Nada é o que parece

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De repente, se viu num corredor escuro, as paredes pareciam desgastadas, o piso sujo, lodo, aranhas, tudo tornava aquele imenso corredor cada vez mais estranho.

Como havia parado lá?

O que era aquele lugar?

Eram as duas perguntas que rodeavam a cabeça do alguém.

Alguém este que já estava sumido à muito tempo, aprisionado, esperando dia após dia o seu resgate.

— Alguém... Ainda lembra de mim? — Pensou. — Me mandaram para a morte, aqui? — As perguntas rodeavam sua cabeça, enquanto seguia o corredor.

[...]

Já faziam horas que caminhava por toda aquela extensão, suas pernas doíam, sentia sede, fome, estava fraco, porquê estava fraco? Fora sempre muito poderoso.

Enfim, havia chegado ao final de todo aquele corredor, tendo duas portas de madeira desgastadas ao seu lado, uma pela esquerda, e outra pela direita, pela porta da direita, era possível enxergar luz pelos míseros buracos que na mesma se encontravam. Enquanto na da esquerda, uma luz vermelha, forte, predominava todas as pequenas frestas.

Tentou enxergar pelos buracos, mas não conseguia ver quase nada, apenas conseguiu concluir, que: eram duas salas quadradas, minúsculas, e dentro de todas as duas havia alguma coisa, porquê os grunhidos que viam de dentro das mesmas não era nada agradável. Sem pensar muito, abriu a porta da direita, que rangeu enquanto era aberta. Viu luz do sol, água, comida e no meio da sala, um pergaminho apoiado por um pequeno pilastre, sofisticado, porém empoeirado. Tomou a água, pegou um pão e abriu o pergaminho, pondo-se a ler.

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Mabel Pines não é uma pessoa à quem você deve ceder toda a sua confiança, por mais que goste tanto dela, nada é o que parece.

A realidade é apenas uma ilusão, e o universo, um holograma.

Bill Cipher também não merece sua confiança, ele é hipócrita, traiçoeiro, masoquista, manipulador, sádico e milhares de outros adjetivos terríveis. Ele não ama, ele não tem um pingo de compaixão guardado no seu coração, ele não tem um coração. Pelo menos, é o que todos achavam dele.

E o Dipper... Ah, o Dipper. Ele lembra um ser tão puro, cheio de amor, de bondade. Mas isso é o que você pensa, mortal. As pessoas mudam, e a mudança geralmente vem ligada à uma atitude, um acontecimento, não acha?

Lembre-se, nem tudo é o que parece. Você pode pensar que está lidando com algo normal, algo comum. Você não está lidando com algo normal, com algo comum. Não pense assim, a vida não é um conto de fadas. Eles estão carregados de segredos assustadores.

E quando ele te diz que "está tudo bem" é aí que você deve se preocupar, porquê não está tudo bem, essas palavras de conforto não são verdadeiras, mas Ele achava que eram, afinal, era o calor do momento.

Sabe... Todo mundo mente, mas você já deve saber disso. Dipper, Mabel, Bill, Pacífica... Todos eles mentem, guardam segredos, segredos obscuros, um looping de maldade, eles só não enxergam isso, e os segredos uma hora vem à tona, qual é aquele ditado mesmo? Ah, sim! "Mentira tem perna curta", pois é.

Todos eles carregam um fardo, a diferença é que não é qualquer fardo. Mentiras, decisões, acordos, medos.

Águia, os olhos de águia. Esses são os mesmos que os olhos de Bill, eles veem tudo, e Mabel não sabia disso, por isso ela achava que estava tudo bem, mas não estava.

Matar e matar, isso é a definição do prazer para os Ciphers, amar e amar, isso é a definição do ódio para os mesmos. Até os dias de hoje, pelo menos.

O mundo é envolto num looping eterno, as coisas se destroem, se constroem. Tudo isso é causado por um grupo de pessoas, chamamos de seres-humanos. Eles são terríveis.

Ratos são bixos nojentos, você encontra um... E mata, mas porque? Porquê você não gosta deles, eles são repugnantes para a maioria, mas os mesmos continuam lutando para sobreviver, é o instinto. Mabel lutou para viver, ainda luta para continuar ali, mas quando você luta por muito tempo e não consegue resultados você desiste, não desiste? A garota está pensando nessa ideia, parece um sorvete gigantesco, um presente desejado por anos, um prazer imenso deixar com que aquela luta eterna tome um fim, para ela já não há mais esperança de uma vitória, e por mais que ela consiga uma vitória, o próximo round lhe espera, e aí ela já não tem mais certeza do que pode acontecer. Um mísero segundo de tempo, não é o suficiente para ela avisar a Dipper que existe algo de errado dentro dela à tanto tempo, desde aquele acidente.

Trabalho... O trabalho é cansativo, assim como a luta de Mabel Pines, para nós existe aquela hora onde você pode parar, mas na luta de Mabel essa pausa não existe, quando nós morremos paramos de trabalhar de vez, quando estamos de férias paramos de trabalhar por um tempo um pouco maior do quê o normal, quando estamos no final de semama paramos de trabalhar por uns dois dias, quando terminamos o turno do nosso trabalho, paramos, para continuar apenas no próximo dia. Em feriados, datas comemorativas também paramos. Mas na luta da estrela cadente férias, finais de semana, datas comemorativas e morte não estão convidados, a luta não para, é eterna, a luta pela dominância.

Amigo ou inimigo, sangue e suor, palavras ou frases, escolhas, tempo. Tudo está interligado ao desaparecimento de Mabel Pines, por isso...

Não confie em ninguém, nem mesmo em mim.

Assinado, [Rabiscado].

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Se sentiu estranho, o sentimento de um Déjà Vu tomou conta do seu corpo, como se já houvesse lido tudo aquilo diversas e diversas vezes, como se tivesse vivido aquele momento diversas e diversas vezes, como se... Tivesse escrevido tudo aquilo que se encontrava naquele pergaminho.

A porta vermelha foi quebrada com um baque atrás de si, e antes que pudesse se virar, sentiu uma pontada em seu coração, seu corpo inteiro formigar, lodo escorrer pelos seus olhos, boca e nariz. Tentou olhar para trás, e um rosto completamente destruído sorria enquanto o via sofrer, coberto pelo mesmo lodo negro, sua boca enorme ansiava por comida, por cada pedacinho daquele ser.

Sua visão turvou, se sentiu fraco, seus olhos foram se fechando, viu seu coração posto para fora, e uma espécie de mão-lâmina o segurando. Para ele, que se imaginava estar tão fraco, conseguiu pelo menos dez segundos vivo sem o seu próprio coração batendo.

Morreu logo em seguida.

Mil e uma maneirasOnde histórias criam vida. Descubra agora