De choque em pombos até relacionamento abusivo

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Muitos se questionam por que a psicologia comportamental também faz pesquisas utilizando animais como pombos e ratos, resumidamente podemos explicar que isso ocorre, pois, a psicologia comportamental notou que há uma lei geral do comportamento, assim, o comportamento de qualquer organismo pode aumentar ou diminuir a chance de acontecer dependendo da consequência que ele terá do ambiente e também que o comportamento de todos os organismo são selecionado pela filogenética, ontogenética e cultura (será aprofundado isso em outro capitulo).

Em um estudo feitos por Azrin em 1959, foi colocado um pombo em uma caixa experimental e no começo ele deveria bicar uma chave na parede para que a os grãos fossem liberados para ele se alimentar, assim, para cada bicada do pombo, uma quantia de grãos ficava disponíveis por alguns segundos no comedouro. Após um período, apenas algumas bicadas do pombo liberavam comida, portanto o pombo começou a se esforçar cada vez mais para ter comida, até que alteraram a caixa experimental para que a bicada que viria antes da liberação do alimento liberava um choque que baixa intensidade, o pombo ficava aparentemente desconfortável e em seguida o alimento era liberado, com isso ele comia. Cada vez que o pombo acostumava com a intensidade do choque, o choque ficava mais forte, com isso o pombo aprendeu que após o choque (que era algo desprazeroso) era dado a comida (que era prazerosa). Esse comportamento do pombo ficou tão forte que até quando a comida parou de ser disponível o pombo continuou a bicar, assim, os observadores confusos achavam que o pombo era masoquista por gostar de levar choque, mas ao ver sua história de vida foi possível entender que o pombo não gostava de levar choque, mas sim que o choque estava associado a comida.

Esse arranjo pode ocorrer com a nossa história de vida de uma forma bem triste, como o relacionamento abusivo. No início de um relacionamento abusivo, o casal um irá agradar o outro e irão se empenhar na relação para que tenham uma relação bem agradável e que ambos possam dar afeto um ao outro em várias situações. O problema é quando a relação cai na rotina e a relação vai cada vez mais "esfriando", com isso um dos parceiros (geralmente é a mulher) se dedica tanto na relação e não é correspondido com tanta frequência a busca de afeto, mas pela busca frequente o parceiro acaba dando um pouco de afeto quase por obrigação.

A mulher que busca afeto começa se habituar por essa dificuldade de acesso a carinho e afeto, e cada dia que passa ela tem que se empenhar ainda mais, pois geralmente o afeto vai ficando mais escasso, assim, a mulher ainda cuida da relação e faz com que a relação se mantenha mesmo que esteja "tomando choque", uma vez que virá afeto em seguida. Mesmo que na busca por afeto comece a ter pequenas rejeições antes de receber, a mulher vai se "habituando", então a rejeições podem ficar cada vez mais acentuadas a ponto do homem começar a agredir, porém o homem se sentirá culpado de tê-la agredido (ou com medo que ela conte para alguém) ele irá dar afeto em seguida.

Essas pequenas agressões podem ficar constantes e a mulher se "acostumar" com elas, assim, continuará buscar atenção e carinho, mesmo que só receba após sofrer agressões físicas e verbais, uma vez que o homem poderá começar ser cada vez mais agressivo quando a mulher buscar atenção e carinho, tendo isso em vista, podemos fazer uma analogia com o processo que ocorreu pelo o pombo, uma vez que a mulher pode iniciar uma briga na qual ela seja agredida, pois em seguida ela terá atenção e carinho do parceiro.

Quem está de fora do relacionamento irá olhar a relação e falar que a mulher é masoquista, que gosta de apanhar ou que é "mulher de malandro", porém o problema é uma vez ou outra o parceiro dá a atenção e carinho que a mulher quer, ela estará em um envolvimento muito forte nessa relação, assim, uma pessoa que está em um relacionamento abusivo necessita de ajuda psicológica, para assim conseguir mudar esse processo em quem ela está envolvida.

Veja mais informações em: HUBNER, M. M.; SILVARES, E. F.; ASSUMPÇÃO JUNIOR, F. B.; PRISZKULNIK, L.; MOREIRA, M. B. Temas clássicos da psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

Aventuras de Psicologia, a Ciência do ComportamentoWhere stories live. Discover now