Coffee Addicted - Jenlisa

Pimenta

Era finalmente Inverno novamente. O vento levava a neve que pincelava toda aquela pequena aldeia coreana. Aquele local parecía tirado de um conto para crianças, onde a familia se juntava toda numa casa de madeira à volta da lareira, enquanto a magia acontecia do outro lado da casa, talvez levada por duendes ou algo do tipo. Pelo menos era nisso em que Jennie pensava, olhando pela janela da sua pequena cafetaria. Naquele momento, e naquela época do ano, Jennie deveria estar se sufocando de trabalho, correndo de um lado para o outro com a quantidade de clientes que procuravam uma caneca de café quente para se protegerem da neve. Ao invés disso, ali estava ela, sentada em uma mesa, apoiando o queixo na sua mão, enquanto pensava em coisas idiotas para livrar a sua mente dos problemas. Porém, Lisa decidiu não deixar a mente da pequena se obstruir.

- Pleno Novembro e nem um cliente. Eu juro que farei o Heechul pagar - A morena tapeava furiosamente os dedos em cima do balcão, fechando os olhos enquanto lhe passavam imagens de homicídio pela mente.

- Você não sabe se foi ele que espalhou o boato, Lisa - As palavras saíram da boca da garota como se ela já estivesse farta de repetir milhares de vezes a mesma coisa. - Não vale a pena ficar nesse estado.

- Eu não sei, mas tenho a certeza! Ele destruiu nossa reputação nesse lugar! - Lisa se senta em frente a Jennie, com as costas da cadeira ao contrário. - Como você pode estar tão calma sobre a situação?

- Eu não estou calma, Lisa. Eu estou conformada. O que podemos nós fazer se não sabemos quem foi?

- Foi o Heechul! - Lisa bateu com o punho na mesa, logo se acalmando para não se mostrar violenta, coisa que ela não queria, já que era o oposto do que costumava ser.

- Sim, eu também acredito que tenha sido ele. Desde que te viu entrando no meu apartamento regularmente... - Jennie suspirou - Um velhaco cusco e homofóbico, é o que ele é - Suspirou novamente - Mas não sabemos se foi ele. Esta aldeia é reservada e fechada, qualquer pessoa pode ter nos visto e espalhado por aí.

Lisa passou as mãos no seu cabelo, puxando as pontas e fitando um lugar qualquer da mesa, com um olhar sem rumo e, ao contrário de Jennie, inconformada.

- Por isso que eu não queria demonstrações de carinho em público, Jennie...

Jennie voltou a fitar a janela, não olhando para nada em específico, apenas pensando em como a sua teimosia a havia prejudicado novamente, e tentando arranjar uma forma de pedir desculpas, sim, porque ela sabia que a culpa era dela, mas o orgulho enrolava as palavras em um bolo na sua garganta e ela não conseguia se desculpar.

- A única coisa que podemos fazer agora é tentar trazer os clientes de volta - Disse então a morena, quebrando novamente os pensamentos de Jennie.

- Como? As pessoas não querem ser servidos por "sapatonas", vai que a doença está no café e eles se contaminam. - Jennie disse fazendo aspas com os dedos.

- Se o café for incrível o suficiente para os fazer esquecer... - Lisa sorria satisfeita para Jennie, que ainda tentava entender o que a mais velha planejava fazer. 

- Nós já melhorámos a receita antes, o que podemos fazer dessa vez?

[...]

Já era quase meia-noite e Jennie ainda estava na cafetaria, fazendo as contas mensais e pensando em como a ideia de Lisa a aterrorizava. Colocar pimenta no café não lhe parecia a melhor das ideias, muito menos especiarias ou qualquer outra coisa apimentada. Mas a verdade era que os clientes estavam começando a aparecer novamente e, bom, Lisa era tudo menos inexperiente em café.

Quando saiu da cafetaria lembrou-se que a rua por onde costumava ir era demasiado estreita e provavelmente deveria estar atolada de neve. Desceu novamente a rua e fez um novo caminho, que por coincidência, passava pelo prédio de Lisa. Pensou em fazer uma visitinha, talvez a tailandesa ainda estivesse a pé, mas ela estava tão cansada que rapidamente descartou a ideia.

Ao virar a esquina, ouviu umas vozes familiares. Estava nevando incessantemente, o que dificultava a visão de Jennie, que apenas conseguiu ver duas silhuetas femininas no fundo da rua, em frente ao prédio que Jennie estava pensando há ir segundos atrás.

Os seus passos começaram a ficar lentos, à medida que a tempestade lhe permitia ouvir a conversa, até parar de andar por completa.

A pequena só desejava nunca ter ouvido aquilo.

----

Lá vem a merda, gatilho, tiro do mal, como vocês quiserem chamar.