Lar, doce, inferno

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Seguiam como os últimos naquele ônibus enferrujado, sentados nos últimos bancos. Dipper dormia com um livro em mãos e a boca entre-aberta, enquanto Mabel olhava a janela, eufórica para chegar à Gravity Falls.

— Então, querida, — Disse o motorista velho e rabugento, com um tom de deboche. — Eu quero ir para minha humilde casa o quanto antes, mas caso vocês queiram morar no ônibus é só falar que a gente dá um jeito de esconder vocês aqui, se é que isso é possível. — O velho riu um pouco, baixinho.

— Não, meu caro senhor, não queremos morar nessa tralha, mas não se preocupe, estamos quase chegando ao nosso destino! — Disse Mabel, formalmente, gargalhando em seguida e escutando apenas o velho motorista resmungando ali na frente, se dando como vencedora da pequena discussão.

E no momento que Mabel olhara a janela novamente, para continuar a apreciar a paisagem, viu a pequena placa de boas-vindas de Gravity Falls.

— DIPPER, ACORDA. NÓS CHEGAMOS! — Berrou tão alto que nem mesmo o motorista precisou que ela dissesse mais alguma coisa para pôr o pé no freio.

— Ugh, meu pescoço. — Resmungou Dipper, levando a mão ao mesmo. — Sabe, Mabel, você poderia me chamar sem me ensurdecer, parece uma boa proposta para as próximas? — Perguntou, mesmo não esperando uma resposta.

— Não posso expressar minha felicidade em paz, — Ela disse, formando um biquinho. — Mas que vida triste! — Choramingou enquanto colocava as costas da mão esquerda na testa, e olhava para cima.

— Vem, deixa de show. As emissoras de TV perdem, as atrizes e atores choram. — Disse Dipper, relativamente irritado, se levantando, e passando pelo corredor vazio em direção à porta.

O motorista fez uma reverência exagerada quando os dois tocaram os sapatos no asfalto. Acelerando com tudo, e saindo da visão dos mesmos lentamente.

— Fazia tempo que eu não apreciava essa floresta, esses pinheiros, sentia esse ar fresco. — Mabel disse, com um sorriso alegre estampado no rosto.

— É, eu também senti saudades daqui. — Dipper disse olhando para o alto das árvores. Se sentindo feliz por voltar à cidade que tanto amava (e odiava também). Um leve sorriso cresceu no canto da sua boca, disposto. — Vamos andando, daqui à pouco irá escurecer.

Mabel o fitou por um tempo, feliz. Seu irmão parecia realmente em paz, depois de muito tempo.

[...]

Estavam em meio à floresta, num silêncio confortável, apreciando o som que a floresta produzia, das árvores, arbustos, insetos, das criaturas misteriosas e tudo mais. Coisa que apenas Gravity Falls poderia oferecer.

Dipper estava perplexo, acabara de pensar que esse fora o primeiro dia desde o Estranhaggedon que ele não tinha pesadelos enquanto dormia.

Ele sabia que algo não estava certo.

— Mabel, aconteceu algo estranho durante a viagem. — Dipper confessou.

— Ah, bro-bro, acontece que quando estamos em Gravity Falls tudo é estranho! — Ela disse, animada, sem muito ligar para a preocupação do seu irmão. Estava ansiosa pra voltar à Cabana do Mistério.

— Olha, você precisa me escu... — E fora cortado pelo grito estridente de Mabel.

— MEU DEUS, É A CABANA DO MISTÉRIO, VOCÊ ACREDITA!? — Mabel berrou, apontando histericamente para a casa, como uma criança apontava para algum brinquedo que queria enquanto passava pela frente da vitrine da loja.

Dipper desistiu, poderia falar com ela mais tarde.

— Liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, liberte-me, LIBERTE-ME! — A voz gritava, e Dipper permanecia com um sorriso no rosto, tentando esconder o que ele sabia que não conseguia fazer.

Mil e uma maneirasOnde histórias criam vida. Descubra agora