Naquela manhã, Sarah acordou muito mais cedo, arrumou-se, penteando os cabelos e escolhendo um belo vestido, e desceu as escadas em silêncio, indo diretamente para a cozinha.
Faria algo que não fazia havia tempo, e que a encantava. As criadas assustaram-se ao vê-la ali, todas parando seus trabalhos para atendê-la.
— Eu só quero ajudar a cozinhar, preparar o desjejum — pediu ela.
As criadas entenderam e logo ofereceram a ela um avental, além de uma colher para mexer os ovos que estavam sendo fritos.
Sarah ajudou a cortar o pão e o serviu nos pratos, decorando-os com pedaços de toucinho. Em seguida ajudou a decorar o bolo recém-assado com uma fina camada de açúcar por cima e, por fim, dourou as torradas, deixando-as prontas em uma tigela.
Enquanto Sarah cuidava da comida, no salão principal chegava Willian, que acordara um pouco mais cedo naquele dia.
Ele se sentou à mesa e mandou servir a comida, que chegou rapidamente. Willian comeu um pouco de ovos e serviu-se da torrada, achando estranho o modo como estava disposta no prato. Chamou a criada, que apareceu timidamente na frente dele.
— O que há de diferente nessa comida? —perguntou curioso.
— A Senhora Sarah a cozinhou, senhor — explicou a criada.
Willian jogou o guardanapo em cima da mesa e se levantou, indo para a cozinha, para o desespero das criadas, que não o esperavam ali.
Encontrou Sarah decorando um bolo com frutas e canela, e ela assustou-se ao vê-lo ali.
— Não o esperava aqui, senhor — ela disse sem jeito.
— Vim convidá-la para tomar o desjejum comigo — falou ele, fitando-a.
Sarah ficou constrangida, olhou para as criadas e para Willian, mas por fim decidiu aceitar. Retirou o avental e arrumou os cabelos, enquanto seguia atrás do marido, em direção ao salão principal.
— Sente-se aqui. — Willian indicou puxando a cadeira para ela.
Ela obedeceu em silêncio, e ele voltou ao lugar que ocupava, sentando-se também.
— Está tudo muito agradável. Deveria provar — ele sugeriu mostrando os pratos.
Logo as criadas apareceram para servir Sarah, que recebeu um monte de comida em seu prato, um pouco de tudo que havia preparado. Ela provou o bolo e se deliciou com o sabor das especiarias. Em seguida comeu um pouco de ovos preparados por ela, e achou que estavam bons. Enquanto a jovem comia, Willian assistia encantado, gostando de vê-la comer.
— Agora percebe como está bom, não é? — ele perguntou rindo, debochando dela.
A esposa de Willian parou de comer e o fitou sem jeito.
Ele estava rindo dela. E Sarah não sabia como reagir diante disso.
— Desculpe-me, senhorita. Por favor, continue a comer — Willian disse pouco depois.
Ela já não tinha fome, por isso deixou o prato de lado e se dedicou a fitar o marido, que estava realmente bonito. Com o cabelo úmido penteado para o lado, vestido de preto e branco, os olhos verdes ainda mais bonitos.
— Vocês estão aqui! — Cecil apareceu no salão, com um enorme sorriso por ver os dois juntos.
A senhora estava feliz em encontrá-los ali sozinhos. Para ela era uma grande evolução na relação dos dois.
Cecil sentou-se ao lado do filho, que sorriu para a mãe, acalentando o coração da mulher. Ele não sabia como gestos como aqueles faziam bem à mãe. A senhora estava carente da atenção do filho, e qualquer pequeno gesto vindo dele era algo enorme.
A mãe de Willian começou a comer enquanto contava a Sarah seus planos para a tarde, que incluíam bordar uma toalha, e convidou a jovem para juntar-se a ela. Sarah prontamente lhe respondeu dizendo que aceitava o convite.
— Estou feliz por sua companhia, menina — disse Cecil alegremente.
— Eu vou cuidar de negócios e volto só à noite, mãe — comunicou Willian.
— Soube de seus investimentos junto de Anthony. Espero que sejam produtivos.
Willian relanceou o olhar para Sarah e depois para a mãe.
