Há uma pergunta bem complicada quando vista primeira vez, por que nos faz questionar muito a nossa vida e o que ocorre nela, a pergunta é o que é "liberdade"? Pretendo descomplicar (ou complicar) mais essa questão com a simples colocação que aqui será feita: Será que somos livres como pensamos que somos?
Certo, chega de perguntas e vamos refletir sobre tudo isso. Na Psicologia há muita discussão sobre o que é liberdade e se realmente somos livres, aqui tratarei de uma das visões existentes. Quando questionada sobre o que seria liberdade, cada pessoa dirá um significado próprio do que acha que é, mas quando refletimos sobre essas respostas chegamos a duas conclusões: A) Liberdade é a ausência de uma coerção e B) Liberdade é a inexistência de qualquer tipo de controle sobre nós, melhor sintetizando: é o livre-arbítrio.
Ao dizer em uma situação que "sinto-me livre", pode-se traduzir isso como sendo "eu escolhi algo que gosto e quero e não fui coagido a escolher isso", assim, a palavra "liberdade" tem sentido parecido de "felicidade", porém é uma felicidade especifica que ocorre quando você não é obrigado a escolher algo por que outra pessoa te obriga, mas sim, escolhe por você.
Normalmente liberdade tem também significado de autocontrole, portanto, a pessoa seria livre quando controla a si mesmo, uma vez que ela modifica algum aspecto no ambiente a fim de modificar seu comportamento, porém quando pensamos na forma de fazer o autocontrole, nota-se que ela é aprendida em relação ao ambiente, isso explica o porquê as pessoas escondem o chocolate para não comer tudo de uma vez só, o estudante que deixa o celular longe enquanto estuda, a pessoa que deixa o despertador longe ou coloca para despertar de 10 em 10 minutos para conseguir acordar e levantar, entre outras formas que usamos de modificar o ambiente para que ele aja sobre o nosso comportamento; fica claro, então, que ao modificar o ambiente para que nós nos comportemos de uma determinada forma, o ambiente ainda tem papel de determinar nosso comportamento.
Não é por que o ambiente continua a determinar nosso comportamento que isso é algo ruim, na verdade isso é algo essencial quando vamos à terapia, uma vez que uma das funções da terapia será de nos ajudar a perceber quais variáveis do ambiente nosso comportamento é função e, tendo isso como base, o terapeuta nos ajudará a intervir e modificar algumas dessas variáveis e com o tempo a pessoa saberá fazer isso sem o auxílio do terapeuta, assim, a pessoa se tornará "independente"
Como podemos ver, a ausência de coerção não significa que nada controla nosso comportamento e quando chamamos a ausência de controle de liberdade podemos não estar enxergando uma forma poderosa de controle: o controle por ganho, esse controle é poderoso pois uma de suas característica é que nós aceitamos ele e não nos revoltamos contra, uma vez que raramente reconhecemos ele como um tipo de controle, assim, ele beneficia o controlador e aos poucos vai trazendo prejuízo para os controlados. A criança e adolescente que gradualmente vai entrando para o tráfico de droga, trabalhador que encara uma jornada de trabalho cansativa e perigosa, Marketing que te seduz ao consumismo ou a comprar coisas que a longo prazo vão te prejudicar são alguns exemplos e com isso a colocação de Skinner se faz real "um sistema de escravidão tão bem planejado que não gere revolta é a verdadeira ameaça" e o primeiro passo dessa revolta é entendermos o nosso papel de "escravo" e a nossa defesa é a mais pura exposição da técnica de controle.
Podemos entender que quando nós nos tornamos livres não significa então que não há nada que determina nosso comportamento e que nossas ações são espontâneas, mas sim que percebemos o que controla nosso comportamento e sabemos o que temos que modificar no ambiente para modificar o nosso comportamento ou o que temos que modificar no nosso comportamento para modificar o ambiente.
Ao julgar ser livre e que nada controla seu comportamento, você pinta as correntes que te prendem, ao invés de entender como ela te prende.
Veja mais informações em: DITTRICH, A. Sentidos possíveis de "liberdade" no Behaviorismo Radical. Sobre Comportamento e Cognição: Analise experimental do comportamento, cultura, questões conceituais e filosóficas. In: HUBNER, M. M. e Cols. Santo André: ESETec, v.25, 2010.
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Aventuras de Psicologia, a Ciência do Comportamento
Non-FictionCrônicas sobre experimentos, autoconhecimento, ciúmes, persuasão, liberdade, "mente", instinto e muitos outros assuntos (e polêmicas)