Capítulo Seis

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No dia seguinte, à tarde, uma carruagem parou em frente ao solar da propriedade, e de dentro saiu um homem, sua esposa e um bebê

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No dia seguinte, à tarde, uma carruagem parou em frente ao solar da propriedade, e de dentro saiu um homem, sua esposa e um bebê. Eram amigos de Willian que vieram para uma visita.
— Há quanto tempo não nos vemos! — exclamou Richard ao ver o amigo.
A última vez que haviam se encontrado fora logo após o trágico acidente que resultara nas feridas no rosto de Willian. Eram tempos difíceis e o amigo não pôde dar toda atenção a Richard, que havia entendido a situação.
Mas agora o tempo havia passado. E Nina, sua esposa carregava o pequeno Charlie, um bebê de seis meses, de bochechas grandes e rosadas, e o cabelo claro como o da mãe.
As visitas foram acomodadas no salão, e Sarah foi chamada em seu quarto, e cumprimentou o casal com um sorriso, apresentando-se como esposa de Willian, que tinha uma expressão amarga ao lado.
— Como pode ter se casado sem avisar-nos, Willian? — Richard perguntou, sorrindo.
Willian, sentado forçadamente ao lado da esposa, tomou um pouco de ar antes de responder.
— As coisas aconteceram de repente. Não tive tempo de contar. — respondeu ele.
Ao lado, Sarah sorria tentando ser gentil. Olhou para o bebê e depois para Nina, e pensou como era bonito ver a mãe com seu filho nos braços.
— Seu bebê é muito bonito. — elogiou Sarah.
Nina colocou Charlie de pé sobre seus joelhos e sorriu para a jovem.
— Obrigada. Ele é muito esperto, não é Charlie?
Willian se levantou, e convidou o amigo para um passeio nos estábulos, um modo de ficarem a sós e conversarem quaisquer amenidades.
Sozinhas, Nina e Sarah conversaram sobre o bebê, e a jovem confidenciou o sonho de ser mãe. Mas ainda era um sonho distante, já que seu marido sequer a tocava ou lhe dirigia a palavra. Porém podia claramente imaginar um bebê de bochechas rosadas, cabelos loiros e olhos esverdeados como o pai.
— Tenho sorte de que Richard é um bom marido e um ótimo pai. Sempre me ajuda com o bebê. — Nina contou alegremente.
Sarah suspirou. Não tinha nada para falar do marido, nem sequer sabia se ele podia ser um bom esposo, se era gentil ou se poderia ser um bom pai.
— Meu pai foi um ótimo pai e um bom marido. Ainda sinto saudades dele até hoje. — disse Sarah, com a única referencia de bom pai e marido.
— E quanto a seu casamento, como foi? — quis saber a mulher.
Nervosa com a pergunta, Sarah bebericou um pouco de refresco, enquanto pensava em uma boa resposta.
— Foi simples e rápido, sem uma grande festa. Preferimos a simplicidade. — explicou ela, com um meio sorriso.
Nina assentiu, enquanto balançava o filho nos braços.
— Eu acho que preciso trocá-lo. Pode me dizer aonde faço isso?
— Vamos ao meu quarto. — Sarah se levantou e caminhou na direção das escadas.
A  mulher a acompanhou, subindo os degraus devagar. E enquanto subia os degraus, se questionava em como Nina poderia ter tanta sorte em ter um bom marido e um filho adorável. Sarah perguntava-se se estava destinada a uma vida miserável e sem amor como a que estava vivendo, e se algum dia as coisas pudessem melhorar. Porque ao que parecia, tudo que tentava não surtia efeito algum, e servia apenas para afastar o marido mais ainda. Ela se perguntava o que havia de errado.
Elas chegaram ao quarto, e Sarah indicou para que ela entrasse. Nina colocou o bebê deitado sobre a cama, enquanto da bolsa que ela carregava, tirava uma fralda de pano.
Não demorou para que ela trocasse o bebê, que logo estava brincando na cama de Sarah, enquanto a jovem o admirava.
— Parece pensativa, Sarah. — atentou Nina.