— Serão, mãe. Agora preciso ir — disse se levantando, acenando com a cabeça para a esposa antes de sair.
Ela acenou de volta, em um cumprimento mudo.
— Parece que temos uma evolução na relação dos dois — comentou Cecil depois que ele tinha saído.
— Ele está mais gentil comigo — explicou Sarah.
— Logo estará caindo de amores por você, querida — disse a senhora, sonhadora.
Sarah riu do jeito da sogra, a pessoa que mais acreditava na relação do jovem casal e a que mais torcia para que se acertassem. Precisava agradecer a Cecil tanto empenho e a fé, que se mantinha inabalável mesmo em meioa todas as adversidades.
As duas terminaram de comer e se retiraram, cada uma indo para seu quarto, Sarah disposta a ler um pouco do novo romance que conseguira e que a estava deixando ansiosa para saber o final.
***
Pela tarde, Cecil foi atrás de Sarah, em busca de companhia enquanto bordasse, como pela manhã a jovem concordara em fazer.Sentaram-se nos sofás do salão principal, com duas xícaras de chá fumegantes à frente. Cecil bordava uma toalha e fazia os pontos rapidamente, devido aos anos de prática.
Já Sarah fazia devagar, ponto por ponto, com cuidado para não furar o dedo com a agulha, coisa que quase sempre fazia. Aprendera a bordar com a mãe, mas não tinha a mesma prática que ela ou Cecil. Não era um de seus passatempos favoritos, preferia muito mais cavalgar pelo campo ou nadar no rio a passar as tardes bordando. Mas não tinha muita escolha naquela tarde, depois do insistente convite da mãe de Willian.
— Está fazendo muito bem, menina — elogiou Cecil.
Sarah alternou o olhar entre o bordado da sogra e o seu, comparando-os. Havia uma diferença muito grande entre os dois. Um era bonito e grande, com cores vivas, e no outro via-se uma flor de cinco pétalas, de cor vermelha, que pareciam disformes.
— Estou feliz em ver que meu filho e você estão se entendendo, querida. Sabe, estou me sentindo muito afastada de Willian e sinto que nossa relação agora é complicada — reclamou Cecil, chorosa.
— A senhora tem que tentar falar com ele. Willian irá ouvi-la, eu sei que ele se preocupa com a mãe — sugeriu Sarah.
— E quanto a você, menina, deixe-me dizer que já sinto que é como uma filha que não tive — revelou a senhora, emocionada.
Sarah sentiu-se tocada pelas palavras da sogra. Não esperava ouvi-las. E, na verdade, também sentia o mesmo por Cecil, tinha-lhe muita consideração.
— Fico feliz em ouvir isso, senhora. Eu também a vejo como a uma mãe — falou Sarah.
Cecil tinha um enorme sorriso no rosto. Tudo que lhe faltava era ser notada e receber um pouco de atenção. Ter um pouco de carinho das pessoas com quem ela mais se importava na vida, Sarah e Willian.
A jovem tinha decidido falar com o marido sobre isso, pedir-lhe que desse mais atenção a Cecil, que sentia a falta dele. Sarah tinha certeza de que Willian a ouviria e conversaria com a mãe.
Distraídas com o bordado, as duas passaram quase a tarde toda entretidas, conversando. Não viram o tempo passar, notaram apenas que era tarde, pois Willian tinha chegado e ido diretamente ao escritório.
Sarah deixou Cecil e foi até o marido, batendo à porta. Ele abriu e a mandou entrar.
Ela foi se sentar na cadeira em frente à mesa dele, que deu a volta e se acomodou na confortável cadeira de tecido.
— Eu queria falar com o senhor sobre um assunto importante — disse ela, assim que o viu sentado.
— Pois estou aqui para ouvi-la.
Ela se aproximou da mesa dele e falou baixinho.
— É sua mãe, senhor, está sentindo sua falta. Não está destinando muita atenção a ela — explicou Sarah.
— Realmente? Ela disse isso à senhorita? — perguntou ele, aproximando-se da esposa também.
— Disse, é verdade. Está se sentindo só e desamparada — contou a jovem.
Willian pensou por um instante.
— Eu cuidarei disso, senhorita. Agradeço a informação. Mas por que estamos sussurrando? — ele quis saber, sorrindo.
