sentinela (ou poesia que me mantém acordada)

XII

SE A GALÁXIA DOS SEUS OLHOS QUISESSE COLIDIR COM A MINHA

oi viajante do espaço
que encontrei no meio do meu caminho
você bem que tentou escapar dessa colisão, não?
também tentei, confesso
mas é tão difícil porque não somos nós, é o universo
que se encontra em expansão
e se você acha que tudo isso começou só agora
quando as nossas galáxias decidiram se fundir em uma só
está muito enganado
esse mover de astros pra lá e pra cá
que faz o coração bater descompassado
essa viagem de destino incerto que todos fazem pelo espaço
já estava proclamada há muitos bilhões de anos atrás
antes mesmo da minha e da sua existência
serem cunhadas pela carência
de se viver
de se amar, de se encontrar
nem que seja em um outro alguém
nem que seja em ninguém
nem que seja em outro lugar
este reboliço mal percebido pela gente
chamado pela ciência de alma vivente
foi gerado no momento exato
em que a natureza pela primeira vez suspirou
e decidiu que um dia
viajante pelo espaço seria
no intuito de fazer
tudo isso acontecer
você e eu
eu e você
andrômeda e via láctea que agora são um
confusos demais
pra entender
onde um começa
onde o outro termina
mas sabe
eu ainda gosto muito
quando olho pela janela
e vejo saturno caminhando pelo espaço
de mãos dadas com a minha sirius
ainda gosto muito
quando olho pro céu e não sei
se é a minha atmosfera ou a sua
e assim eu facilmente me desfaço
risco meu próprio nome da lista dos viajantes do espaço
pois viajante é quem ainda persegue um destino
mas meu querido
pra que continuar procurando
se o meu destino sempre foi você
meus olhos sempre buscaram os seus
em meio à multidão
venha aqui
pegue o buraco negro que um dia habitava no centro do meu ser
o transforme em mais que nada
faça dele um portal
que vai dobrar o espaço-tempo no meio
deixar pra trás o que um dia lhe causou o desespero e o devaneio
e fazer de nós
um fenômeno na história da ciência
que nem as fórmulas mais precisas
serão capazes de decifrar
qual é exatamente
a incógnita do amar.