— Crianças me deixam feliz. — respondeu Sarah, sorrindo.
— Você será uma boa mãe. — a mulher disse com um sorriso.
Sarah devolveu o sorriso, achando o gesto de Nina gentil.
As duas continuaram a conversar sobre Charlie, e como era ser mãe, enquanto Sarah sentia o coração apertado.
***
— Casado? É difícil de acreditar, Willian. — Richard disse com uma risada.
Os dois estavam nos estábulos, e Willian parecia incomodado com o amigo.
— Eu também custo a acreditar. Mas foi um acordo de negócios, eu não esperava que Sarah fosse aparecer de repente em minha vida. — explicou ele.
Richard assentiu.
— Mas ela apareceu. E como você está com isso? — perguntou ao amigo.
Desesperado, diria ele. Mas Willian deu de ombros, desanimado.
— Eu não a quero. Espero que ela mude de ideia e decida voltar para casa. — contou decidido.
Com urgência, na verdade. Não podia mais suportar a presença dela.
— E por que não a aceita como sua esposa? Ela é bonita e parece gostar de você, bom amigo. — Richard falou, batendo no ombro do outro para animá-lo.
Mas não havia nada que conseguisse aumentar o animo de Willian. Haviam muitos motivos que o levavam a não aceitar Sarah, e sua aparência era uma delas. Não queria condenar uma mulher a viver com um homem como ele. Era cruel demais.
— Porque as coisas são  mais fáceis se ela retornar para casa. Não estou procurando uma esposa, apesar de ter me casado. — disse Willian, perdendo a paciência.
Richard riu do amigo, mas logo voltou a ficar sério diante do olhar dele.
— Então eu lhe desejo muita sorte, meu amigo, porque sua esposa não parece disposta a voltar para casa. — brincou ele, esperando arrancar uma risada do amigo, mas falhando em seguida. — Bem, você pode tentar convencê-la.
— Ela não resistirá muito tempo. Eu não sou um cavalheiro, você sabe. — Willian agora sorria, ironicamente.
— E por que voltou para Devonshire nessa época do ano? E tão de repente?
O olhar de Willian mudou, se tornou obscuro.
— Um escândalo envolvendo meu nome. Você sabe como são as coisas em Londres, e como você pode ter o nome jogado na lama por tão pouco. Corria pelos salões de Londres que eu era amante da dona da casa de jogos. — contou, ansioso com tudo aquilo.
Richard o observou por um tempo.
— Devo presumir que as fofocas sejam verdadeiras, Willian. Eu o conheço o suficiente para saber que andou envolvido por essa mulher.
Willian não negou. Continuou calado, encarando o amigo.
— Você me conhece bem o suficiente mesmo, camarada. — disse apenas.
O amigo se apoiou na cerca de madeira e suspirou, desanimado.
— Espero que esse tempo morando em Devonshire o mude, Willian. O ar do campo lhe fará bem.
— Vamos, eu estava sozinho e desimpedido quando a encontrei. Não havia sinal de esposa e de casamento. Qualquer homem na minha situação aceitaria o convite para os lençóis da formosa dama. — protestou Willian, convencido de que estava certo.
Apenas meneando a cabeça, Richard lamentou as palavras do amigo. Era uma pena que ele não compreendesse a importância do casamento, e como suas palavras eram amargas. Ele imaginava como se sentiria Sarah se as ouvisse. Muito provavelmente ficaria arrasada. Mas Richard ainda acreditava no poder de convencimento da jovem, e que seria possível que ela conquistasse o coração de Willian. Ele precisava apenas deixar ela se aproximar,  e então as coisas fluiriam naturalmente.
— Continua sendo o mesmo que conheci anos atrás, Willian. Teimoso e Intempestivo. Mas não discutirei com você, estou aqui hoje, além de visitá-lo, para também convidá-lo para a festa na propriedade de lady Tess. Será em quatro dias, e sua mãe e sua esposa devem comparecer também.
— Sinto desapontá-lo, Richard, mas não irei. — disse Willian em negação.
— Posso saber o motivo para que negue tal convite?