— Eu não sei — disse Sarah normalmente, arrumando a postura. — Meu trabalho era apenas informá-lo, senhor. Agora que o fiz, vou me retirar.
Ela se levantou, mas ele a segurou pela mão, impedindo-a de ir.
— Espere, senhorita. Deixe-me avisá-la que fomos convidados para a festa na casa de Lady Susan amanhã.
Sarah se surpreendeu com a informação. Não sabia de nada.
— E suponho que nós iremos, verdade?
— É evidente. Pessoas importantes estarão lá, além de alguns conhecidos que não vejo há anos. É o momento certo para nos mostrarmos— explicou Willian calmamente.
Ela soltou-se do aperto dele e deu um passo para trás.
— Farei como desejar, senhor.
O rosto de Willian mudou, tornou-se sério. O lorde se levantou e foi até ela, que já não sabia mais o que ele faria.
— Eu preciso lhe agradecer, senhorita, por tornar minha vida mais fácil aceitando tudo isso — ele disse bem próximo dela, que o olhava encantada.
— Sabe que farei o que for preciso pelo senhor — ela respondeu simplesmente.
Ele acolheu o rosto dela em uma mão, acariciando-a.
— Eu sei, senhorita. Mas ainda me admiro com sua lealdade a mim, depois de tudo. Como posso recompensá-la? — Willian perguntou com a voz rouca.
Basta que me beije, diria ela.
— Dando-me seu amor, senhor — ela pediu baixinho.
— Não posso, senhorita —respondeu de pronto, afastando-se.
— Por que não? — Sarah perguntou triste.
Willian levou a mão ao rosto ferido e suspirou.
— Porque não a mereço. E não posso esquecer o que vi.
— Mas eu não o beijei — protestou a jovem.
O lorde deu as costas a ela.
— É melhor que se vá, senhorita — ele disse decidido.
Ela não tinha mais nada que dizer a ele, então se foi, batendo a porta ao sair. E o deixou com o coração partido, porque o lorde já não podia mais controlar os sentimentos que agiam desgovernadamente em seu coração.
E enquanto isso, em uma área específica da casa, longe dos olhos dos patrões, uma mulher se esgueirava, ao lado de uma criada que a tinha ajudado a entrar ali. A mulher tinha más intenções, almejava prejudicar Willian.
Anna não tivera muito trabalho para entrar ali, precisara apenas convencer uma criada a ajudá-la, oferecendo dinheiro.
— Quero que me informe sobre tudo que acontece aqui dentro.
— Sim, senhora — respondeu a criada.
— Eu lhe pagarei uma alta quantia para que me informe tudo que Willian faz. Ninguém saberá, e seus patrões não descobrirão. Você não estará prejudicando ninguém — explicou a mulher.
A criada assentiu, maravilhada com a quantia de dinheiro prometido a ela. Era mais do que ganhava na casa e poderia mudar sua vida.
Assim, a mulher se foi, rebolando os quadris de volta a sua casa de jogos, esperando pelos apostadores que chegariam naquela noite e que lhe encheriam os cofres. Esperava principalmente pela visita de Willian, que continuava gastando o que não tinha, aumentando sua dívida, o que já era uma pequena fortuna.
Ela não o avisava sobre as dívidas, esperava o momento certo para cobrar, quando arrancaria tudo dele e o faria arrepender-se por ter se casado com aquela jovenzinha sem graça. Willian era só dela, seu amante preferido, e nenhuma outra ousava tocá-lo. Mas ela tinha ouvido falar que ele tinha comparecido ao baile de Lady Jane ao lado da esposa e que tinham sido a sensação do evento. Tinham atraído os olhares de todos, e muitos já diziam que eram o casal da temporada; Willian com sua beleza exótica, e a esposa, de uma beleza angelical.
Ela não deixaria aquilo acontecer.
CZYTASZ
Uma esposa para o lorde fantasma
Ficción históricaLorde Willian se isolou em sua casa desde o acidente que lhe retirou parte da visão e deformou seu rosto, ganhando o apelido de lorde fantasma. Ele precisou refletir sobre seu passado, e seguiu a vida com um casamento de conveniência acordado com o...