele.
— Sim?
Willian se aproximou dela, firmando-se na cama, para vê-la melhor.
— Por acaso a senhorita já sabia montar e mentiu todo esse tempo?
Ela fraquejou, abriu a boca e fechou sem saber o que dizer.
Mentir? Ele provavelmente sabia de toda a verdade, e isso apenas pioraria a situação. Falaria a verdade então.
— Sim. — respondeu baixinho.
Notou como a mandíbula de Willian endureceu, demonstrando raiva. Era um mal sinal.
— Deve achar que sou um idiota, senhorita.
Ela se agitou.
— Não, de jeito nenhum, senhor. Eu apenas queria...
— Enganar-me, é isso que queria. — cortou ele.
Sarah se via em desespero tentando explicar a ele os reais motivos para mentir. Mas era difícil fazer isso quando ele não queria ouvir.
— Vejo que não posso confiar na senhorita. És uma mentirosa e não me atenho a pessoas assim. Peço que, por favor, saia do meu quarto. — ele disse amargamente.
— Mas eu...
— Saia agora. — ele retumbou.
Ela assentiu, desolada. Olhou-o pela última vez antes de fechar a porta, e do lado de fora, já sentia as lágrimas quentes descendo por seu rosto. Por que ele não a ouvira? E mesmo que ouvisse, talvez as palavras não fossem suficientes para que ele entendesse seus motivos.
Caminhou até seu quarto, e se sentou na poltrona em frente a janela, que dava para o jardim. Havias duas mulheres cuidando das flores, e por um instante Sarah permitiu-se admirar o trabalho das duas, observando como depositavam adubo nas raízes, e como regavam a flor, enquanto conversavam alegremente.
Sentia-se vazia, triste e decepcionada. Seu plano só dava errado, e ela não sabia mais ao que recorrer para que Willian gostasse dela. O que estava fazendo de errado? Eram suas atitudes? Devia ser mais altiva? Mais doce? Agora precisaria recomeçar o plano, e tentar de outra maneira se aproximar de Willian, já que as aulas de montaria haviam dado errado.
Por enquanto ela esperaria, até que o marido melhorasse, e talvez, usasse a reclusão dele como desculpa para vê-lo, mesmo que ele fosse contra.
CZYTASZ
Uma esposa para o lorde fantasma
Historical FictionLorde Willian se isolou em sua casa desde o acidente que lhe retirou parte da visão e deformou seu rosto, ganhando o apelido de lorde fantasma. Ele precisou refletir sobre seu passado, e seguiu a vida com um casamento de conveniência acordado com o...