Willian sorriu ao amigo, e olhou para si mesmo em resposta.
— Minha aparência é resposta suficiente para você?
— Não. — Richard revirou os olhos. — Sua aparência não é desculpa para que negue meu convite. Ninguém realmente liga para sua aparência.
— Não sei se sabe, mas sou chamado de lorde fantasma por causa do meu rosto. Não me entenda mal, mas é difícil enxergar apenas de um olho e ter cicatrizes tão terríveis. — explicou Willian, esperando que o amigo entendesse seu lado.
Richard respirou fundo.
— Não pode ficar o resto da vida se escondendo das pessoas como um verdadeiro fantasma, Willian. Tem direito de viver normalmente como qualquer outra pessoa. —disse devagar, para que ele entendesse.
Willian sentia-se desanimado. Queria que as coisas fossem mais fáceis. Por vezes, pegara-se pensando se pudesse voltar ao passado e evitar os eventos que antecederam seu acidente. Suas atitudes não tinham sido honrosas, e ele sabia disso, e se envergonhava terrivelmente. E ele se perguntava também, se seu destino agora era viver daquele jeito, nas sombras, longe dos olhares das pessoas, sem conviver com ninguém além da mãe e agora da esposa. O homem sentia falta de ir aos bailes de Londres, de dançar com belas damas, de receber olhares de interesse,  e ser considerado como bonito pelas mulheres. Ele tinha uma boa vida antes de tudo acontecer, e agora vivia miseravelmente.
— Sinto muito, Richard, mas não irei. Espero que compreenda. — disse por fim.
— Eu entendo, Willian. — falou o amigo, desanimado.
Depois disso, os dois voltaram a casa, e encontraram as mulheres conversando, ao que parecia tinha entendido-se muito bem, e já eram como amigas.
Richard convidou a esposa para partir, porque já estava tarde, e os dois deixaram a casa, indo até a carruagem.
— Espero vê-la em breve. — Nina disse cumprimentando a outra.
Sarah sorriu, acenando para ela, enquanto seu marido estava ao lado, em silencio.
A carruagem partiu, e os dois ficaram sozinhos na entrada da casa, quietos.
Sarah olhou para o marido, mas ele nem a fitou.
— Está tudo bem, senhor?
Ele passou os olhos por ela.
— Perfeitamente bem. O que faz aqui fora ainda?
Ela piscou sem entender.
— Já estou indo para dentro, senhor. — ela disse obediente.
Segurou as saias do vestido e começou a subir as escadas, quando parou de repente, e virou-se.
Encontrou o marido a olhando, e ela sentiu-se arrepiar, com a visão do rosto de Willian, tão sério as feridas avermelhadas dando-lhe um ar sobrenatural, e o olho machucado, que a deixava angustiada. Os dois encaravam-se sem se mover, e era como se o tempo tivesse congelado, e os minutos tivessem parado de correr. Um via a alma do outro, enxergavam-se com a alma desnuda.
Mas o encanto se acabou quando Willian virou-se novamente, dando as costas a ela, e desceu as escadas.
Ainda em choque pelo que tinha acontecido, Sarah voltou a subir os degraus devagar, pensando no que tinha acabado de acontecer ali.
Chegou ao salão principal e encontrou Cecil, que veio a seu encontro.
— Estive com dor de cabeça e fiquei no meu quarto toda a tarde. Mas soube que recebeu a visita de Nina. — falou a senhora, sorrindo.
Sarah balançou a cabeça concordando.
— Conheci Nina hoje e já a considero como uma amiga. E Charlie é uma graça! — contou ela, animada.
— Fico feliz que esteja fazendo amizades, querida. Isso é muito bom. —  Cecil disse. Segurou a mão de Sarah e a levou até o sofá. — E Willian onde está?
— Eu o vi ir em direção aos estábulos.
— E quando será sua próxima aula de montaria? — perguntou Cecil.
Sarah também queria saber. Willian não dissera mais nada sobre isso, e ela estava começando a duvidar que tivesse próxima aula. Ele parecia ter desistido.
