Amaretto

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Lisa estava tendo um bloqueio criativo. Por mais que escrevesse, nada lhe parecia bom o suficiente para colocar em seu livro. Acabou desistindo e decidiu ir tomar um banho. As duas da manhã se tornaram o seu horário favorito para o fazer ultimamente.

Quando saiu do banheiro, se deparou com a Rosé deitada em sua cama.

— O que está fazendo aí? Pensei que estivesse dormindo.

— Eu estava assistindo umas séries no outro quarto e ouvi o som do chuveiro. Eu sei que quando toma banho de madrugada é porque está se sentido frustrada com alguma coisa.

Lisa riu pelo nariz.

— Ainda lembra disso?

— Eu lembro de mais coisas sobre ti do que sobre mim. – Rosé abanou a cabeça sorrindo e mexendo os cabelos loiros para o lado. – Agora que noto, isso é bem triste.

A mais velha se joga do lado da loira, mesmo estando apenas com um roupão. Elas eram amigas próximas, então não era nenhuma vergonha para as duas.

— Não consigo escrever nada. –Lisa suspirou fechando os olhos.

— Hmm pensei que fosse saudades da empregada. – A loira cutuca o braço de Lisa com o cotovelo.

— O nome dela é Jennie. E eu consigo viver bem sem ela, só passaram cinco dias.

— Lisa-yahh... Foram só dois dias. – Rosé abriu um grande sorriso malandro.

Lisa se levanta rápidamente, pegando numa camiseta que estava em cima da comoda do quarto. A mais nova sabia que ela estava fugindo da situação, para não mostrar seu rosto envergonhado.

— Talvez precise da inspiração romântica que a empregada lhe dá. – Lisa entendeu bem a insinuação da sua amiga.

— Nunca precisei de sentir amor para escrever romances. – Falava enquanto vestia a camiseta. –Agora saia da minha cama com esses pés imundos. 

[...]

Já se havia passado mais de uma semana, e nada de ideias criativas. Nada de ideias e nada de Jennie. Esta havia mandado mensagem falando que ia visitar seu pai durante uma semana, pois ele estava tendo uma crise nervosa devido a sua doença. Já era suposto ele ter regressado, e Lisa se encontrou se sentindo preocupada. 

— Já tentou mandar mensagem perguntando se está tudo bem?

Como ela sempre sabe no que estou pensando? Lisa se perguntava. Nesses momentos, ela não sabia se negava, ou se arranjava uma desculpa. 

— Estava pensando em meu romance, Roseanne.

— Eu sei que tava, por isso que perguntei. – Rosé sempre conseguia levar as coisas para o rumo que ela pretendia.

— Me referia ao livro.

— Porra Lisa, tu escreveu livros incríveis de romance sem nunca ter amado ninguém. Agora que ama não consegue? – Rosé se exaltou tanto que o café que tinha em sua mão balançava dentro da chávena.

Mesmo acreditando não amar Jennie, Lisa pensou naquelas palavras. Fazia sentido mesmo não fazendo sentido algum. Ela sempre escreveu coisas que não sentia. Clichês, ou talvez situações que ela idealizava como sendo reais. Ela não sabia como era, então inventava. Mas agora que sabia, ela não sabia como descrever. Não sabia como colocar suas personagens descrevendo o que ela estava sentindo. Não sabia como fazer suas personagens agir tendo aquele sentimento em seu peito. E talvez fosse esse o problema. Ela não conseguia descrever o que estava dentro de si, porque nem ela compreendia.    

— Sabe do que tá precisando? Bebida.

— Que previsível.

No entanto, era possível que precisasse de um pouco de álcool para escrever. Um dos seus grandes sucessos literários havia sido escrito praticamente todo sobre o efeito da bebida, quando era mais jovem. 

Bom, não tem problema se for apenas uma vez, Lisa pensou ao adentrar num bar.

— Acredita que ainda não saí à noite desde que me mudei pra cá? - A maior gritava no ouvido de Rosé devido ao alto som das colunas.

— Quê?!

— Eu disse... – Lisa eleva ainda mais a voz.

— Eu ouvi. Não tou é acreditando nisso! Lisa, hoje vai ter que ficar bêbada pra compensar.

O plano de Rosé acabou dando certo. Passado 3 horas, ambas tinham bebido tanto que estavam dançando e deixando qualquer pessoa que aparecia na sua frente se esfregar-se.

Entretanto, Lisa viu-se atordoadamente perdida no meio de rostos esbugalhados. Rosé havia desaparecido com dois caras, a deixando sozinha quase vomitando de tanta embriaguez.
Porra, tomare que ela não faça merda com aqueles caras!, Lisa Praguejou.

Ao conseguir sair finalmente do bar, se sentou no passeio, suspirando e tentando controlar sua má disposição. Meio sem consciência do que estava fazendo, pegou em seu celular, abriu o contacto de Jennie e decidiu mandar uma mensagem.

Coffee Addicted - JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora