XLVII

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E SE...?

sempre odiei
o tipo de pensamento que começasse com se
até o dia em que eu fui obrigada a me esquecer de você
sem aviso prévio do destino
naquele dia foi quase como se o tempo dissesse
que já estava cansado demais de nós dois
porque a gente parecia estar indo a lugar nenhum
então ele veio
e cortou a gente ao meio
como se não tivéssemos carga emocional
por mais paradoxal
que pudéssemos soar
nos lábios das outras pessoas
mas você soava tão certo em meus lábios
guardado dentro de mim
não estava pronto pra sair tão cedo assim
em forma de melancolia
de prosa, de poesia
ai amor como eu queria
que o tempo nos desse mais uma chance
você consegue imaginar como seria
se eu tivesse ido direto ao ponto sobre os meus sentimentos
se tivéssemos nos afogado em nós mesmos naquela água
em que o seu olhar me rasgou por inteira
como eu queria
que o tempo me perdoasse
por tratá-lo como fútil
mas ele parece não ter perdão
para quem ousa brincar de desinteressado
quando tudo aquilo que precisávamos já estava preparado
para ser vivenciado
tão palpável à nós dois quanto a sua mão na minha
tocando em mim sua sinfonia
acariciando cada pedaço de pele permitido
eu amava aquela sensação
parecia que você conseguia ir de encontro a todos os cantos do meu corpo
com aquele simples gesto vai e vem
você transitava pelas artérias, pelo cérebro
chegava até na planta dos meus pés
tão tímido e ao mesmo tempo destemido
pedindo para ser só meu
querendo fazer sentido
junto comigo
sem nem imaginar que um dia
nossa história seria
resumida e reduzida
à duas pequeninas palavras
e se...?

sentinela (ou poesia que me mantém acordada)Onde histórias criam vida. Descubra agora