— Ainda não sei. Estou esperando por Willian. — disse Sarah.
— Falarei com ele, querida. Não se preocupe. — Cecil disse para tranquilizá-la.
As duas se viraram quando Willian entrou no salão, e parou em frente das duas. Ele olhou para Sarah com algo que beirava o desprezo, mas ela não se ressentiu, já estava acostumada com os olhares do marido. Não importava-se minimamente.
— Richard nos convidou para a festa na casa de lady Tess, sua amiga, mãe.
— Mas isso é ótimo. — comemorou Cecil, batendo palmas.
— Eu disse que não iríamos. — cortou Willian, fazendo a mãe murchar.
— E por que não, meu filho? — perguntou ela, triste.
Ele desviou o olhar para a esposa, ligeiramente.
— Não quero ser visto por outras pessoas. Devia saber disso, mãe. — explicou ele.
Cecil se levantou, e foi até o filho, segurando-o pelo braço.
— Pense melhor sobre isto, filho. Nós merecemos um pouco de diversão, sim? Tenho certeza que pode reconsiderar.
Willian encarou a mãe.
— Isso é importante para a senhora? — perguntou ele, preocupado com a mãe.
Cecil o olhava cheia de esperança.
— Sim, é. Eu realmente quero ir.
Ele suspirou, abaixando os ombros.
— Então nós iremos, mãe. Porque é importante para a senhora, eu cederei. — disse ele por fim.
Ao lado, observando tudo com atenção, Sarah também comemorou secretamente. Era uma boa coisa se Willian se mostrasse para outras pessoas novamente, e isso finalmente iria acontecer, mesmo que fosse algo mais íntimo, e sem tantos convidados, como ela acreditava ser.
— Agradeço sua disposição meu filho. — Cecil disse baixinho.
Willian olhou para a esposa de um modo frio, e apontou para ela.
— Quanto a você, trate de ser discreta e silenciosa.
Ela o fitou, sem entender.
Era assim que ele queria que ela agisse durante a festa?
— Não se preocupe, senhor, ninguém saberá que sou eu. — prometeu ela, amargamente.
Ele assentiu e saiu, deixando-a sozinha com Cecil, que parecia compadecida de seus sentimentos.
— Eu sinto muito por isso, querida. Não esperava que ele dissesse tal coisaa.
— Está tudo bem. — disse ela, empinando o nariz, altiva. — Não pretendo que as pessoas prestem muita atenção em mim de qualquer maneira.
— Mesmo assim, temos que nos preparar para a festa, Sarah. Se precisar de ajuda para escolher seu vestido basta que me avise. Lady Tess é realmente encantadora, tenho certeza que se encantará por ela.
— Eu tenho certeza de que sim, senhora. — disse sorrindo.
***
Três dias depois, tempo que recorreu devagar na propriedade, havia chegado o dia da festa de lady Tess, e todos estavam ansiosos, menos Willian, que mantinha-se inquieto, nervoso.
Cecil havia experimentado todos os seus vestidos, e tinha buscado auxilio em Sarah, que lhe dizia quais tinham ficado bons, o que demandou muito tempo, e quase os fez atrasar.
Deixaram a propriedade pela manhã, Sarah usando um vestido azul claro com laços nas mangas, que lhe caía perfeitamente bem no corpo, e a deixava com boa aparência. Estavam em silêncio na carruagem, percorrendo uma curta distância, que separava as duas propriedades. Willian olhava pela janela, em nenhum momento olhou para a esposa, sequer lhe dirigiu um olhar.
Chegaram em pouco tempo, e a carruagem parou em frente a grande construção de tijolos vermelhos, mais de oito janelas em cada extremidade, e uma grande porta em madeira antiga, que foi aberta na seqüência, e de dentro saiu uma mulher de idade, usando um vestido de cor marfim, abrindo os braços, cumprimentando a todos.
— Vocês enfim chegaram. — lady Tess se aproximou do trio que tinha acabado de descer da carruagem. Abraçou Cecil, a velha amiga, e direcionou um olhar curioso a Sarah, que estava quieta ao lado das duas.
— É muito bom vê-la novamente, Lady Tess. — Cecil a cumprimentou.
— E você, tão jovem, deve ser a esposa de Willian. — a senhora disse sorrindo. Segurou Sarah pelos ombros e a encarou. — Muito bonita, menina.
— Obrigada. — Sarah respondeu de maneira automática. Estava admirada com a personalidade da senhora.
Ao lado das três, estava Willian, que mal olhava na direção da esposa, como se ali estivesse algo terrível. Ele sempre mudava o olhar de direção quando ela estava em suas vistas.
— Entrem, já temos convidados no salão. — convidou a senhora, indicando para que subissem os degraus.
Sarah olhou rapidamente para trás, preocupada com o marido, que ela acreditava estar quase entrando em pânico. Ele seria visto por outras pessoas, e deixaria exposta sua aparência. Ela sabia que ele estava se sentindo mal por isso, e daria tudo para poder dizer a ele que Sarah estava ali por ele, para apoiá-lo no que acontecesse. Se pudesse, diria  a ele para não sentir medo, e nem ficar nervoso, porque todos logo perderiam interesse quanto a sua aparência e que se encantariam por seu jeito de conversar.
Mas ela não podia apoiá-lo, não podia dizer nenhuma palavra, e o veria sofrer em silencio.
Eles entraram na casa, e caminharam até o salão principal, onde havia algumas pessoas conversando, que logo viraram-se todas para prestar atenção a quem tinha acabado de chegar.
Sarah notou como os olhares de todos foram primeiramente na direção do marido, e que algumas pessoas mostraram-se assustadas, outras curiosas quanto a aparência dele.
— Sintam-se à vontade. Vou pedir que lhe sirvam refrescos. — Lady Tess disse a eles, antes de sair para a cozinha.
Um homem de cabelos loiros veio até Willian  e o cumprimentou alegremente, deixando o homem mais confortável. Era um amigo dele, e isso era bom, pensava Sarah.
Duas mulheres sorrindo abertamente se aproximaram de Sarah e Cecil, e a jovem descobriu que eram amigas da sogra, e que estavam há muito tempo sem se verem.
— Esta é minha nora, Sarah. — apresentou Cecil.
— É um prazer conhecê-la, Sarah. — a mais jovem disse.
Sarah meneou a cabeça assentindo, ainda sem saber se poderia falar, como tinha prometido  a Willian que se manteria quieta.
Nora, uma das amigas de Cecil, puxou Sarah pelo braço, e a levou até onde estava as outras mulheres, apresentando-as uma por uma. Havia um grupo de homens ao canto, e eles direcionaram olhares a jovem, que sentiu-se envergonhada.
— Ela é esposa de Willian. — comentou Nora, às outras.
— Você é a grande novidade dessa festa, Sarah. — uma das outras disse rindo.
— Eu gostaria de aparecer o mínimo. — ela falou, com um sorriso sem jeito.
Lady Tess voltou ao salão, e anunciou que os homens estavam partindo parar uma caçada na floresta próxima a propriedade, dando espaço para que as mulheres ficassem sozinhas, e tivessem mais privacidade.
Os homens se retiraram, e Willian os seguiu, enquanto conversava com o amigo de cabelos loiros. Sarah se perguntava se o marido era bom em caça, já que ele aparentava ser um homem da cidade, e não parecia ter boas habilidades para caçar.
— Agora que estamos sozinhas, você pode contar como conheceu Willian, Sarah. Conte-nos sobre seu casamento.
Ela olhou para Cecil, que ergueu uma sobrancelha, animada.
— A doce Sarah conheceu Willian quando ele viajou para a Escócia a negócios. Ela vivia no campo, na fronteira, e eles se encontraram quando ela caminhava pelos campos floridos.
— Isso é tão romântico! — disse uma das mulheres, suspirando.
Sarah estava entrando em pânico, olhando para a sogra, que não parecia satisfeita.
— Apaixonaram-se  no  mesmo instante. E ali mesmo Willian prometeu-lhe que voltaria para casar-se com ela. Demorou para que isso acontecesse, mas ele tomou coragem  e voltou para encontrá-la, e por fim desposá-la.
— Um amor a primeira vista. — falou uma mulher mais jovem.
— Um casamento simples, sem grandes festas, a pedido dela, muito humilde, e por fim estavam unidos em matrimônio. — terminou Cecil, sorrindo satisfeita.
As mulheres estavam encantadas com a grande história de amor, enquanto Sarah parecia não acreditar que a sogra havia criado uma história como aquela. Perguntava-se o que aconteceria se alguma daquelas mulheres soubesse da verdade, de como havia se casado com Willian, por contrato, sem que ao menos pudesse vê-lo antes de casar-se.
— Vamos beber um pouco, sim?  Estamos sozinhas, e isso é de bom tom. — disse Lady Tess, quando os criados apareceram carregando taças em bandejas de prata.
Sarah segurou uma taça com a bebia âmbar, e olhou para a sogra, que lhe confirmou com um gesto de cabeça. Ela poderia beber.
E quando a líquido escorreu por sua garganta, ela sentiu o calor tomando conta de sua boca e logo depois uma sensação boa, com algo que ela nunca tinha sentido. Seu pai nunca deixara que ela experimentasse álcool, e aquela era uma nova experiência, algo que tinha acabado de acontecer.
— Conte para nós por que decidiram voltar ao campo, Cecil? —perguntou Lady Tess.
Cecil bebericou mais um pouco da bebida e suspirou, enquanto pensava na resposta.
Ao seu lado, Sarah questionava-se como a sogra podia ser tão tranqüila para responder as perguntas das mulheres, e como não entrava em pânico.
— Enjoamos da agitação de Londres, estávamos cansados da temporada em pleno vapor, que decidimos que seria ótimo se recorrêssemos ao campo para descansar. — explicou ela, calmamente.
As  mulheres se empenharam em conversar entre elas, deixando um pouco Cecil e Sarah de lado, o que serviu para que a jovem se aproximasse da sogra, e lhe perguntasse baixinho:
— Por que mentiu?
— Porque elas não precisam saber da verdade, minha querida. — Cecil disse piscando para ela.
Enquanto conversavam, duas crianças irromperam pela porta, um menino e uma menina, o menino segurando uma galinha debaixo dos braços, enquanto a menina tinha os cabelos desarrumados.
— Mamãe! — gritou o menino, assustando a galinha, que se debateu em seus braços. — Eu a peguei nos estábulos!
— Michael, devolva a galinha onde achou. — a mãe do menino se levantou e disse, irritada.
— Estamos brincando com ela. — a menina disse, cruzando os braços.
A mãe dela se colocou de pé também, sem paciência com a pequena.
— Elizabeth, leve a galinha aos estábulos imediatamente.
As duas crianças olharam-se, e o menino tentou segurar a galinha nas mãos, mas o animal foi mais rápido e escapou, fugindo pelo salão, correndo entre os pés das mulheres, que puseram-se a gritar freneticamente.
As crianças corriam atrás da galinha, que era mais rápida que qualquer um, dando voltas no salão, passando sobre o colo das mulheres, deixando-as em pânico. Vendo a situação desastrosa que se desenrolara, Sarah se preparou e pulou sobre a galinha quando ela passava em sua frente, agarrando-a com firmeza, e se colocando de pé com o animal nas mãos.
As mulheres comemoraram a captura da galinha, e aplaudiram Sara pelo feito, enquanto ela devolvia o animal ao menino, que agora segurava-a com mais empenho. Ele e a menina saíram do salão de volta ao estábulo para devolver o animal, enquanto as mulheres cumprimentavam Sarah por ser tão corajosa e pegar a galinha.
Lady Tess, que tinha se assustado com o animal, parabenizou Sarah, e dispensou-lhe mais atenção daquele momento em diante, sempre pedindo sua opinião em qualquer assunto que falava.
Quanto a Sarah, sentia-se feliz por estar sendo bem tratada, mas também culpada porque prometera a Willian manter-se discreta e não chamar a atenção, o contrário do que tinha acontecido, quando se tornara o centro das atenções.
— Precisa me visitar, Sarah. — dizia Nora, animada com a nova amizade.
— Eu farei o possível. — respondeu a jovem, encolhida contra a parede.
Sarah nunca tivera pessoas querendo sua visita, não tivera amigas que se preocupavam com ela. Vivera uma vida feliz anteriormente, mas mesmo assim solitária, onde tudo que tinha era a companhia dos pais, e dos poucos empregados da propriedade. Tudo para ela era novo, estava aprendendo a ter pessoas preocupadas com ela, a ter pessoas lhe chamando de amiga, querendo sua opinião.
Lady Tess chamou as mulheres para compartilharem a comida que havia sido servida a mesa, e todas elas se encaminharam para lá, conversando sem parar.
A refeição foi demorada, as mulheres não paravam de falar, e lady Tess tinha boas histórias para contar a todas. Sarah ouviu todas, algumas com um tom de humor que ela adorava, e outras que arrepiava-lhe os braços de medo. Cecil conversava a todo momento, tinha muitas amigas, e todas estavam dispostas a ouvi-la, o que tornava tudo mais animado.
Sarah respondia as perguntas que eram lhe feitas, mas tentava ficar maior parte do tempo em silencio, apenas ouvindo.
Ainda estavam a mesa, quando um criado veio avisar que os homens tinham voltado da caçada, e por isso deveriam lhes ceder os lugares.
As mulheres deixaram a mesa e se dirigiram ao salão novamente, enquanto os homens se colocavam a mesa, inclusive Willian, que conversava com outro homem animadamente, o que despertou a curiosidade de Sara, quando o viu, de relance.
Willian falava de negócios com Ned, um homem importante, que possuía vários barcos no porto, e que tratava de importações. O homem lhe deu dicas de como investir, e o orientou sobre os melhores produtos a serem importados, quais havia mais lucro, e quais significavam riscos.
Ademais, durante a caçada, Willian conversara com os outros homens sobre amenidades, e usou de toda sua pouca habilidade para caça para receber conselhos de como conseguir um bom coelho, e como empunhar a arma corretamente. Ele esperara pelo momento que os homens fossem lhe perguntar sobre seu rosto, mas não aconteceu, e isso serviu apenas para deixá-lo mais confortável.
Era a primeira vez desde o acidente que conversava com outros homens que não fosse seu amigo Anthony, e os homens da casa de jogos. Conversava de igual para igual, sem diferenças, e sem a barreira das feridas em seu rosto. Chegou a pensar se seria assim sempre, mas bastou alguns minutos de reflexão, para que ele entendesse que não, nem sempre seria assim. Em Londres ele não poderia aparecer livremente, como era, porque as pessoas ali eram diferentes do campo, e um homem ferido como ele chocaria demais uma sociedade tão rígida.
Isso deixou Willian triste, saber que poderia ser ele mesmo apenas ali, longe da grande sociedade, e como pessoas simples podiam ser mais compreensivas e boas com ele, do que pessoas que carregavam títulos e nomes da pura nobreza.
Ele notou também, de longe, vendo-a no salão principal, como Sarah estava encolhida em um canto, e como parecia triste. Se ele fosse um bom homem talvez lhe pesasse a consciência por exigir que ela se mantivesse quieta, mas naquelas circunstancias, ele preferia que ela agisse daquela forma, porque assim chamaria menos atenção, e não lhe associariam a ela.
De algum modo, no seu íntimo, ele tinha curiosidade em conhecer a personalidade daquela jovem, saber como ela de fato era. Desde que o encontrara, ela vivia reclusa em um mundo solitário, e pouco manifestava suas emoções. Isso despertava-lhe a curiosidade, para vê-la de verdade, em sua personalidade nata.
Mas ele tinha escolhido reprimi-la daquela forma, e não cabia arrependimentos, tinha decidido não aceitá-la, e não voltaria atrás. Sua resposta definitiva para ela era não. Nunca a aceitaria. Ela precisava compreender isso.

Uma esposa para o lorde fantasma Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz